São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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Medidas querem "ir à raiz", afirma Bush

Para presidente e Paulson, pacote, que pode chegar a US$ 800 bilhões, deve tentar resolver crise no setor imobiliário

Medidas anunciadas incluem ainda a suspensão de parte das negociações que apostam na queda das cotações das ações

Susan Walsh/Associated Press
Ben Bernanke (Fed), George W. Bush, Henry Paulson (Tesouro) e Christopher Cox (da SEC, atrás), pouco antes do anúncio na Casa Branca

DA REDAÇÃO

Os discursos do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e do secretário do Tesouro, Henry Paulson, ressaltaram que o projeto que deve ser aprovado pelo Congresso precisa "ir à raiz" dos problemas dos mercados financeiros: os ativos ligados a hipotecas imobiliárias que perderam praticamente todo o seu valor depois que os preços das residências começaram a desabar.
"Nós precisamos tomar mais e decisivas ações para fundamental e abrangentemente ir à raiz dos estresses do nosso sistema financeiro", afirmou ontem Paulson, que calculou em "centenas de bilhões de dólares" o preço do pacote.
Segundo a Reuters, a proposta do governo dos EUA é absorver de US$ 500 bilhões a US$ 800 bilhões em ativos imobiliários (hipotecas comerciais e residenciais e títulos lastreados em hipotecas). Pelo plano, esses papéis têm que estar a pelo menos cinco anos nas carteiras das empresas americanas.
"A economia americana está enfrentando desafios sem precedentes, e nós estamos respondendo com ações sem precedentes", disse Bush sobre o projeto, ontem, quando também foram apresentadas medidas que já entraram em vigor, como a suspensão por pelo menos dez dias de parte das vendas a descoberto (em que o investidor aposta na queda das ações) e a garantia em até US$ 50 bilhões dos investimentos em fundos de baixo risco.
Nenhum dos dirigentes deu muitos detalhes de como será o pacote, mas a expectativa é a de que alguns pontos do projeto sejam encaminhados até hoje ao Congresso e que uma agência será criada para assumir os títulos podres das instituições financeiras. O modelo seria parecido ao da Resolution Trust Corporation, criada em 1989 para tentar resolver a crise, iniciada três anos antes, de instituições que captavam recursos de poupança e os emprestavam para a compra da casa própria.
Paulson disse que pretende trabalhar nos próximos dias com o Congresso para que o projeto seja aprovado logo. A presidente do Congresso, Nancy Pelosi, disse que os legisladores ficarão em Washington o tempo necessário para que a lei seja votada. O apoio democrata, a poucas semanas da eleição presidencial, é essencial para a aprovação do pacote, já que o partido (de oposição) tem maioria no Congresso.
As declarações de Bush e Paulson foram feitas em momentos diferentes, mas mostram o desejo do governo de tentar resolver aquele que é considerado o epicentro da crise iniciada no segundo semestre de 2007: o setor imobiliário. De acordo com Paulson, os "ativos de hipotecas ilíquidos estão sufocando o fluxo de crédito que é de importância vital para a nossa economia" e que isso também tem efeitos significativos nos mercados financeiros.
Bush defendeu a aprovação da lei dizendo que o risco seria "muito maior" se o governo não agisse. "Um aumento do estresse nos mercados financeiros causaria perdas maciças de empregos, devastaria contas de aposentadoria e erodiria ainda mais o valor das casas."
Ao assumir os títulos podres, o governo quer retirar a pressão sobre as instituições, permitindo que liberem mais empréstimos, fazendo com que a economia cresça e os mutuários voltem a ficar em dia com os compromissos -o que elevaria os preços dos papéis assumidos pelo governo. "A maioria dos ativos que o governo está pretendendo comprar vai ter um bom valor com o passar do tempo porque a maioria dos proprietários continua a pagar suas hipotecas", disse Bush.
Várias instituições apostaram nos últimos anos em títulos lastreados em hipotecas imobiliárias de alto risco ("subprime"), em um momento em que os valores das residências cresciam a taxas elevadas nos EUA. Quando os proprietários deixaram de cumprir os pagamentos, os papéis perderam valor, deixando as instituições com perdas enormes, o que levou a um corte no crédito.


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