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Governo "esconde" dados sobre deficit do INSS
Ao divulgar números de julho, José Pimentel evitou, por várias vezes, informar o resultado negativo das contas da Previdência
Fatores para o crescimento de 13,4% no deficit anual foram o aumento real do mínimo e a alta dos gastos com sentenças judiciais
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O aumento real do salário
mínimo e a elevação nas despesas com sentenças judiciais
empurraram o deficit da Previdência Social para R$ 3,09 bilhões em julho, com crescimento de 35,5% ante o mesmo
período de 2008. Na comparação com junho deste ano, entretanto, houve redução de
8,8% no saldo negativo.
Os números foram divulgados ontem pelo Ministério da
Previdência em entrevista conturbada, em que o ministro José Pimentel evitou, por várias
vezes, informar o resultado negativo das contas do INSS.
Além disso, a apresentação
dos dados entregue à imprensa
foi totalmente reformulada, camuflando os números globais.
O destaque foi jogado sobre o
resultado das contas previdenciárias do setor urbano, que
apresentou superavit de R$ 13
milhões no mês de julho.
Ao enfatizar os números da
Previdência urbana -cujas
contas são mais equilibradas-,
o ministro afirmava que o deficit do setor rural -no qual está
concentrado o rombo previdenciário- também ocorre em
outros países e é uma opção da
sociedade.
"Não estamos escondendo
nada. Tudo aqui é transparente. Só estamos aplicando o que
prevê a Lei de Responsabilidade Fiscal, que determina a separação dos números."
O ministro insistia em que o
relatório com dados segregados
-Previdência do setor rural e
do setor urbano- é mais completo que a informação consolidada, embora há anos esse tenha sido o modelo apresentado
pelo ministério. A tarefa de explicar o deficit acabou ficando
para o secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer.
Ele afirmou que a queda do
deficit em relação a junho é fruto de um pequeno aumento da
arrecadação combinado a uma
diminuição nos gastos com benefícios. Para esclarecer o crescimento do rombo previdenciário na comparação com julho de 2008, o ministro chegou
a apresentar justificativas.
"Antecipamos o reajuste dos
benefícios em um mês [de março para fevereiro] e ampliamos
o pagamento do passivo previdenciário judicial. Mesmo assim, os números de 2009 são
mais vantajosos que os de
2008", afirmou o ministro, provável candidato ao Senado pelo
PT do Ceará em 2010.
Previsão
No acumulado do ano, o resultado da Previdência atingiu
saldo negativo de R$ 24,691 bilhões -ou seja, crescimento de
13,4% em relação aos sete primeiros meses de 2008. Schwarzer esclareceu que o efeito da
antecipação do reajuste dos benefícios afeta somente o resultado acumulado, e não a variação mensal do deficit, como
afirmara Pimentel.
No caso do crescimento
mensal, o secretário disse que
houve descompasso entre receitas e despesas pelo aumento
do mínimo e à elevação das despesas com decisões judiciais.
Para o encerramento do ano,
o ministério projeta saldo negativo de R$ 40,7 bilhões, sendo apenas R$ 1,2 bilhão relativo
ao setor urbano. O deficit no setor rural é mais elevado porque
os segurados do campo têm regras diferentes de contribuição.
O recolhimento é eventual ou
até mesmo inexistente.
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