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Obra desalojará 20 mil pessoas em áreas próximas ao Xingu
DO ENVIADO ESPECIAL AO PARÁ
Pelas contas da Eletrobrás,
cerca de 20 mil pessoas terão
de sair de suas casas para dar
lugar a canais e reservatórios
que inundarão 516 km2 de área
contígua ao rio Xingu.
Benedito Balão, 75, afirma
que a história "esquenta a cabeça demais". Ele nasceu perto
da ilha do Itaboca, no rio Xingu, em 1933. Ali conheceu e se
casou com Aurina, e hoje o clã
Balão, com 20 pessoas, ocupa
dois lotes nas barrancas do rio,
onde planta mandioca, arroz,
feijão e cacau.
Apesar de estar a cerca de 50
quilômetros de Altamira, chegar à casa de Balão não é tarefa
trivial, seja de barco, descendo
o Xingu, seja de carro, cruzando o Travessão 27, uma pinguela mal conservada, única ligação terrestre com o mundo.
Balão e família já foram informados de que terão de deixar o local futuramente.
Ao lado de sua casa fica o igarapé Gaioso, onde as máquinas
de empreiteiros rasgarão o solo
para a construção de um canal
de drenagem do rio Xingu, com
250 metros de largura e 12 km
de extensão.
"Essa gente da Eletronorte
vem aqui e fica dizendo que tenho de sair. Tudo que tenho está aqui, não tenho saúde para
começar de novo", diz. Sem
muita informação sobre o futuro, cabe a esse paraense um solitário protesto: uma placa fincada diante de sua casa resume
o sentimento familiar na frase
"não quero a barragem de Belo
Monte" (veja foto ao lado).
Os efeitos da obra serão percebidos também em regiões
mais densamente habitadas.
Na periferia de Altamira, um
bairro de palafitas vai desaparecer. A precariedade ali é total.
Não há esgoto. A água potável é
escassa, e os equipamentos urbanos são ineficientes. Cerca
de 16 mil pessoas serão retiradas. Vão, conforme promessa,
para bairros que serão construídos pelos empreendedores.
É o que ocorrerá ainda com o
povoado de Santo Antônio, às
margens da Transamazônica,
onde ficará o coração da usina,
a casa de força principal.
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