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RECEITA ORTODOXA
Excluídos gastos de estatais, governo Lula aplicou R$ 6,9 bi no ano passado, mostra estudo do Tesouro Nacional
Investimento público é o menor desde 84
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os investimentos públicos no
primeiro ano do governo Luiz
Inácio Lula da Silva encolheram a
um ponto que não era visto desde
o último ano do regime militar.
Os números, levados ao debate
ontem no Senado sobre as Parcerias Público-Privadas -principal
alternativa apresentada pelo governo para enfrentar a falta de dinheiro público para investimentos-, foram produzidos pelo Tesouro Nacional, órgão do Ministério da Fazenda.
A série sobre investimentos do
Tesouro atualiza os gastos do governo federal desde 1980, ano de
criação do PT, quando Lula ainda
era líder sindical dos metalúrgicos
no ABC paulista. Não são considerados os gastos das estatais. O
Tesouro atualiza os valores pelo
IGP-DI (índice de inflação que
capta com mais rapidez variação
de preços atrelados ao dólar).
O resultado do levantamento
mostra, no ano passado, o menor
gasto com investimentos públicos
desde 1984. Foram R$ 6,9 bilhões
no primeiro ano de Lula, contra
R$ 6,1 bilhões no último ano completo de mandato do general João
Figueiredo.
A série mostra que os melhores
anos em investimentos públicos
foram 1987, em pleno governo
Sarney -R$ 21,7 bilhões em valores já atualizados-, e 2001, ano
do "apagão" de energia elétrica,
durante o segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso,
quando os investimentos alcançaram R$ 20,9 bilhões. Pelos números, FHC investiu em média R$
15,2 bilhões por ano, mais que o
dobro do primeiro ano de mandato de Lula.
Os números foram apresentados em audiência pública ontem
no Congresso pelo senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE), um dos
principais críticos do projeto de
PPPs do governo. O tucano Jereissati insistiu em que não falta dinheiro ao governo, mas capacidade de gastar.
O senador também levou para o
debate dados sobre o ritmo de investimentos públicos neste ano.
Até o início de outubro, a menos
de três meses para o fim do ano, o
governo havia pago R$ 2,4 bilhões, ou o equivalente a 17,8%
dos investimentos autorizados
pela lei orçamentária para 2004.
Os dados são do Siafi (sistema
de acompanhamento de gastos
federais), alimentado com dados
do Tesouro Nacional.
O chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, Demian Fiocca, não quis comentar os dados imediatamente:
"Deve haver algum engano".
Depois, abastecido com informações de uma exposição recente
do ministro Guido Mantega (Planejamento), Fiocca lembrou que
no mesmo período de 2002, último ano de mandato do ex-presidente FHC, o volume de investimentos pagos era ainda menor do
que o registrado até o final de setembro. Na ocasião, o ministro
Mantega disse que o governo
atingira "velocidade de cruzeiro"
nos gastos públicos.
O ritmo mais lento dos gastos,
destacado na audiência ontem,
atinge os investimentos do Ministério dos Transportes, responsável pela manutenção e pela recuperação das rodovias federais.
Apontado como principal alternativa do governo à falta de recursos públicos para investimentos
em infra-estrutura, o projeto das
parcerias público-privadas ainda
não tem data para ser votado no
Senado. A votação do projeto já
enfrenta um ano de atraso em relação ao cronograma inicial do
governo.
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