São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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Planalto nega pressão sobre banco federal

Fazenda diz que reunião de Lula com dirigentes de instituições foi rotina e que não houve cobrança para redução dos juros

No encontro ficou acertado, porém, que bancos levarão propostas para diminuir as taxas, consideradas fator de desgaste para a reeleição

SHEILA D"AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigir que os bancos oficiais reduzam a taxa de juros cobrada nos empréstimos aos seus clientes, a equipe econômica tentou minimizar a pressão sobre essas instituições, que são controladas pela União.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) e o secretário-executivo, Bernard Appy, trataram a reunião como algo de rotina. Os juros altos são um fator de desgaste para a reeleição do presidente.
No entanto, no encontro da véspera com o presidente Lula, quatro ministros, o presidente do Banco Central e os dirigentes das instituições federais, ficou acertado que cada banco deverá apresentar uma proposta do que poderá ser feito para diminuir a taxa que é cobrada atualmente.
Appy disse que a reunião foi apenas para discutir a evolução dos juros bancários e avaliar medidas que permitam diminuir esse custo. Já Mantega afirmou que "o governo está conclamando os bancos para que eles façam um trabalho no sentido de permitir que o "spread" [a diferença entre a taxa cobrada do tomador e a paga ao aplicador] caia".
"É nossa obrigação estimular os bancos públicos para que possam implementar políticas que venham no sentido de reduzir os seus "spreads"." O ministro argumentou que, embora essas instituições pratiquem taxas menores do que a concorrência privada, os juros "ainda são considerados elevados".
Segundo o ministro, Lula sempre acompanhou o desempenho das instituições públicas e a evolução do mercado de crédito. "Só que, agora, se colocou em pauta essa temática".

Fundos constitucionais
Mantega admitiu a possibilidade de reduzir a taxa cobrada nos financiamentos feitos com recursos do fundos constitucionais do Norte (FNO), do Nordeste (FNE) e do Centro-Oeste (FCO), mas que ainda irá avaliar o assunto melhor.
Além disso, disse que está estudando também propostas feitas pelo setor privado para tentar reduzir os "spreads".
A preocupação do governo é que, apesar da queda na taxa básica de juros, o "spread" não está baixando na mesma proporção. "O "spread" não está baixando na proporção que deveria, então, [ele] é uma preocupação permanente."
Anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com representantes dos cinco bancos federais (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia) para discutir o assunto.
De acordo com o secretário Appy, "a reunião foi para discutir o aperfeiçoamento do mercado de crédito no Brasil e medidas para redução de "spread" de forma geral".

Sem pressão
Appy negou que isso signifique pressão do governo federal e, indiretamente, criticou o noticiário sobre o tema. "O que foi falado na reunião de ontem [anteontem] vai muito além daquilo que apareceu hoje [ontem] na imprensa. Em momento nenhum foi colocada qualquer coisa que comprometa a boa governança de instituições publicas, especialmente aquelas que têm acionistas minoritários", afirmou o secretário, numa referência ao Banco do Brasil -único, entre os bancos federais, que possui ações negociadas na Bolsa de Valores.
No caso dos bancos públicos, Appy disse que foram discutidas maneiras de aumentar a eficiência das operações dessas instituições, o que também poderia ajudar na redução da taxa de juros. "Qualquer medida dos bancos públicos que possa contribuir para um esforço de redução de "spread" tem que se encaixar na estratégia competitiva dos bancos. Não pode ser uma medida que se faça em detrimento da rentabilidade dessas instituições", afirmou.


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