São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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EMPRÉSTIMOS

Fundo perde relevância

Novas fontes de crédito reduzem poder do FMI

DA BLOOMBERG

O FMI (Fundo Monetário Internacional) está enfrentando uma crise de identidade. Nesta semana, enquanto ministros da Fazenda de todo o mundo se reúnem em Washington para participar do encontro anual do FMI, o órgão vê sua relevância diminuir.
A cada dia que passa, os mercados de capital privados superam o FMI como a principal fonte de crédito para os países em desenvolvimento. Além disso, a participação nos programas de crédito do órgão caiu e alcançou o menor nível desde a década de 70.
Atualmente, algumas pessoas sugerem que o FMI -que antes conseguia dobrar os governos credores à sua vontade, impondo rígidas exigências de política econômica como condição para a liberação de empréstimos- precisa definir um novo papel para si próprio.
"O FMI já não tem nenhum poder" para fazer cumprir suas recomendações, disse Peter Morici, economista da Universidade de Maryland, em College Park, nos Estados Unidos. "Não acredito que o FMI tenha um objetivo real além do de observador."
A redefinição da missão do FMI será um dos principais tópicos a serem debatidos pelos ministros da Fazenda dos 184 países-membros do Fundo, que se reunirão no próximo sábado e domingo.
Nesta semana, Rodrigo de Rato, diretor-gerente do FMI, pretende divulgar os resultados de um estudo realizado durante um ano a respeito do papel adequado do Fundo na economia mundial.
Fundado no final da Segunda Guerra Mundial para promover a estabilidade econômica mundial, o FMI geralmente concede empréstimos a países como parte de um programa de mudança de políticas econômicas -entre as quais o equilíbrio do balanço de pagamentos ou a redução da inflação, por exemplo- que o tomador se compromete a cumprir.
"O FMI possui uma reputação não muito positiva, pois sempre insistiu em adotar medidas draconianas", disse Allan Meltzer, professor da Universidade Carnegie Mellon de Pittsburgh, que em 2000 liderou uma comissão de investigação do Congresso dos Estados Unidos sobre o FMI.

Perda de influência
A perda de influência do Fundo foi rápida. Nos anos de 1994 e 1995, o órgão concedeu US$ 17,8 bilhões ao México e, em 1997, emprestou US$ 35,1 bilhões à Indonésia, à Coréia do Sul e à Tailândia, para ajudar a amenizar a crise financeira que se abateu sobre esses países.
Há exatos cinco anos, o principal economista do Fundo, Michael Mussa, pediu que as principais economias mundiais se unissem e coordenassem a valorização do euro. Três dias após o apelo, os bancos centrais do G7 (sete países mais industrializados) realizaram a primeira compra de euros, gerando uma alta de 3% no valor da moeda.
Desde então, o aumento da liquidez dos mercados de capital mundiais deu às nações credoras outras fontes às quais recorrer, enquanto as baixas taxas de juros tornaram menos provável a ocorrência de novas emergências financeiras.
"As baixas taxas de juros impedem que as crises aconteçam", diz Morici. "Elas reduzem as dificuldades financeiras nos países tomadores de recursos."
Há pouco tempo, em abril de 2000, o FMI mantinha programas de empréstimos para 25 países, entre os quais Brasil, México e Rússia, no valor de US$ 80,8 bilhões. À época, 11 desses empréstimos superavam a cifra de US$ 1 bilhão.
Em sua mais recente apresentação semanal de demonstrativos financeiros às autoridades reguladoras, o Fundo disse ter apenas 14 programas de empréstimo semelhantes em andamento. Desses, apenas três estavam avaliados em mais de US$ 1 bilhão.


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