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Mercado projeta "fiasco" fiscal pela 1ª vez
Desde 1999, bancos e consultorias não previam descumprimento das metas de superavit primário adotadas pelo governo
Com queda da arrecadação, avaliação é que setor público não será capaz de poupar montante planejado, mesmo com uso de brechas legais
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Duas pesquisas feitas entre
analistas de bancos e consultorias mostram que, pela primeira vez desde o início do programa de controle da dívida pública, na década passada, o mercado deixou de acreditar no cumprimento das metas fixadas para as contas do governo.
No levantamento Focus, realizado pelo Banco Central, as
previsões coletadas para o desempenho da política fiscal
caem desde abril e, na semana
passada, passaram a apontar a
expectativa de um superavit
primário -a parcela das receitas destinada às despesas com
juros- equivalente a 2,5% do
Produto Interno Bruto no ano
eleitoral de 2010.
Com esse resultado, a meta
fixada para o próximo ano, de
3,3% do PIB, não seria atingida
nem mesmo com a utilização
da brecha legal que permite
descontar do superavit perseguido os gastos com as obras
programadas para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que somam perto de
0,7% do produto.
Pesquisa semelhante feita
pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) encontrou
um prognóstico ainda mais
pessimista: as projeções convergem para um superavit de
apenas 2,1% do PIB.
Em outras palavras, investidores e economistas já avaliam
que União, Estados, municípios e estatais, juntos, não serão capazes de poupar o montante prometido pelo governo
Luiz Inácio Lula da Silva, em
razão da esperada alta das despesas com pessoal, previdência,
programas sociais e obras de
infraestrutura.
Essa descrença do mercado é
inédita desde que, em 1999, o
Brasil passou a seguir a política
de superavit imposta pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional) para deter a escalada da dívida pública e eliminar os temores de um novo calote nos
credores do país.
Ao longo desse período, todas as metas fixadas para os
anos seguintes foram cumpridas com folga. Não por acaso, a
partir de 2000, quando o BC
deu início às pesquisas de projeções econômicas, as expectativas dos analistas para o resultado fiscal passaram a reproduzir os compromissos assumidos pelo governo.
O cenário mudou com a derrocada da arrecadação, que,
após anos de recorde, segue em
queda há dez meses. Em vez de
um corte de gastos que poderia
agravar a crise no país, o governo optou pela redução da meta
de superavit para 2,5% do PIB.
O mercado aposta em 2%.
Embora as metas sejam fixadas em lei, o governo não tem
por que temer uma punição
inédita a ser definida em julgamento do Tribunal de Contas
da União. Não tem sido difícil
criar novas brechas legais para
acomodar os resultados negativos -ainda anteontem, foi proposta a possibilidade de descontar da meta até despesas
com o programa habitacional
Minha Casa, Minha Vida que
nem saíram do papel.
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