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PELA CULATRA
Produção de soja modificada deve crescer de 18% para 25% da safra
MP intensifica comércio de sementes transgênicas
Jefferson Bernardes - 30.jul.00/Folha Imagem
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Produtor do Rio Grande do Sul mostra grãos de soja transgênica |
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
E NO SUDOESTE DO PARANÁ
Editada no mês passado para
proibir o comércio de sementes
de soja transgênica e limitar seu
plantio ao estoque atualmente em
poder dos produtores, a medida
provisória 131 foi um tiro pela culatra do governo federal: acabou
acelerando o comércio da soja geneticamente modificada no país.
Com o plantio liberado, produtores de diversos Estados aceleraram a compra de grãos transgênicos produzidos no Rio Grande do
Sul, intensificando ainda mais o
comércio interestadual que a MP
131 proíbe. Ainda há os que contrabandeiam grãos da Argentina e
do Paraguai.
"Eles [os produtores gaúchos]
vendem legalmente. A soja vai a
granel como grão. É só pagar o
ICMS [Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços] que
ela pode ser transportada legalmente", diz o presidente da Abrasem (Associação Brasileira dos
Produtores de Sementes), Iwao
Miyamoto, 60. O grão de soja é
usado como semente.
Como resultado desse "efeito
colateral", a Abrasem acredita
que no mínimo 25% da safra
2003/2004, cujo plantio começou
no final de setembro, será de soja
transgênica. Da safra 2002/2003, a
Abrasem estima que foram colhidas 9,3 milhões de toneladas de
soja geneticamente modificada
(18% do total colhido).
Fazendeiros e sementeiros
A Agência Folha visitou propriedades no sudoeste do Paraná
e entrevistou sementeiros (produtores de sementes) dos municípios gaúchos de Carazinho, Cruz
Alta e Panambi.
No Paraná, Estado que tenta se
declarar área livre de transgênicos, produtores passaram a admitir abertamente o seu plantio.
Já os sementeiros gaúchos, num
primeiro momento, negaram o
comércio interestadual. Mas, com
a garantia de não ter o nome da
empresa e os seus identificados,
eles admitiram a venda, "legal, de
grãos para outros Estados".
Um sementeiro de Cruz Alta
afirmou que vendeu sementes para cinco Estados (SP, PR, MT, MS
e GO). Segundo ele, das 10 mil sacas de sementes transgênicas que
tinha em estoque, 90% foram
vendidas até a primeira quinzena
de setembro. Já os estoques de soja convencional estavam "encalhados". De um total de 50 mil sacas de sementes convencionais, as
vendas até setembro não atingiram 10% do estoque.
Sem preocupação em se identificar, o produtor Vilmar Francisco Dal Bó, 45, de Pranchita (PR),
decidiu plantar 500 hectares de
soja transgênica. Ele diz plantar
transgênicos há três anos.
"Neste ano vai ser 100% da área
de soja resistente. Escreva aí que
eu não planto soja transgênica,
mas resistente ao Roundup.
Transgênica hoje é qualquer semente melhorada. Ou como você
acha que se conseguiu o milho
que temos hoje ou a melancia sem
sementes? Foi tudo na base da genética", afirma Dal Bó. O Roundup a que ele se refere é o herbicida (glifosato) fabricado pela multinacional Monsanto, a principal
fabricante de soja transgênica.
Também em Pranchita, o produtor Sidinir Devitte, 24, vai, pela
primeira vez, plantar 48 hectares
de soja transgênica. Ele disse que
negociava com um vendedor de
Barracão (sudoeste do PR) a compra de sementes argentinas. "É
um pouco mais cara que a convencional [R$ 84 a saca ante uma
média de R$ 70 da convencional],
mas compensa pela diminuição
do uso de defensivos."
Em Santo Antônio do Sudoeste,
na fronteira com a Argentina, um
produtor que pediu para não ser
identificado preparava o solo para
o plantio de 56 hectares de soja
transgênica. A origem da semente: produtores de Panambi (RS).
O agricultor, no dia em que foi
visitado pela Agência Folha, negociava a compra de mais soja
transgênica gaúcha para ele e vizinhos plantarem na região de
Dourados (MS). "No ano passado
plantei sementes da Argentina e
fiz uma experiência com as sementes gaúchas. Neste ano vou
plantar só sementes do sul, tanto
aqui [no Paraná] como em Mato
Grosso do Sul. Elas são mais
adaptadas à nossa realidade."
Defensor do plantio de transgênicos no país, Miyamoto, da
Abrasem, critica tanto a MP 131
como a proibição, pelo Paraná,
dos transgênicos. "Essas decisões
são só para a mídia. Ninguém está
pensando na cadeia do agronegócio da soja, que pode sofrer as
consequências dessas decisões
demagógicas", disse Miyamoto.
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