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LUÍS NASSIF
O submarino
nuclear
Depois do adiamento da
licitação do FX -caças de
guerra pela FAB-, o novo tema das Forças Armadas, agora,
é a licitação para a compra de
submarinos, e aí, mais uma
vez, entrelaçam-se as questões
de defesa e de absorção de tecnologia.
O desafio da licitação é que
deverá permitir ao país absorver a tecnologia da construção
de casco para futuros submarinos com propulsão nuclear. Assim como na FAB, há uma divisão na Marinha. Há um pequeno grupo, realista, que reconhece resultados do programa nuclear paralelo -que permitiu
ao país o controle do processo
de enriquecimento de urânio-
, mas acha que a Marinha não
tirou proveito nenhum. Em vez
de busca de soluções a longo
prazo, dizem eles, vamos resolver o problema de hoje. É um
grupo minoritário, mas com
poder de articulação.
De outro lado, estão os defensores da absorção tecnológica.
Desde os anos 70, a Marinha
desenvolveu um programa nuclear paralelo que rendeu enormes avanços tecnológicos ao
país -mas muita dor de cabeça à própria Marinha.
Dos anos 70 aos 90, em valores históricos investiu mais de
US$ 1 bilhão para desenvolver
combustível nuclear e reator
nuclear pequeno, que cabe em
um submarino. Faltava resolver o problema do casco do submarino.
Em 1983, a Marinha comprou
da Alemanha tecnologia para a
construção de submarinos da
série Tupi, pequenos, de 1.500
toneladas de deslocamento
dentro da água. Foram construídos quatro submarinos. No
quinto da série, resolveu ganhar coragem e modificá-lo
tecnologicamente. Nasceu a série Ticuna, com um casco mais
longo, peso e dimensões diferentes, mas, ainda assim, um
submarino convencional.
Com a nova licitação, pretende-se agora a tecnologia para a
construção de um submarino
intermediário SM10. Seriam fabricados um ou dois com a tecnologia comprada. Depois de
assimilada a tecnologia, seria
lançado um maior, movido a
um pequeno reator nuclear
produzido em Aramar.
Em vez do processo licitátorio
complicado da FAB, a Marinha
optou por definir o que queria e
convidar dois consórcios, o alemão HDW e o francês Armaris
(joint venture da Direção de
Construções Navais -Arsenal
de Marinha da França- e da
Tales).
A grande vantagem do submarino nuclear é poder permanecer submerso por tempo indefinido. Na sua proposta, os
alemães não ofereceram a tecnologia de um submarino nuclear -que eles não dominam
até por razões políticas. Mas
ofereceram um convencional
com uma peça de nome AIP,
que permite iniciar o processo
de hidrólise, separando oxigênio e hidrogênio e permitindo
30 dias debaixo da água.
O submarino alemão tem a
vantagem do preço. O modelo
atual é o U-214. Para baratear,
foi oferecido o modelo U-209
melhorado, a um custo de US$
240 milhões. Já os franceses oferecem um submarino convencional, mas derivado do nuclear, a um custo de US$ 360
milhões. Mas permitirá absorção de tecnologia para o submarino nuclear.
A razão para a França oferecer tecnologia para um futuro
competidor é a necessidade de
escala para sobreviver.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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