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TRABALHO
Pesquisa com 231 empresas mostra ainda aumento na terceirização
Negro e mulher são minoria na chefia
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Do discurso à prática, ainda há
muito a ser feito pelas empresas
que se dizem socialmente responsáveis. Essa é a conclusão de uma
pesquisa feita pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas). O estudo mostra
que, entre 2000 e 2002, o percentual de empregados negros e pardos aumentou de 8,5% para
13,7%, enquanto o de mulheres
passou de 28% para 30,1%.
No entanto, negros, pardos e
mulheres ainda são minoria em
cargos de chefia. São apenas 4,3%
de negros e pardos e 16,4% de
mulheres nesses postos.
A comparação foi feita analisando 561 balanços sociais publicados por 231 empresas nesse período. A maioria das empresas é de
grande e médio porte.
Além de detectar que ainda é
preciso incentivar a ascensão de
negros e mulheres aos postos de
chefia, a pesquisa mostrou que
aumentou o percentual de empregados terceirizados nessas
empresas, de 29,7% para 40,4%.
Para os coordenadores da pesquisa, o aumento da terceirização
teve relação com outro fato: a taxa
de acidentes de trabalho aumentou de 21 por 1.000 empregados
para 30 por 1.000.
Desde 1997, o Ibase vem incentivando empresas a publicarem
balanços sociais como forma de
prestar contas das ações realizadas nessa área da mesma maneira
que elas fazem com seus balanços
financeiros e patrimônios. A
comparação do estudo atual começa apenas em 2000 porque a
base de dados dos anos anteriores
é muito pequena para permitir a
comparação.
"Essas empresas [que participaram da pesquisa] são as mais
transparentes na hora de divulgar
sua atuação social. Queremos
mostrar, no entanto, que é preciso
algo mais do que transparência. A
responsabilidade social começa
internamente", afirma João Sucupira, coordenador de Responsabilidade Social e Ética nas Organizações do Ibase.
Para Sucupira, a pequena porcentagem de negros e pardos em
postos de chefia mostra que ainda
há uma resistência grande das
empresas na hora de escolher pessoas desse grupo para ocupar cargos de comando.
Sobre o aumento da proporção
de negros e pardos entre os funcionários, dado que ele considerou positivo, o coordenador da
pesquisa diz que ele ainda precisa
ser mais investigado: "Pode estar
contribuindo para esse aumento
o fato de as empresas estarem
apurando de maneira mais correta a presença de negros e pardos
entre seus funcionários".
O aumento do número de acidentes e da proporção de empregados terceirizados indica, na opinião de Sucupira, uma tendência
preocupante nessas empresas.
"Muitas vezes, as empresas optam pela terceirização apenas para reduzir custos. O trabalhador
passa, então, a trabalhar para uma
empresa menor, que pode atuar
sem as condições de segurança
necessárias. Essa precarização do
emprego pode levar ao aumento
dos acidentes de trabalho", diz.
O presidente do Ceap (Centro
de Articulação de Populações
Marginalizadas), Ivanir dos Santos, concorda com os resultados
da pesquisa. O Ceap lançou, em
2003, uma campanha para reconhecer o trabalho de empresas
que estimulem a diversidade racial no trabalho -as mais eficientes ganharão um selo. O resultado
deve ficar pronto até o fim do ano.
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