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ORTODOXIA
Em estudo encomendado pelo governo, ex-diretor do FMI sugere flexibilização de leis trabalhistas e redução do Estado
Camdessus defende reformas na França
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando era diretor-gerente do
FMI (Fundo Monetário Internacional), o francês Michel Camdessus costumava viajar pelo mundo
receitando soluções duras para as
dificuldades econômicas de vários países. Ontem, ao falar apenas em seu nome, receitou pílulas
amargas aos seus compatriotas.
Camdessus foi convidado por
Nicolas Sarkozy, ministro das Finanças francês, a analisar as razões para a desaceleração na economia do país, ao longo das últimas décadas, e para recomendar
maneiras pelas quais o crescimento possa ser revigorado.
Ontem, ele e sua equipe de 20
assessores publicaram uma resposta. O relatório que ele apresentou é a um só tempo alarmante e
motivo de esperança, e as reformas prescritas são tanto urgentes
quanto viáveis.
O problema, para Camdessus,
está em um paradoxo. Por um lado, a França é um país rico, admirado em todo o mundo por sua
qualidade de vida, serviços públicos e infra-estrutura. Por outro lado, "nós vivemos obcecados com
a perspectiva de declínio, com o
sentimento de que o futuro está
nos escapando e será uma era menos gratificante que o passado".
Os franceses têm motivos para
se sentir assim, de acordo com o
relatório, porque a competitividade de seu país está de fato em declínio. A França não vem conseguindo responder adequadamente aos três grandes desafios da era
contemporânea: a difusão de novas tecnologias, o envelhecimento
da população e a globalização.
No entanto, a gravidade das
ameaças vem sendo contrabalançada por taxas de juros historicamente baixas, pelo desempenho
comparativamente fraco dos parceiros franceses na União Européia e pela introdução do euro,
que protegeu o país da disciplina
corretiva dos mercados.
Se nada for feito, o ritmo anual
provável de crescimento econômico francês cairá dos 2,25%
atuais a 1,75% em 2015, simplesmente por causa do envelhecimento da população. E a França
chegará lá tendo acumulado uma
montanha de dívidas.
Áreas essenciais
A recomendação de Camdessus
é de que o governo se concentre
em três áreas essenciais de crescimento: o emprego, o investimento e o progresso tecnológico.
Segundo suas propostas, o rígido mercado de trabalho precisa
ser liberalizado a fim de reduzir o
nível elevado de desemprego; as
dimensões do Estado e da dívida
pública precisam ser reduzidas, a
fim de criar espaço para o investimento privado; universidades,
pesquisadores do setor privado e
empresas precisam interagir melhor a fim de criar uma "economia do conhecimento".
As reformas bem-sucedidas de
Suécia, Finlândia, Dinamarca e
Reino Unido demonstram que é
possível mudar o rumo de uma
economia, diz Camdessus.
As receitas de Camdessus podem bem abarcar o que existe de
mais moderno nas teorias econômicas, mas será que é viável aplicá-las à França? Um líder do Partido Comunista denunciou o relatório por ameaçar explodir os direitos dos trabalhadores.
Ao elogiar as conclusões do relatório, Sarkozy argumentou que
um crescimento mais rápido poderia reduzir as dificuldades sociais. "A reforma é politicamente
possível quando ela é justa."
Mas há grandes dúvidas sobre a
aceitação das propostas pelos
franceses ou se Sarkozy, rival político do presidente Jacques Chirac,
terá apoio na missão de encontrar
soluções dentro do receituário
proposto pelo estudo elaborado
por Camdessus.
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