São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
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LUÍS NASSIF

Esquizofrenia política

É um governo esquizofrênico. Tinha-se no Banco Central um presidente nomeado pelo próprio presidente da República (Francisco Lopes), que não se dava com seu superior imediato (o ministro da Fazenda, Pedro Malan). Como se tinha em 1985 um diretor da Área Internacional do BC (Gustavo Franco) que não foi indicado nem se dava com o presidente do banco (Pérsio Arida).
Agora esse academicismo se impõe novamente nessa disputa egocêntrica em torno dos "desenvolvimentistas" e dos "monetaristas".
Fosse em uma comunidade madura e racional, não haveria nenhum conflito entre um presidente do BC monetarista e um ministro da Produção, digamos, desenvolvimentista. Pelo contrário. Não existe time de futebol só com ataques ou só com zagueiros.
Em boas companhias, financeiros e vendedores têm sensibilidade para o resultado final. O financeiro jamais há de cortar tanto que comprometa as vendas, nem o homem de marketing anunciar tanto que arrebente com os custos. Há normas de bom senso, regras gerais de atuação e o presidente da companhia para resolver os impasses eventuais.
Mal seria para o país se houvesse um presidente do BC que não fosse monetarista e um ministro da Produção que não fosse desenvolvimentista.
No governo FHC, no entanto, essas diferenças não são harmonizadas e cada qual corre por si. Os "desenvolvimentistas" utilizaram a bandeira para tentar botar para escanteio o ministro Pedro Malan. Por sua vez, Malan e Armínio Fraga transformam a discussão contra o desenvolvimento em slogans primários, para fulminar seus adversários. E o presidente não é de entrar em dividida. No fundo, não parecem interessados nas consequências para o governo ao qual servem, mas apenas em preservar seu espaço político -para quê, não se sabe.
Para o governo como um todo, é questão de sobrevivência econômica ter uma política monetária e fiscal responsável e de sobrevivência política ter uma agenda positiva.
Não se trata de praticar políticas monetárias irresponsáveis nem de criar incentivos fiscais a torto e a direito, mas de saber identificar os principais eixos de desenvolvimento, organizar as forças envolvidas com ele, preparar institucionalmente o país para combater nos grandes fóruns de comércio mundial, articular os sistemas de financiamento e investimento público, complementando os sistemas privados. E, principalmente, de devolver a esperança no futuro, por meio de um discurso sistematizado de busca do crescimento.
Sem isso, vai entregar o país de bandeja para a oposição nas próximas eleições. Nada contra, não fosse o fato de ainda ter três anos e meio de desesperança pela frente.

Banco Central
Apesar do primarismo de suas colocações sobre "desenvolvimentismo" -que devem ser debitadas mais a jogada de ordem política do que a convicções pessoais-, a presença de Armínio Fraga no BC mostra que o mundo não se divide entre monetaristas e desenvolvimentistas, mas entre competentes e voluntaristas.
Sua visão global sobre o papel do BC, a preocupação com a redução dos juros, a coragem de avançar nos limites da redução, a intenção de reduzir a armadilha dos compulsórios bancários e revascularizar o sistema de crédito e, principalmente, a maneira competente com que está conduzindo a operação criam um alento e ao mesmo tempo trazem um sentimento de perda. O alento, de saber-se finalmente o BC em mãos profissionais. O desalento, de avaliar-se o que se perdeu nos últimos anos, pela falta de uma gestão profissional.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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