|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIZINHOS EM CRISE
Governo publica resolução sobre produtos da Zona Franca de Manaus; indústria brasileira tentará mudar decisão
Argentina confirma restrição a televisores
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo argentino publicou,
no "Diário Oficial" do país, a medida que impõe tarifa de importação de 21,5% às TVs provenientes
da Zona Franca de Manaus, conforme havia sido anunciado pelo
ministro da Economia, Roberto
Lavagna, há duas semanas.
A Resolução 463 vai valer até janeiro do ano que vem. A indústria
brasileira vai tentar reverter a decisão. A medida atende ao pedido
da Associação de Fabricantes Argentinos de Terminais de Eletrônicas, que afirma que o aumento
das importações do produto está
prejudicando a indústria nacional
de televisores. Em 2003, o Brasil
vendeu 9.152 aparelhos. Neste
ano até maio, o país embarcou
8.358 TVs ao mercado vizinho.
A salvaguarda (instrumento
que permite aumento de imposto
quando há prejuízo à indústria local) vai vigiar enquanto a Secretaria de Indústria argentina conclui
estudo para avaliar se, de fato, o
aumento das vendas constitui
ameaça à industrias nacional.
Em teoria, desde 1995, quando
foi criada a união aduaneira do
Mercosul, salvaguardas não podem ser adotadas entre os quatro
sócios (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). Mas o governo
argentino alega que os produtos
provenientes de zonas francas são
exceção, já que não pagam impostos no país de origem.
O secretário-geral do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior do Brasil,
Márcio Fortes, disse que o Brasil
fará consultas para averiguar se as
salvaguardas estão de acordo com
as regras da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
A adoção da tarifa é uma das
duas ações anunciadas por Lavagna recentemente para atender aos
pedidos de proteção da indústria
local, que alega prejuízos pelo aumento das exportações brasileiras. No caso das máquinas de lavar roupa, outro produto que virou foco de disputa comercial entre os países, a Eletros (Associação Nacional de fabricantes de
Produtos Eletroeletrônicos) informou ontem que não foi aceita a
proposta argentina. Até as 18h30
de ontem os fabricantes brasileiros não haviam chegado a um
consenso sobre a questão.
Pela proposta argentina, seriam
impostas cotas de exportação de
50 mil lavadoras até dezembro de
2004. Com isso, o Brasil teria 35%
do mercado argentino. Porém, os
negociadores brasileiros querem
que essa fatia seja de 46%. As exportações do Brasil para a Argentina aumentaram 176% neste ano.
Maria Tereza Bustamante, diretora da Eletros, comprometeu-se
a apresentar uma resposta aos argentinos até ontem -não havia
feito até o fechamento desta edição. Caso a indústria de máquina
de lavar roupas não chegue a um
entendimento nesta semana, as licenças prévias para importação
serão aplicadas a esses produtos.
Ontem, em nota oficial, a Eletros pediu que o governo adote
ações políticas necessárias para
resolver o caso e afirmou que sem
uma política industrial e investimentos no setor, "esses acordos
distorcem o foco da verdadeira
discussão [...] e colocam na mão
do setor empresarial uma solução
que não lhe compete".
Depois de nove anos com superávit comercial com o Brasil, a Argentina acumula déficit de US$
1,015 bilhão nos últimos 13 meses.
O saldo negativo já causou reclamações de vários setores como
carne de porco, têxteis e calçados.
O setor de calçados chegou a
um acordo voluntário, mas os governos tiveram que interceder para as negociações de eletrodomésticos. O Brasil cedeu às pressões
da Argentina, que ameaçou impor licenças prévias para as importações de eletrodomésticos, e
definiu cotas para as vendas de fogões e refrigeradores. Ontem Lavagna disse que considerou os
acordos selados "adequados". Ele
confirmou que virá ao Brasil para
discutir medidas estratégicas,
mas a data ainda não foi marcada.
Texto Anterior: Para Palocci, carga tributária não sobe Próximo Texto: Riso ibero-americano Índice
|