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LUÍS NASSIF
Esquizofrenia política
É um governo esquizofrênico. Tinha-se no Banco Central
um presidente nomeado pelo
próprio presidente da República (Francisco Lopes), que não
se dava com seu superior imediato (o ministro da Fazenda,
Pedro Malan). Como se tinha
em 1985 um diretor da Área
Internacional do BC (Gustavo
Franco) que não foi indicado
nem se dava com o presidente
do banco (Pérsio Arida).
Agora esse academicismo se
impõe novamente nessa disputa egocêntrica em torno dos
"desenvolvimentistas" e dos
"monetaristas".
Fosse em uma comunidade
madura e racional, não haveria nenhum conflito entre um
presidente do BC monetarista
e um ministro da Produção,
digamos, desenvolvimentista.
Pelo contrário. Não existe time
de futebol só com ataques ou
só com zagueiros.
Em boas companhias, financeiros e vendedores têm sensibilidade para o resultado final. O financeiro jamais há de
cortar tanto que comprometa
as vendas, nem o homem de
marketing anunciar tanto que
arrebente com os custos. Há
normas de bom senso, regras
gerais de atuação e o presidente da companhia para resolver
os impasses eventuais.
Mal seria para o país se houvesse um presidente do BC que
não fosse monetarista e um
ministro da Produção que não
fosse desenvolvimentista.
No governo FHC, no entanto, essas diferenças não são
harmonizadas e cada qual
corre por si. Os "desenvolvimentistas" utilizaram a bandeira para tentar botar para
escanteio o ministro Pedro
Malan. Por sua vez, Malan e
Armínio Fraga transformam a
discussão contra o desenvolvimento em slogans primários,
para fulminar seus adversários. E o presidente não é de
entrar em dividida. No fundo,
não parecem interessados nas
consequências para o governo
ao qual servem, mas apenas
em preservar seu espaço político -para quê, não se sabe.
Para o governo como um todo, é questão de sobrevivência
econômica ter uma política
monetária e fiscal responsável
e de sobrevivência política ter
uma agenda positiva.
Não se trata de praticar políticas monetárias irresponsáveis nem de criar incentivos
fiscais a torto e a direito, mas
de saber identificar os principais eixos de desenvolvimento,
organizar as forças envolvidas
com ele, preparar institucionalmente o país para combater nos grandes fóruns de comércio mundial, articular os
sistemas de financiamento e
investimento público, complementando os sistemas privados. E, principalmente, de devolver a esperança no futuro,
por meio de um discurso sistematizado de busca do crescimento.
Sem isso, vai entregar o país
de bandeja para a oposição
nas próximas eleições. Nada
contra, não fosse o fato de ainda ter três anos e meio de desesperança pela frente.
Banco Central
Apesar do primarismo de
suas colocações sobre "desenvolvimentismo" -que devem
ser debitadas mais a jogada de
ordem política do que a convicções pessoais-, a presença
de Armínio Fraga no BC mostra que o mundo não se divide
entre monetaristas e desenvolvimentistas, mas entre competentes e voluntaristas.
Sua visão global sobre o papel do BC, a preocupação com
a redução dos juros, a coragem
de avançar nos limites da redução, a intenção de reduzir a
armadilha dos compulsórios
bancários e revascularizar o
sistema de crédito e, principalmente, a maneira competente
com que está conduzindo a
operação criam um alento e ao
mesmo tempo trazem um sentimento de perda. O alento, de
saber-se finalmente o BC em
mãos profissionais. O desalento, de avaliar-se o que se perdeu nos últimos anos, pela falta de uma gestão profissional.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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