São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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MOTOR ASIÁTICO

Delta do rio Yangtze atrai 34% dos investimentos estrangeiros no país e produz um terço das exportações

Região de Xangai lidera expansão chinesa

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL AO DELTA DO YANGTZE

Se a China é a fábrica do mundo, sua linha de produção mais nobre está montada no delta do rio Yangtze, região que atraiu no ano passado 34% do investimento estrangeiro direto destinado ao país, contribui com quase um quinto do PIB e produziu um terço das exportações.
Liderada pela cidade de Xangai, o delta apresenta os maiores índices de expansão econômica da China e um PIB (Produto Interno Bruto) per capita de US$ 3.000, o triplo da média do país.
Só em 2003, as 15 cidades que integram a região receberam US$ 18,4 bilhões em investimentos estrangeiros diretos, o dobro do que foi destinado ao Brasil.
O ritmo de crescimento é vertiginoso: enquanto o PIB chinês cresceu 9,1% em 2003, o de Xangai deu um salto de 11,8%. O índice foi ainda maior nas duas outras Províncias que integram o delta, Jiangsu e Zhejiang, que cresceram 18% e 15,4%, respectivamente.
O volume do comércio internacional só perde para o do delta do rio das Pérolas, no Cantão, Província do sul da China que foi a primeira a se abrir ao capital estrangeiro, há 26 anos.
No ano passado, a região do Yangtze exportou US$ 92,4 bilhões, o equivalente a quase 30% das vendas externas chinesas e US$ 19,4 bilhões a mais que as exportações brasileiras. No delta do rio das Pérolas, a participação nas exportações foi de 34%
Mas a tendência é que a área liderada por Xangai se transforme também no principal pólo do comércio exterior do país. Entre janeiro e março, as exportações da região cresceram 56,1% e representaram 34,7% do total.
Seguindo o caminho das grandes multinacionais, é nessa área que a maior parte das empresas brasileiras que vão para a China prefere se instalar. Neste ano, quatro novas companhias do Brasil abriram ou abrirão suas portas em Xangai: Banco do Brasil, BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), Banco Santos e M. Cassab. Elas vão se juntar a outras que já estão na região, como a Vale do Rio Doce.
A indústria e o setor de serviços são a base da economia do delta. Há cerca de 100 parques industriais em Xangai e na parcela das Províncias de Jiangsu e Zhejiang que integram o delta.
O segredo do desenvolvimento da região é o rio Yangtze, em que trafegam milhares de navios de carga por dia. No Huangpu, o afluente do Yangtze que banha Xangai, está o maior porto do país. A possibilidade de utilização de transporte marítimo é crucial para a competitividade das empresas da região. A maior siderúrgica da China, a Baosteel, tem quatro portos particulares em sua fábrica de Xangai, onde descarrega matéria-prima e carrega navios com produto final.
A Shagang, maior siderúrgica da China de capital privado, também tem seu próprio porto no rio Yangtze, com cerca de seis quilômetros de extensão. Nesses portos é descarregado o minério de ferro que as duas empresas importam do Brasil, por meio da Vale do Rio Doce.
"Nós usamos o rio para o transporte de toda a matéria-prima que precisamos. É muito mais barato, eficiente e permite uma escala bem maior que a de outros tipos de transporte", afirma Clement Ko, consultor da Shagang.
Durante este ano, a empresa vai produzir 8 milhões de toneladas de aço, quase um terço de toda a produção brasileira.
A Shagang vai comprar 1 milhão de toneladas de minério de ferro da Vale do Rio Doce em 2004, o que representa 12,5% de suas necessidades de matéria-prima. Mas, se o Brasil tivesse condições de fornecer mais, o volume de compra seria maior. "O minério de ferro brasileiro é de muito boa qualidade. A Austrália é nosso maior fornecedor, mas talvez no futuro esse lugar seja ocupado pelo Brasil", afirma Shen Wen Ming, 54, vice-presidente e fundador da Shagang.
O problema é que as mineradoras brasileiras não têm produção suficiente para atender à crescente demanda chinesa. Segundo Ko, só haverá aumento de produção expressivo em 2007, quando os projetos atuais de expansão estiverem concluídos.
O grupo estatal Baosteel, que produz 20 milhões de toneladas ao ano, é o principal cliente da Vale na China. A maior parte de sua produção, 11,5 milhões de toneladas, vem da subsidiária Baoshan Iron & Steel, localizada às margens do rio Yangtze.
A fábrica ocupa uma área de 19 km 2, onde trabalham 16 mil empregados. Em seus quatro portos, a empresa faz embarque e desembarque de matérias-primas, produtos químicos e bens acabados.
Além do aço, os setores que têm peso no parque industrial do delta são automobilístico, construção naval, petroquímico, telecomunicações, equipamentos de geração de energia e eletrodomésticos.
Para o governo e analistas, está claro que a região é o centro do milagre econômico chinês. "Dada a centralização dos investimentos estrangeiros na região, o delta do Yangzte será o principal motor do desenvolvimento econômico e social do nosso país", diz estudo da Academia Chinesa de Ciências Sociais.


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