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Planalto orientou Costa a intervir na Anatel
Decisão ocorreu diante de recusa da direção da agência de alterar o edital de licitação para internet em banda larga sem fio
Desfecho do caso é
acompanhado de perto por
outros ministérios, que
também têm atritos com
agências reguladoras
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, recebeu
orientação do Palácio do Planalto para intervir na Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) diante da recusa
do conselho diretor da agência,
na quarta-feira passada, de alterar o edital de licitação do direito de uso das freqüências para acesso à internet em banda
larga. A Anatel também recusou-se a adiar a data do leilão,
marcada para o dia 4 de setembro, que havia sido pedida por
Hélio Costa.
A portaria ministerial que
torna nulo o edital de licitação
está pronta e, segundo a Folha
apurou, foi redigida com assessoria jurídica da Casa Civil da
Presidência da República. A intervenção pode ocorrer até
quinta-feira. O desfecho desse
caso está sendo acompanhado
de perto por outros ministérios, que também têm atritos
com as agências reguladoras.
Se concretizada, será a primeira intervenção do Executivo na decisão de um órgão regulador. A Anatel foi criada no
primeiro governo de Fernando
Henrique Cardoso, há dez
anos. Seu inspirador foi o então
ministro Sérgio Motta, que defendia que ela deveria assumir
grande parte das funções do
Ministério das Comunicações,
o qual seria extinto, no modelo
concebido pelos tucanos.
A Folha apurou ainda que a
Casa Civil recomendou o nome
do secretário-executivo do Núcleo de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República,
coronel Oswaldo Oliva Neto,
irmão do senador Aloizio Mercadante -candidato do PT ao
governo de São Paulo-, para
ocupar o cargo de conselheiro
da Anatel que está vago desde o
ano passado.
O poder da Anatel começou a
ser questionado ainda na gestão tucana, pelo ex-ministro
Pimenta da Veiga. O último ato
de fortalecimento da Anatel e
de esvaziamento do Ministério
das Comunicações foi a extinção das delegacias regionais do
ministério, determinada, no final de 2002, pelo último ministro das Comunicações do governo FHC, Juarez Quadros,
que substituiu exatamente Pimenta da Veiga.
A Anatel, diante da ameaça
concreta de intervenção, deu
sinais de que aceita fazer mudanças no edital, segundo afirmou, em Belo Horizonte, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, o qual não quis se
manifestar sobre a informação
obtida pela Folha de que a inspiração para a intervenção na
decisão da agência partiu do
Palácio do Planalto.
A portaria de intervenção
tem apenas dois artigos. O primeiro torna nulo o edital de licitação e diz que a decisão se
baseia no parecer AGU nš 51,
de 13 de janeiro de 2006, e o segundo diz que a portaria entra
em vigor na data de sua publicação. A data e o número da
portaria, porém, continuavam
em branco até sexta-feira à noite, à espera do desfecho das negociações iniciadas entre a
Anatel e o Ministério das Comunicações.
Respaldo
O respaldo jurídico para a intervenção na decisão da Anatel,
fornecido pela consultoria jurídica da Casa Civil, foi o parecer
que a Advocacia Geral da União
preparou em janeiro último, a
propósito de uma divergência
entre o Ministério dos Transportes e a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) a respeito de tarifas.
Segundo o ministro Hélio
Costa, o parecer foi aprovado
pelo advogado geral da União e
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que lhe confere poder normativo. O parecer não
chegou a ser usado contra a
ANTT, que chegou a um consenso com o Ministério dos
Transportes.
Em resumo, o parecer afirma
que as agências reguladoras estão sujeitas ao controle interno
do Poder Executivo e à revisão
ministerial "de ofício ou por
provocação de interessados"
quando tomam decisões que
ultrapassam os limites de suas
competências materiais definidas em lei ou regulamento ou,
ainda, quando violam políticas
públicas definidas para o setor
regulado pela administração
direta.
De acordo com o ministro
Hélio Costa, o decreto 4.733, de
10 de junho de 2003, diz que,
entre as políticas relativas aos
serviços de telecomunicações,
está garantir o acesso de todos
os cidadãos à rede mundial de
computadores (internet) e a organização do serviço de telecomunicações visando à inclusão
social. Diz, ainda, que o decreto
5.581, de 2005, determina que
cabe ao Ministério das Comunicações formular e propor políticas, diretrizes, objetivos e
metas no âmbito do programa
de inclusão digital.
Teles
De acordo com o ministro, a
Anatel recusou-se a alterar o
edital e a adiar o leilão com o argumento de que havia submetido o texto da licitação a audiência pública e que o Ministério
das Comunicações não se manifestou na ocasião. "A relação
não é essa. O governo tem uma
política de inclusão digital, e a
Anatel tem que acompanhar a
política do governo", disse o
ministro.
Hélio Costa afirma que sua
divergência com a Anatel é pelo
fato de a agência se preocupar
apenas com o uso racional do
espectro de radiofreqüência,
sem atentar para o lado social.
Ele nega que sua intervenção
seja para favorecer as concessionárias do serviço de telefonia fixa local, que estão impedidas pelo edital original de comprar licenças para acesso à internet sem fio dentro de suas
áreas de concessão.
As teles, por meio da Abrafix
(Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado), dizem
que a restrição não tem base legal e enviou à Anatel pedido de
impugnação do edital.
O ministro declara que o propósito da intervenção é garantir que o acesso à internet sem
fio seja oferecido em todo o
país, e não apenas nas grandes
cidades e para os clientes de alto poder aquisitivo.
Segundo ele, com as regras
estabelecidas no edital, vai se
repetir a situação da telefonia
celular, em que os pequenos
municípios ficaram fora da
área de cobertura. "Queremos
que o vencedor leve o filé, mas
seja obrigado a roer também o
osso", afirmou.
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