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Dinheiro ganha eleição
BENJAMIN STEINBRUCH
É lógico , se não óbvio, que
dinheiro ajuda a ganhar eleições em qualquer lugar. Mas será
que tem sido assim nas eleições
brasileiras? Será que aqueles que
fazem mais despesas realmente se
elegem?
O Brasil tem 26 Estados e um
Distrito Federal. No site do TSE,
há informações sobre as despesas
oficiais em 26 dessas unidades federais em 2002 -só deixei de lado Roraima, por falta de dados
detalhados. A conclusão foi a seguinte: desses 26 governadores
eleitos, 22 tiveram gastos mais
elevados que seus oponentes que
acabaram ficando em segundo
lugar. Só quatro, portanto, saíram vitoriosos gastando menos
que o respectivo segundo colocado. Foram Germano Rigotto, no
Rio Grande do Sul, Wellington
Dias, no Piauí, Roberto Requião,
no Paraná, e Luiz Henrique, em
Santa Catarina.
Não é meu objetivo contestar
méritos de governadores eleitos
-ao contrário, admiro o trabalho e a biografia de muitos deles,
que conheço pessoalmente. Quero
apenas mostrar que a hipótese de
perder uma eleição é remota
quando se gasta mais do que os
concorrentes. Os dez eleitos que
mais gastavam no pleito de 2002
fizeram despesas oficialmente
contabilizadas que somam R$
81,5 milhões. Esse valor é nove vezes maior que o registrado pelos
dez perdedores que ficaram em
segundo lugar. Se considerarmos
os 26 Estados (incluído o DF), a
constatação é a mesma, ainda
que numa relação menor -os
eleitos gastaram três vezes mais.
As comparações levam a conclusão semelhante nas quatro últimas eleições presidenciais:
quem gastou mais elegeu-se. Collor gastou mais do que Lula em
1989, Fernando Henrique gastou
mais que Lula em 1994 e em 1998.
E Lula gastou mais do que Serra
em 2002.
O que isso prova? Prova o óbvio,
que dinheiro ganha eleição no
Brasil.
É uma ilusão achar que se pode
modificar essa realidade de uma
hora para outra, com canetadas
ou novas legislações. Porém também não se pode adotar atitude
comodista ou conformista. É possível fazer mudanças na lei eleitoral para tentar equilibrar um
pouco as oportunidades, independentemente dos recursos.
O tempo para essas alterações é
exíguo, porque a Constituição estabelece o prazo de um ano antes
do pleito para mudanças. Então,
temos menos de 15 dias para essa
tarefa. Ainda há tempo, se houver
vontade política, para votar medidas que reduzam os gastos e imponham limites máximos para
que a competição seja mais leal
entre candidatos "pobres" e "ricos" nas eleições de outubro de
2006.
Há um evidente apoio consensual na sociedade à redução do
período de propaganda, ao fim da
maquiagem de candidatos, ao
fim de "showmícios", à contabilização mais transparente dos gastos e ao combate feroz ao caixa
dois. Dá tempo para fazer isso,
talvez sem ter de apelar para
emenda constitucional oportunista -alguns sugerem mudança
no artigo da Constituição que
exige um ano de antecedência para a vigência da legislação eleitoral.
Caso não haja mudanças, iremos outra vez para eleições com a
velha pirotecnia eletrônica que leva a população a votar em imagens esculpidas por marqueteiros
contratados a peso de ouro. E a
sociedade brasileira não aceita
mais esse padrão.
Benjamin Steinbruch, 52, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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