São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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MERCOSUL EM CRISE

Diplomata candidato a cargo na OMC rebate críticas de brasileiros e afirma que país incentiva debate "estéril"

Brasil tem atitude "lamentável", diz uruguaio

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A diplomacia brasileira adotou uma atitude "lamentável" quando decidiu criticar as credenciais do uruguaio Carlos Pérez del Castillo para o cargo de diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). O Brasil incentiva também um debate "estéril" quando resolve criticar o desempenho dele em vez de apresentar as qualidades do seu candidato.
A avaliação é do próprio Castillo, que respondeu ontem, em entrevista à Folha, às críticas da diplomacia brasileira. O Brasil apresentou a candidatura do embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa e argumenta que não houve, quando os uruguaios apresentaram a candidatura de Castillo, discussão ou aprovação do nome do uruguaio. Diplomatas brasileiros associam o desempenho de Castillo na OMC ao fracasso da Conferência Ministerial de Cancún, em setembro de 2003.
Castillo diz que sua candidatura foi apresentada aos países do Mercosul em junho, na 11ª Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), que ocorreu em São Paulo. "Consultamos todos os países, inclusive o Brasil. O presidente Jorge Batlle falou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva."
Segundo Castillo, os demais países do Mercosul apoiaram de imediato sua candidatura. "Os brasileiros pediram mais tempo", relata. O uruguaio diz que "é lamentável que, em vez de discutir as virtudes de cada candidato, [o Brasil] esteja desqualificando imerecidamente minha candidatura. O Brasil tem o direito de apresentar uma candidatura, mas não o de desqualificar a minha".
O uruguaio é incisivo quando diz que diplomatas de ambos os países não deveriam "perder tempo com uma discussão estéril, entrando no território das desqualificações pessoais".
"Já expliquei que o meu papel foi levar o documento [base para as negociações] a Cancún. A presidência da Conferência foi do México, que nomeou os facilitadores. Não tive a responsabilidade por Cancún". Castillo era presidente do Conselho Geral da OMC à época.
"Fizemos um esforço muito grande após Cancún. Documento elaborado por mim, o JOB (23)/ 226, foi a base sobre a qual continuaram as negociações. Em matéria agrícola, as recomendações que eu fiz são mais profundas do que as que foram atingidas."

Incômodo
O uruguaio também critica o fato de os brasileiros falarem em nome dos países em desenvolvimento sem terem o mandato para fazê-lo. "Incomodam-me declarações feitas no Brasil em nome dos países em desenvolvimento. Hoje [esses países] são o mais sólido apoio que temos para nossa candidatura. Há pelo menos seis países do G20 que a apóiam. Não creio que os demais estejam dispostos a barrá-la", diz.
Ele diz que, na falta de um consenso entre os países do Mercosul para indicar uma candidatura única, "a concorrência é bem-vinda, mas [deve ser feita] com serenidade". O embaixador uruguaio afirma acreditar que ainda há possibilidade de um acordo. "Oxalá seja assim, espero que o governo brasileiro reveja sua posição. O Brasil tem sido um irmão e sempre teve um papel de liderança na região. É importante termos uma candidatura regional. Se não for assim, cabe aos países membros da OMC decidirem."
A disputa tem data marcada para terminar. O novo presidente da OMC será escolhido em maio. As inscrições para a disputa terminam em dezembro deste ano.


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