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VIZINHO EM CRISE
País aproveitará a reunião do FMI e do Banco Mundial, em Dubai, para apresentar proposta a credores
Argentina renegociará dívida em setembro
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
A Argentina já marcou a data
para dar início à reestruturação
de sua dívida que está em "default" (moratória) desde janeiro
de 2002. O plano de renegociação
será lançado no dia 23 de setembro, durante o encontro anual do
FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, em
Dubai (Emirados Árabes Unidos), segundo o secretário de Finanças, Guillermo Nielsen.
A proposta foi apresentada por
Nielsen a credores europeus e
prevê a reestruturação de uma dívida de aproximadamente US$ 70
bilhões em títulos que estão em
moratória e nas mãos de credores
privados. Estima-se que existam
para serem renegociados mais de
150 tipos de bônus emitidos em
diferentes moedas. A intenção é
pagar entre 60% e 70% do valor
total da dívida -que inclui o valor nominal e a parcela dos juros
que estão em atraso.
Dentro desse pacote, a Argentina ofereceria diversos tipos de papéis, entre eles títulos que estariam atrelados ao percentual de
crescimento da economia. No
primeiro trimestre deste ano, o
PIB argentino cresceu 5,2% e a expectativa do mercado é que a expansão seja da ordem de 4% em
2003.
A intenção de indexar a remuneração dos papéis ao PIB (Produto Interno Bruto) já havia sido
anunciada pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna. Segundo ele, esse mecanismo ajudará a
dar maior credibilidade à emissão
e respeitar a vontade do presidente Néstor Kirchner, que, em seu
discurso de posse, afirmou que "o
pagamento da dívida não poderia
ser feito à custa de mais sacrifícios
para a população".
Redução maior
O cronograma apresentado por
Nielsen antecipa a proposta de
Lavagna. A idéia era iniciar as negociações em setembro e organizar a reestruturação para acontecer até dezembro.
Com a indexação de parte dos
títulos à expansão da economia, o
governo argentino pretende fazer
com que os credores aceitem negociar uma maior redução do valor de face dos papéis e, assim, diminuir o seu peso no cômputo geral da dívida argentina, estimada
em cerca de US$ 145 bilhões.
Um estudo do Deutsche Bank
estima que o pagamento de até
57% do valor de face dos papéis
seria uma meta "sustentável". No
entanto um analista do Dresdner
Bank Lateinamerika, em entrevista ao jornal "La Nación", disse
que a proposta de quitar entre
60% e 70% dos papéis é "ilusória".
Confiança
O economista Eduardo Rodriguez, da Fundação Capital, afirma
que a taxa de 60% é possível, mas
que a renegociação só terá condições de acontecer se o governo
conseguir reconquistar a confiança dos credores.
Para isso, disse Rodriguez, há
dois pontos fundamentais: o
cumprimento da meta de superávit primário e o andamento de reformas estruturais, como a tributária.
"A meta de superávit já está praticamente cumprida e as recentes
propostas para combater a evasão
fiscal são um passo positivo", afirmou. O governo argentino se
comprometeu com o FMI a obter
superávit de 2,5% do PIB neste
ano.
Até agora, segundo Rodriguez,
o superávit já alcançou 2,1% no
acumulado dos últimos 12 meses.
"Atrelar parte dos bônus ao crescimento do PIB também é positivo pois há boas expectativas para
a expansão da economia."
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