São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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NEGÓCIOS

Wal-Mart negocia compras de lojas da rede BIG no Brasil; Carrefour oferece pontos de venda ao rival Pão de Açúcar

Concentração de supermercados pode crescer

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes da rede Wal-Mart nos Estados Unidos estiveram na última semana em visita às lojas da rede BIG no Brasil - pertencente ao grupo português Sonae. Outra grande rede de supermercados, o Carrefour, quer se desfazer de certas lojas e vendê-las. Os pontos foram oferecidos ao rival Pão de Açúcar.
Novas mudanças, que envolvem as maiores empresas no varejo de supermercados, dão sinais de que podem ocorrer logo. A concentração do setor, que já é alvo de críticas pesadas da indústria, pode aumentar ainda mais.
A negociação entre o Wal-Mart e o BIG está focada nas lojas da empresa em São Paulo, que se tornaram um problema para a rede portuguesa pelos resultados de vendas tímidos.
Em relação ao Carrefour, a situação é ligeiramente parecida. Há pontos de venda da bandeira Champion, pertencentes à cadeia francesa, que não estão alcançando o resultado esperado.
Isso tem ocorrido na cidade do Rio de Janeiro. A hipótese de se desfazer dessas unidades é o caminho discutido hoje pelos executivos da rede.

Novos passos
A mudança no controle do BIG tem maiores chances de acontecer do que a venda do Champion ao concorrente. O grupo Pão de Açúcar não mostrou interesse pelos pontos da bandeira do Carrefour e sinalizou isso, de forma preliminar, à rede francesa. O Champion tem 22 lojas no Estado do Rio de Janeiro.
Os novos movimentos escondem reestruturações nas empresas -que acontecem sem estardalhaço.
O Sonae quer se desfazer do BIG em São Paulo para centrar o foco em suas operações na região Sul, com as redes Nacional e Mercadorama. Já fechou, inclusive, todas as suas lojas da bandeira Cândia na capital paulista. A última foi fechada há duas semanas, na zona norte de São Paulo. A companhia não comenta a informação e nega que queira sair da praça paulista.
O grupo Sonae admite em seus últimos dois balanços financeiros que "o ambiente macroeconômico no Brasil é adverso".
Afirma que "o cenário de degradação do rendimento disponível das famílias e das altas taxas de juros e do desemprego" forçaram as redes a abrirem poucas lojas em 2003. E diz que "diversos processos de consolidação [no Brasil] implicarão no reforço da importância relativa do conjunto das cinco maiores empresas".
No primeiro trimestre, a empresa vendeu R$ 961 milhões no país, uma alta de 9% em comparação aos primeiros três meses do ano passado. Desse aumento, quatro pontos percentuais referem-se a um aumento de carga tributária.
"Localizada em pontos estratégicos, a rede BIG é uma boa opção para o Wal-Mart e uma das últimas redes de grande porte disponíveis em São Paulo para a venda", diz Eugenio Foganholo, diretor da Mixxer Consultoria.
Procurada pela Folha, a direção da rede portuguesa em Lisboa não se manifestou até o fechamento desta edição. O Wal-Mart informa que não comenta rumores sobre aquisições.
Em recente entrevista à Folha, John Menzer, o presidente do Wal-Mart para a área internacional, afirmou que a rede está de olho em novas compras no Brasil. Dados de março mostram que a companhia tem US$ 15,9 bilhões em caixa para gastar como quiser: pode pagar dividendos ou gastar em investimentos no mundo.

Na mão de poucos
No caso do Carrefour, as mudanças que podem ocorrer são parte das ações da nova diretoria, que entrou em campo em fevereiro. Ajustes estão sendo feitos internamente e isso inclui fechamento de lojas não-rentáveis, apurou a Folha.
A companhia não comenta oficialmente as informações a respeito da venda de lojas no Rio.
As redes regionais cariocas, como a Zona Sul e Guanabara, disputam o mercado e também existe um esforço por parte do Pão de Açúcar de crescer na capital carioca, após a formalização de uma parceria com a rede Sendas.
Negócios envolvendo grandes cadeias do setor tendem a aumentar a atual concentração do mesmo. Cerca de 40% das vendas em supermercados ocorrem nas cinco maiores cadeias do setor -Pão de Açúcar, Carrefour, Wal-Mart, Sonae e Zaffari.
A indústria começa a reagir de forma organizada a essa concentração e já se pronunciou publicamente contra esse movimento neste ano, na voz da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Na ocasião, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) questionou os dados apresentados pela federação das indústrias.
Quanto menos lojas existentes, maior o poder de barganha do varejo na hora de negociar preços e volume com fornecedores.


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