|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
XADREZ COMERCIAL
Negociadores aceitam, de forma condicional, esboço para liberalização do comércio no âmbito da OMC
Brasil e UE aprovam texto para Rodada Doha
DO ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
Brasil e União Européia, dois
dos cinco principais atores das
negociações comerciais globais,
deram ontem aprovação, ainda
que condicional, ao texto apresentado na semana passada pela
OMC (Organização Mundial do
Comércio) para definir a "moldura" do que será, se tudo der certo,
o quadro resultante da Rodada
Doha, a mais recente ronda de liberalização comercial, lançada
em 2001 e estancada desde então.
"Tudo somado, é um esboço
com o qual podemos e iremos trabalhar em Genebra nos próximos
dias", disse ontem Arancha González, a porta-voz para Comércio
do conglomerado europeu.
Na mesma linha, afirma o chanceler brasileiro Celso Amorim:
"Dá para trabalhar e buscar o entendimento, embora o tempo seja
curto". Bem curto, aliás: a OMC se
autofixou um prazo até o dia 31
deste mês para estabelecer uma
moldura para as negociações, que
já está imensamente atrasada. O
prazo original dado em 2001 para
fechar as modalidades da negociação na área agrícola, por exemplo (agora rebatizadas para "moldura") era fevereiro de 2003.
Esse atraso e a impossibilidade
de superá-lo provocaram o colapso da Conferência Ministerial de
Cancún, em 2003, e puseram em
sério risco a hipótese de cumprir
o cronograma de Doha, que prevê
fechar a Rodada no início de 2005.
O que anima a diplomacia brasileira é o fato de que há uma
imensa diferença entre o texto
que chegou a Cancún, "inemendável", no neologismo ouvido pela Folha no Itamaraty, e o novo
documento, "trabalhável".
Tanto a aprovação européia como a brasileira ao esboço está
condicionada a "precisões e esclarecimentos", como diz Arancha
González. Em alguns pontos, os
esclarecimentos cobrem áreas de
interesse do Brasil. Exemplo: a UE
quer que fique claro que o corte
nas ajudas às exportações agrícolas, proposto no texto, embora
ainda sem data, valha também
para os mecanismos americanos
de créditos à exportação, na verdade subsídios disfarçados.
"É importante que fique claro
esse aspecto agora, porque a Lei
Agrícola [dos EUA] vence em
2006, e não pode se repetir o que
aconteceu na rodada anterior, em
que os subsídios foram aumentados", diz González.
O Brasil coincide inteiramente
com essa posição, porque uma de
suas grandes prioridades na negociação agrícola é justamente
eliminar todas as formas de ajuda
às exportações agrícolas. Mas há
uma preocupação européia que
contraria o Brasil: a UE quer que
fique claro que, no corte de tarifas
de importação de produtos agrícolas, serão "adequadamente
protegidos os itens sensíveis".
Temor
O Brasil teme que o rótulo "sensível" acabe encobrindo um vasto
leque de produtos nos quais o
país é competitivo, mas não consegue vender no mercado europeu por causa do protecionismo.
O apoio europeu e brasileiro ao
esboço está longe, no entanto, de
garantir que ele possa ser aprovado nas duas semanas que faltam
até o prazo de 31 de julho, mesmo
depois de corrigido, como é natural em qualquer esboço.
A Índia, um dos grandes da
OMC, disse ontem que o texto carece "do necessário equilíbrio,
justiça ou equidade entre as recomendações para países desenvolvidos e em desenvolvimento".
A restrição é feita também pelo
Brasil, membro como a Índia do
G20, grupo de países em desenvolvimento que luta pela liberalização agrícola dos ricos. De todo
modo, em videoconferência ontem de que participaram os cinco
grandes da negociação (UE, EUA,
Brasil, Índia e Austrália), constatou-se que todos mantêm "a disposição de chegar a um acordo até
o fim do mês", diz Arancha González. Se será ou não possível é o
que começou a se discutir ontem
em Genebra.
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Remédios: Bayer compra divisão da Roche Índice
|