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Mantega anuncia "feito inédito", mas dados desmentem
Ministro divulga que reservas em dólar do país superam a dívida federal externa, o que já havia ocorrido em 1998
Segundo dados da Fazenda, há US$ 64,01 bi nos cofres, contra compromissos de US$ 63,28 bi com os credores externos
Alan Marques - 6.jul.06/Folha Imagem
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O ministro Guido Mantega, que anunciou dados sobre reservas |
SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo montou ontem
uma operação para anunciar
que as reservas em dólar do
Banco Central superaram a dívida externa da União, mas o
próprio material de apoio distribuído na divulgação derrubou o ineditismo que se pretendia atribuir à notícia.
De acordo com o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, as reservas internacionais chegaram a US$ 64,01 bilhões na segunda-feira, enquanto o endividamento externo está em
US$ 63,28 bilhões.
"O Brasil saiu do cheque especial e agora já é credor", disse. "Talvez seja a primeira vez
na história do país que tenhamos essa situação. Isso mostra
o avanço que tivemos nas contas externas. Isso nos dá tranqüilidade para enfrentar eventuais problemas e turbulências
na esfera internacional."
O documento divulgado posteriormente pela Fazenda foi
ainda mais incisivo: "O país assumiu uma inédita posição credora em dólares".
Os dados fornecidos pelo Tesouro Nacional mostraram, porém, que a situação era até mais
favorável que a atual em 1998,
no governo FHC, quando as reservas superaram a dívida externa federal durante a maior
parte do ano. Em abril, no melhor momento, as primeiras
atingiam US$ 74,66 bilhões, e a
segunda, US$ 67,36 bilhões.
Na época, a condição de credor internacional não livrou o
governo de um ataque especulativo que derrubou a atividade
econômica e culminou, no ano
seguinte, na maxidesvalorização do real.
A divulgação de mais essa
boa notícia na área econômica
foi orquestrada diretamente
pelo Palácio do Planalto. Os dados sobre a dívida externa foram entregues na terça ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o Planalto orientou Mantega a divulgar o número.
O ministro cumpriu a determinação numa entrevista improvisada -embora os jornalistas tivessem sido avisados
antes- na portaria da Fazenda,
minutos antes de sair para uma
reunião com o presidente.
Evitando comparações diretas com o governo FHC, para
não enfrentar problemas com a
legislação eleitoral, Mantega
apontou que, "em outras épocas", o Brasil conseguiu acumular reservas internacionais,
mas avaliou que "não eram reservas sólidas como essas que
nós temos agora".
Segundo o ministro, Lula ficou satisfeito com a notícia sobre a redução no endividamento porque isso reduziu a vulnerabilidade externa do país, uma
das "prioridades" do governo.
"Sem reduzir essa vulnerabilidade, você não pode ter crescimento sustentado. Até pode ter
crescimento momentâneo, enquanto houver condições favoráveis, mas, na primeira turbulência, se você está fragilizado,
se depende de capitais externos, você acaba retraindo, interrompendo o crescimento
que estivesse em curso."
A estratégia, porém, tem efeitos colaterais. Para adquirir os
dólares que compõem as reservas, o governo vende títulos da
dívida pública em reais, que pagam os juros mais altos do planeta. Na prática, troca-se dívida
externa por dívida interna.
Mantega defendeu as compras de dólar citando o exemplo de outros países. "Se nós
olharmos para as reservas que
possuem os países emergentes
parecidos com o Brasil, no caso
a Rússia, a Coréia, o colchão
ainda pode encher mais."
Mais tarde, questionado sobre o falso ineditismo do resultado divulgado, o Ministério da
Fazenda argumentou que a
acumulação de reservas era
mais simples em 1998, quando
a cotação do câmbio era administrada pelo Banco Central.
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