São Paulo, segunda, 20 de julho de 1998

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VAREJO
Para o dono da Casas Bahia, as taxas cobradas no crédito aos clientes compensam a inadimplência e dão lucro
Quem culpa os juros se engana, diz Klein

da Reportagem Local

Samuel Klein, 75, dono da Casas Bahia, com 40 anos de experiência no comércio, diz que a sua rede vai bem, apesar de o consumo estar mais fraco do que há um ano.
"Quem fala que quebrou por causa dos juros altos e da inadimplência está se enganando", diz. "A venda está menor do que no ano passado. Só que antes do Plano Real faturávamos R$ 30 milhões por mês. Agora, estamos vendendo R$ 180 milhões."
A Casas Bahia, segundo Klein, prevê para este ano faturamento de R$ 2 bilhões, 16,7% a menos do que o do ano passado. O lucro da empresa, no entanto, deve dar um salto no período, de R$ 38 milhões para R$ 50 milhões.
Para o empresário, o comerciante não pode descuidar nem um pouco do negócio. Se delega poderes, tem de fiscalizar e cobrar metas dos executivos.


Folha - Qual é a situação financeira da Casas Bahia?
Samuel Klein
- A Casas Bahia está bem. Conseguimos nos manter capitalizados, mesmo nos anos de vacas magras. Antes do Plano Real, faturávamos R$ 30 milhões por mês. Agora já estamos faturando R$ 180 milhões por mês.
Folha - E os juros?
Klein
- Quem fala que o grande problema da economia é juro alto está se enganando, é comerciante vigarista, que não sabe administrar o seu negócio.
Folha - Por que muitas redes pediram concordata?
Klein
- Os empresários têm de cuidar pessoalmente dos seus negócios. Não podem deixar tudo na mão de executivos. Eles podem delegar poderes, mas têm de fiscalizar, cobrar faturamento e lucro dos executivos e exigir que eles saibam comprar bem. A loja precisa diversificar a sua linha.
Folha - Qual é a carteira de financiamento da sua empresa?
Klein
- Temos cerca de R$ 1 bilhão a receber. Recebemos cerca de R$ 170 milhões a R$ 180 milhões por mês.
Com esse dinheiro, vamos repondo nossa carteira. Vendemos R$ 180 milhões e gastamos R$ 120 milhões. Tirando as despesas, trabalhamos com bom lucro.
Folha - Quanto é hoje a dívida da empresa com fornecedores?
Klein
- De aproximadamente R$ 150 milhões para ser paga em 30 dias. Não dá para vender em prazo superior a dez meses, pois quem não consegue pagar uma mercadoria nesse prazo, não pode comprar. Não é como um carro.
Folha - E a inadimplência?
Klein
- A inadimplência representa cerca de 7% a 8% da venda financiada, que corresponde a 90% do nosso faturamento. Mas já chegou a 10%. A tendência é cair.
Folha - A Casas Bahia continua interessada em novas aquisições?
Klein
- Compramos a Casa do Rádio, de Minas Gerais, há um mês e meio por R$ 40 milhões. Já adiantamos R$ 20 milhões para que os antigos donos liquidem as dívidas com fornecedores. Por enquanto, não temos interesse em outras redes.
Folha - Qual é o perfil do seu público
Klein
- Cerca de 60% da minha freguesia ganha de R$ 600 a R$ 1.000 por mês. Cerca de 2,5 milhões de pessoas pagam carnês mensalmente na Casas Bahia.
Folha - Qual é o seu candidato a presidente da República?
Klein
- Voto em Fernando Henrique Cardoso. É o mais sério presidente dos últimos 30 anos. Ele conseguiu tornar a moeda brasileira forte. Não existe mais empregado que ganha um salário mínimo. Pago R$ 1,2 mil por mês para minha cozinheira, que tem carro e sustenta a família.



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