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JORGE GERDAU JOHANNPETER
Custo do Estado e produtividade
O Brasil cobra impostos pelo investimento antes do efetivo início da operação, inibindo o capital produtivo
O DEBATE sobre a produtividade no Brasil ainda é insuficiente, mas cada vez mais necessário. A produtividade não se restringe apenas às empresas e, hoje,
envolve também o Estado. Isso porque o custo da ineficiência do Estado impacta na possibilidade de o
país ter crescimento sustentado e
ampliar sua inserção no comércio
internacional. Conseqüentemente,
o aumento da produtividade do Brasil é do interesse de todos e não apenas do setor privado.
Historicamente, o esforço para o
aumento da produtividade era voltado para dentro das empresas pelo
fato de que os agentes privados buscavam se posicionar em um ambiente competitivo, mas essencialmente
restrito ao mercado doméstico. A
ineficiência do Estado gerava ônus
arcado por todas as empresas e, em
conseqüência, pela população ao
consumir produtos e serviços.
Com a evolução dos blocos supranacionais e das inter-relações dos
mercados, o custo estatal ganhou
mais peso econômico e complexidade burocrática na estrutura de gastos das empresas, porque a concorrência passou a ocorrer também entre regiões. Um novo investimento
industrial, por exemplo, é disputado
por diferentes países, sendo que a
estrutura de custos de cada um deles
é determinante na decisão empresarial. No Brasil, entretanto, são cobrados impostos pelo investimento
antes do efetivo início da operação, o
que inibe o capital produtivo. As empresas brasileiras, ao assumirem
custos mais elevados pelas deficiências do Estado, estão perdendo espaço diante de outros países.
No Brasil, o aumento da produtividade industrial nos anos 90 decorreu principalmente da abertura comercial, das privatizações, da desregulamentação da economia, da adoção de programas de qualidade e de
novos modelos de gestão empresarial. Segundo o Ipea, chegou, em média, a quase 8% ao ano entre 1994 e
1997. Ao mesmo tempo em que a
produção cresceu, os empregos
mantiveram sua tendência de queda
em muitos segmentos. Nas últimas
décadas, o desafio passou a ser a inserção no mercado de trabalho das
novas gerações e da população que
migrou do campo para as cidades.
Para recuperar a produtividade e
aumentar a geração de empregos,
empresas e Estado devem se espelhar nas melhores práticas mundiais
de eficiência. É preciso revolucionar
a gestão pública, seguindo critérios
que promovam o verdadeiro desenvolvimento econômico e social.
Algumas medidas aparentemente
populares escondem custos mais altos. Urge acabar, por exemplo, com
o "populismo energético", caracterizado pelo falso conceito de que o
subsídio das tarifas de energia residencial com o aumento dos custos
de fornecimento para as empresas
cria justiça social. Na verdade, significa menor competitividade da indústria, impactando na geração de
empregos e nas exportações e causando o repasse aos consumidores
por meio da elevação dos preços dos
bens de consumo final. O debate sobre o tema da produtividade também deve abranger as áreas da saúde
e da educação, para que seja possível
fazer mais com menos.
O problema, seja na área de energia, da educação ou da saúde, reside
no nível da eficiência de gestão. No
campo empresarial, a solução tem
sido a construção de contratos inteligentes, que permitem atingir metas diferenciadas a partir da análise
de causa e efeito. Inovação é a palavra-chave em tudo, inclusive em
gestão. No setor público, esse conceito praticamente inexiste, e somente com a mudança da mentalidade gerencial pública será possível
alcançar um nível mínimo de avanço econômico nos próximos anos.
JORGE GERDAU JOHANNPETER, 69, é presidente do grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
jorge.gerdau@gerdau.com.br
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