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COMÉRCIO EXTERIOR
Missão vai hoje a Pequim preparar encontro que tentará levar à autolimitação de exportações do país asiático
Empresas divergem ao negociar com China
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes do setor privado embarcam hoje para a China
divididos sobre a atitude que deve
ser adotada na negociação que
tentará levar o país asiático a autolimitar as exportações ao Brasil.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) lidera o grupo dos céticos e intransigentes. No extremo oposto, está o
Conselho Empresarial Brasil-China, que reúne empresas com investimentos no país asiático. Entre ambos, o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo),
que defende uma posição conciliadora, apesar de ter dúvidas
quanto ao cumprimento de um
acordo pelos chineses.
A missão que viaja hoje a Pequim vai preparar os encontros
que o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, terá nos dias 28 e 29 com o ministro
do Comércio da China, Bo Xilai.
Comandada pelo secretário de
Comércio Exterior do Ministério
do Desenvolvimento, Armando
Meziat, a missão será integrada
por setores que se consideram
prejudicados pela elevação das
exportações chinesas ao Brasil,
como calçados, têxtil, máquinas e
pneus. O objetivo é chegar a acordos que coloquem limites às vendas da China para o Brasil.
O diretor do Departamento de
Comércio Exterior do Ciesp,
Humberto Barbato, tem uma lista
de 99 itens que sofreram aumento
médio de importação da China de
88,5% em 2005.
As negociações foram propostas pelo governo de Pequim, que
tenta evitar a aplicação de salvaguardas por parte do Brasil. Esse
instrumento permite a imposição
de tarifas ou cotas que restringem
a importação de certos produtos
durante um prazo definido.
Quando entrou na OMC (Organização Mundial do Comércio),
em 2001, a China aceitou a imposição de salvaguardas específicas
para suas mercadorias, que facilitam a aplicação do mecanismo.
Mas, para usar esse procedimento, os países-sócios da OMC precisam regulamentá-lo, o que ainda não foi feito pelo Brasil.
A Fiesp defende que o ministro
Furlan só viaje para a China depois que forem publicados os decretos com a regulamentação das
salvaguardas, o que já foi descartado por integrantes do governo.
Amadorismo
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas) bate
na mesma tecla e vai mais longe,
ao afirmar que o setor não está
disposto a fechar nenhum acordo
com os chineses nessa negociação. "Essa missão foi organizada
de maneira amadora e improvisada, e o governo não tem dados para negociar", diz o vice-presidente
da Abimaq, Carlos Pastoriza.
O Ministério do Desenvolvimento rebate e afirma ter dados
de 20 setores envolvidos na negociação. A assessoria do ministério
afirma que foram solicitadas informações à Abimaq no dia 29 de
agosto, sem estabelecimento de
prazo limite para seu envio. A resposta foi encaminhada no dia 2
deste mês, quando o ministério
solicitou dados adicionais.
Além disso, técnicos do governo
lembram que a regulamentação
das salvaguardas vem sendo debatida desde maio. Nesse período,
os setores que se julgam atingidos
deram declarações reiteradas de
que estavam prontos para iniciar
os processos contra a China.
O principal defensor da negociação é o Conselho Empresarial
Brasil-China, que tenta evitar decisões que azedem a relação bilateral, classificada de "estratégica"
pelos presidentes de ambos os
países no ano passado.
"Há várias empresas brasileiras
que estão ganhando dinheiro na
China e não há interesse em hostilizar um país que está contribuindo para o crescimento do Brasil",
diz Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho.
Nos últimos cinco anos, ressalta
Amorim, as exportações brasileiras para a China cresceram de
maneira "extraordinária". Além
disso, a demanda chinesa provocou o aumento de preço no mercado internacional das commodities vendidas pelo Brasil.
Amorim acredita que a regulamentação das salvaguardas na
véspera da reunião de Furlan e Bo
Xilai vai passar aos chineses uma
mensagem de confronto, posição
compartilhada pelo Ciesp.
"Não é porque temos interesses
na China que podemos negligenciar os riscos que a relação apresenta ao Brasil", diz Rafael Benke,
gerente do Departamento de Relações Internacionais da Fiesp.
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