São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

Próximo Texto | Índice

Mercado Aberto

MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@uol.com.br

"Tributação alta reduzirá investimento"

Depois de inaugurar uma mina de bauxita no meio da floresta, em Juriti, no Pará, Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina, já mira os próximos passos. A Alcoa está de olho na participação na usina de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, que será a segunda maior hidrelétrica do Brasil, depois de Itaipu.
Outra questão que movimenta o setor é o novo código mineral, que poderá elevar os royalties. O governo, que recuou da decisão tomada no marco regulatório do pré-sal, acena com a possibilidade de agir diferentemente na regulamentação do setor de minérios.
Feder entregou ao governo um estudo que coloca a tributação da bauxita no Brasil entre as mais altas do mundo.
"Já está em 35,14% e ainda querem aumentar. Elevar a carga tributária significa menos faturamento, menos investimento. Não tem segredo nisso", diz. Do presidente Lula, que criticou quem cortou investimentos em razão da crise, diz só ter recebido apoio.

 

BELO MONTE
Estamos trabalhando para atuar em Belo Monte. Antes, os autoprodutores (que geram energia própria) não poderiam entrar no leilão. O governo abriu uma possibilidade, mas ainda não decidiu. Nossas condições para entrar: que seja um projeto responsável do ponto de vista ambiental, dos índios e que gere energia de forma barata e competitiva, como em Juriti. Como diz a Marina [senadora (PV-AC)], dá para ter desenvolvimento com responsabilidade ambiental.

LULA
Não recebi críticas do presidente Lula. Só apoio dele e da Casa Civil, da ministra Dilma [Rousseff] e do BNDES. O governo federal é um grande parceiro. Não cortamos nada na crise. Não havia a opção de parar obras. São mais de 20 mil trabalhadores. Imagine o que teria sido paralisar um investimento desse.

CRISE
O Brasil foi o único país no mundo, onde a Alcoa não paralisou investimentos. Continuamos a investir mesmo nos dias mais graves dessa crise. O preço da tonelada de alumínio caiu de US$ 3.300, em junho de 2008, para US$ 1.300 no início de 2009. Hoje está em US$ 1.850. O alumínio entra muito na construção e a crise começou com a bolha imobiliária. Os estoques ainda estão altos: 4,5 milhões de toneladas, o que corresponde a cerca de 60 dias de consumo.

MEIO AMBIENTE
O Ministério Público [no Pará] fez o papel dele [ao questionar a concessão de licença ambiental para a mina]. A Secretaria do Meio Ambiente deu a moradores a propriedade de suas terras, que lhes dá direito a receber royalties. Tínhamos licença para desmatar 1.200 hectares e reduzimos para 800 hectares.

EXPANSÃO
Depois de investir R$ 3,5 bilhões na mina de bauxita no Pará, a Alcoa termina em novembro, a maior expansão da refinaria de alumina (que entra na composição do alumínio), num investimento de R$ 6 bilhões. Em 2010, serão duas hidrelétricas: a de Estreito (divisa do Maranhão com Tocantins), em parceria com a Suez e a Vale, e a da Serra do Facão (divisa de Goiás com Minas Gerais), com Furnas. Juntas custaram R$ 4 bilhões.

"O Brasil foi o único país no mundo onde a Alcoa não paralisou investimentos. Continuamos a investir mesmo nos dias mais graves desta crise"

"Elevar a carga tributária significa menos faturamento, menos investimento. Não tem segredo nisso"

Aumenta o cancelamento de pedidos no setor de eletrônicos

Enquanto muitos setores dão sinais de recuperação, o número de pedidos cancelados cresce na indústria de eletroeletrônicos. Uma pesquisa feita pela Abinee (associação do setor) mostra que 30% das encomendas foram adiadas ou canceladas em agosto, mais que o percentual de julho, de 25%.
Apesar de as vendas em agosto superarem as de julho em 49% das empresas, para 61% delas o resultado é inferior ao do mesmo período de 2008.
"No nosso setor, não podemos dizer que a crise já ficou para trás", afirma o presidente da Abinee, Humberto Barbato.
Para ele, o cancelamento das encomendas é fruto de um excesso de otimismo dos varejistas. "Eles fizeram os pedidos acreditando em uma recuperação mais forte da economia, que não se confirmou. Agora, estão desistindo das compras para segurar os estoques."
Mesmo com o cancelamento de pedidos, em agosto, pela primeira vez no ano, o percentual de empresas que contrataram (21%) funcionários superou o daquelas que demitiram (18%).
Segundo Barbato, a expansão do emprego se explica mais por fatores sazonais do que por uma recuperação da atividade. O motivo é que nesta época do ano a indústria concentra a produção para o Natal.
A sondagem da Abinee aponta que a perspectiva para o fechamento do ano piorou. Em agosto, 62% das empresas esperam queda nas vendas neste ano em relação ao resultado de 2008, dez pontos percentuais acima do índice de julho.
A projeção de Barbato é de queda de 2% a 3% na receita em 2009. "Somos realistas", diz.

ENTRE LENÇÓIS
Amir Slama, estilista de moda praia, está em nova seara. Slama passa a coordenar a equipe de criação da Trousseau. "A marca é clássica e romântica e ele é moderno e gosta de cores. Estamos aprendendo a ver o que não víamos", diz Adriana Trussardi, da Trousseau, onde um jogo de lençóis pode sair por R$ 4.500. Para Slama, moda tem tudo a ver com enxovais. "A gente sai da cama para se vestir e se veste para se deitar. Trago recursos da moda para o lado clássico da grife", diz Slama, que continua com suas criações de moda praia.


Próximo Texto: Mercado projeta "fiasco" fiscal pela 1ª vez
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.