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Crise dificulta acesso a crédito, diz indústria
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O impacto da crise financeira
nos Estados Unidos, com reflexo no mundo, deve ser sentido
pelas indústrias brasileiras a
partir do primeiro trimestre do
ano que vem, segundo avaliam
empresários de vários segmentos industriais. A intensidade
do reflexo da desaceleração do
mercado mundial, segundo dizem, vai depender das condições de acesso ao crédito.
Para Humberto Barbato,
presidente da Abinee (reúne
empresas eletroeletrônicas), é
provável que as empresas do
setor reduzam o ritmo de atividade, "mas não haverá paralisação generalizada, não existe
previsão de retração acentuada
da economia mundial."
Na sua avaliação, a recente
desvalorização do real em relação ao dólar é momentânea,
não deve se sustentar, a ponto
de favorecer os embarques. "O
que está acontecendo agora no
mercado de câmbio é um soluço." A previsão da Abinee para
este ano é de o setor registrar
déficit comercial ao redor de
US$ 23 bilhões.
Merheg Cachum, presidente
da Abiplast (indústria plástica),
diz que o setor, apesar de exportar pouco, está preocupado
com os reflexos da crise: "Se os
EUA compram menos, o resto
do mundo vai sofrer por tabela.
Vamos ter que esperar um pouco para ver como vai ficar a economia dos EUA."
As exportações brasileiras
para os Estados Unidos podem
sofrer redução, diz Gabriel Rico, presidente-executivo da Câmara de Comércio Americana,
mas essa diminuição não oferece "risco comercial" ao Brasil.
"Pode haver mais dificuldade
em exportar. Mas a pauta de exportações brasileira é diversificada. Os EUA continuam sendo
o maior parceiro comercial
brasileiro, mas representam
apenas 13,9% das exportações
totais do Brasil. Não há dependência só dos EUA. Se o peso
fosse de 50%, estaríamos em
um sufoco só."
O Brasil importou 37% a
mais dos EUA de janeiro a agosto deste ano na comparação
com mesmo período de 2007. E
exportou 13% a mais para os
americanos no mesmo período.
"São dados positivos porque
houve aumento da importação
de máquinas e equipamentos
destinados ao aumento da capacidade produtiva e modernização do parque industrial brasileiro. Por outro lado, mesmo
com o "slowdown" da economia
americana as exportações para
aquele país cresceram 13%."
A redução nas exportações
não ocorrerá só com o Brasil,
diz Rico. "Os EUA, disparados,
são o maior importador do
mundo. Todos temem a recessão e todas as economias, como
a chinesa e a indiana, aguardam
o desenrolar dessa crise com
apreensão." Mas, segundo
acredita, a crise é passageira e
seu impacto localizado.
O setor calçadista ainda
aguarda os desdobramentos da
crise, mas não acredita que
seus reflexos serão intensos.
"Com a desvalorização do dólar, o setor se voltou ao mercado interno. As exportações para
os Estados Unidos diminuíram
e para a América Latina cresceram. Mas não há dúvida de que
a cautela aumenta. Estamos em
estado de alerta", diz Saulo
Pucci Bueno, empresário do setor de calçados e diretor regional do Ciesp (centro das indústrias paulistas) em Franca, região com 1.500 empresas.
Para Bueno, um dos reflexos
imediato da crise é a piora nas
condições de acesso ao crédito.
"Os bancos serão, certamente,
mais seletivos, o que dificulta e
encarece o crédito."
No setor gráfico, que reúne
19 mil empresas no país com
200 mil empregados, a crise pode ser sentida mais na importação de equipamentos. "O impacto deve ser sentido mais na
importação de máquinas que
cresceu expressivamente", diz
Alfried Plöger, presidente da
Abigraf (indústria gráfica). Em
2006, o setor importou US$
400 milhões em equipamentos.
No ano passado, chegou a US$
R$ 1,3 bilhão.
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