São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2005

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OPERAÇÃO CEVADA

Grupo alega que as fábricas enfrentam problemas para comprar matérias-primas, produzir e distribuir

Com diretoria presa, Schincariol pode parar

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Schincariol pode interromper nesta semana as atividades de suas sete fábricas, que têm capacidade para produzir anualmente 3 bilhões de litros de cerveja, refrigerantes e água mineral.
Com a prisão de donos e diretores na última quarta-feira, as fábricas enfrentam problemas para comprar matérias-primas, produzir e distribuir seus produtos.
Uma megaoperação da Polícia e da Receita Federal prendeu os dirigentes do grupo Schincariol por suspeita de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos (algo próximo a R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos), evasão de divisas e corrupção de funcionários públicos.
Os advogados da companhia, que detém cerca de 13% do mercado brasileiro de cervejas, informam que até ontem ainda não tinham tido acesso aos documentos que levaram os 70 dirigentes da empresa à prisão.
Hoje, os advogados do grupo devem ir ao Rio de Janeiro, para onde foram levados os documentos que solicitam a abertura de inquérito policial, para tratar da defesa e soltura dos funcionários.
Na última quinta-feira, o grupo Schincariol tirou das emissoras de televisão a campanha publicitária da Nova Schin, denominada "Enrolation", e voltou a veicular a campanha "Neurônios", lançada no final de abril.
Com faturamento anual de R$ 2,5 bilhões, o grupo Schincariol, com sede em Itu (interior de SP), gera 7.000 empregos diretos em suas fábricas e 25 mil indiretos.

Nota de esclarecimento
O grupo Schincariol divulgou nota de esclarecimento ao público, publicada hoje em vários jornais, afirmando que apesar de a prisão de seus dirigentes ter sido feita sob o argumento de suspeita de sonegação tributária, "a empresa nem sequer foi atuada pelo fisco".
Por não ter sido autuada, a empresa afirma que desconhece "por completo quais as infrações fiscais/tributárias eventualmente imputadas".
Sem mencionar nomes, a nota diz que "outras empresas, inclusive do mesmo ramo de atividade, sofreram recentemente graves autuações fiscais sem que, no entanto, houvessem provocado repercussão no campo penal".
Segundo a nota, a empresa tornou-se a segunda produtora de cerveja do país, com sete fábricas em atividade, e que as obrigações trabalhistas e fiscais do grupo são cumpridas no vencimento. A nota diz que, em 2004, o grupo pagou R$ 1,2 bilhão em tributos e, neste ano, R$ 700 milhões.
Em entrevista à Folha há três semanas, Gustavo Almeida Dias de Souza, gerente jurídico tributário do grupo -que está preso-, afirmou que a empresa está com as contas em dia com o fisco.
Segundo ele, a companhia sente-se prejudicada em relação à principal concorrente, a AmBev, devido à lei nš 7.798/89, que estabelece a cobrança do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre o volume de vendas.
Essa lei alterou a forma de cobrança do imposto sobre o setor de bebidas, que passou a ser um valor fixo, por tipo e volume de produto. Por vender produtos de menor valor, a empresa acaba, proporcionalmente, pagando mais imposto por unidade vendida, segundo Dias de Souza.
Os concorrentes e a Receita Federal argumentam que essa forma de cobrança evita a sonegação fiscal no setor de bebidas. Segundo a Receita, a sonegação no setor foi de R$ 655 milhões em 2004.

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