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TRABALHO
Dieese diz que quadro "assusta" e vê dificuldade em absorver mão-de-obra
Jovens entre 16 e 24 anos são 46% dos desempregados
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Do total de desempregados
existentes no ano passado no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e São
Paulo, 46,4% tinham entre 16 e 24
anos, revela estudo divulgado ontem pelo Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Trata-se
de 1,6 milhão de jovens procurando trabalho em um universo de
3,5 milhões de desempregados.
Em São Paulo, enquanto a taxa
de desemprego na população total (maior de 16 anos) era de
18,1%, na faixa etária entre 16 e 24
anos o número chegava a 32,6%.
Os piores índices aparecem entre
os 16 e os 17 anos, com um quadro
de 52,9% de desempregados.
O maior índice de desemprego
entre os jovens aparece em Salvador (42,8%), e o menor, em Porto
Alegre (29,3%). Nas seis regiões, o
desemprego atinge mais as mulheres -em Recife, são 48,2% das
jovens (contra 36,2% deles).
O quadro mais igualitário é o do
Distrito Federal, com 39,2% de
desemprego entre as mulheres de
16 a 24 anos e 34% entre os homens. A maior diferença observada aparece na capital gaúcha, dez
pontos percentuais a mais na taxa
feminina (34,7% contra 24,7%).
Para o Dieese, que faz o estudo
pela primeira vez, a manutenção
de taxas elevadas de desemprego
nessa faixa etária, particularmente entre as mulheres, evidencia a
incapacidade de absorção do
crescimento da oferta de força de
trabalho. "Todo mundo sabe que
é difícil para o jovem trabalhar.
Mas, ao olhar os números, nos assustamos com o tamanho da dificuldade", diz Patrícia Lino Costa,
economista do Dieese.
Em São Paulo, segundo o estudo, 50,4% dos jovens entre 16 e 24
anos só trabalham ou só procuram trabalho. Os que estudam e
trabalham ao mesmo tempo são
24,6% dos jovens entre os 25%
mais ricos e apenas 6,7% entre os
25% mais pobres. "Isso significa
que o jovem de baixa renda desiste de estudar e acaba reproduzindo a situação de pobreza, inserindo-se no mercado de trabalho de
forma mais precária. É a retroalimentação da pobreza", afirma.
Valor do trabalho
Para o professor de economia
da Unicamp José Dari Krein, o desemprego e o rebaixamento no
mercado de trabalho tiram do jovem a perspectiva de pensar seu
futuro por meio da inserção no
mercado de trabalho. "O trabalho, como valor de construção da
identidade, fica questionado. É
como jogar fora uma parte considerável da população que seria
útil e poderia estar engajada na
construção de um país melhor."
Já o economista Hélio Zylberstajn, da USP, adverte que o estudo
do Dieese de fato não questiona
quantos dos jovens que não estudam (e trabalham ou procuram
emprego ou nem sequer procuram) gostariam de estar na escola.
Paula Montagner, coordenadora do Observatório do Trabalho,
do Ministério do Trabalho, diz
que, embora não tenha havido
grandes avanços do programa
Primeiro Emprego, porque no
país "não há tradição de estágio",
há iniciativas bem-sucedidas. Ela
cita os consórcios que integram
jovens a ONGs, que já beneficiaram 39 mil jovens e deram trabalho a 12 mil deles. Segundo o governo, o total de beneficiados pelo
Primeiro Emprego é de 360,4 mil.
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