São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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Obra desalojará 20 mil pessoas em áreas próximas ao Xingu

DO ENVIADO ESPECIAL AO PARÁ

Pelas contas da Eletrobrás, cerca de 20 mil pessoas terão de sair de suas casas para dar lugar a canais e reservatórios que inundarão 516 km2 de área contígua ao rio Xingu.
Benedito Balão, 75, afirma que a história "esquenta a cabeça demais". Ele nasceu perto da ilha do Itaboca, no rio Xingu, em 1933. Ali conheceu e se casou com Aurina, e hoje o clã Balão, com 20 pessoas, ocupa dois lotes nas barrancas do rio, onde planta mandioca, arroz, feijão e cacau.
Apesar de estar a cerca de 50 quilômetros de Altamira, chegar à casa de Balão não é tarefa trivial, seja de barco, descendo o Xingu, seja de carro, cruzando o Travessão 27, uma pinguela mal conservada, única ligação terrestre com o mundo.
Balão e família já foram informados de que terão de deixar o local futuramente.
Ao lado de sua casa fica o igarapé Gaioso, onde as máquinas de empreiteiros rasgarão o solo para a construção de um canal de drenagem do rio Xingu, com 250 metros de largura e 12 km de extensão.
"Essa gente da Eletronorte vem aqui e fica dizendo que tenho de sair. Tudo que tenho está aqui, não tenho saúde para começar de novo", diz. Sem muita informação sobre o futuro, cabe a esse paraense um solitário protesto: uma placa fincada diante de sua casa resume o sentimento familiar na frase "não quero a barragem de Belo Monte" (veja foto ao lado).
Os efeitos da obra serão percebidos também em regiões mais densamente habitadas. Na periferia de Altamira, um bairro de palafitas vai desaparecer. A precariedade ali é total. Não há esgoto. A água potável é escassa, e os equipamentos urbanos são ineficientes. Cerca de 16 mil pessoas serão retiradas. Vão, conforme promessa, para bairros que serão construídos pelos empreendedores.
É o que ocorrerá ainda com o povoado de Santo Antônio, às margens da Transamazônica, onde ficará o coração da usina, a casa de força principal.


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