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MERCOSUL EM CRISE
Diplomata candidato a cargo na OMC rebate críticas de brasileiros e afirma que país incentiva debate "estéril"
Brasil tem atitude "lamentável", diz uruguaio
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A diplomacia brasileira adotou
uma atitude "lamentável" quando decidiu criticar as credenciais
do uruguaio Carlos Pérez del Castillo para o cargo de diretor-geral
da OMC (Organização Mundial
do Comércio). O Brasil incentiva
também um debate "estéril"
quando resolve criticar o desempenho dele em vez de apresentar
as qualidades do seu candidato.
A avaliação é do próprio Castillo, que respondeu ontem, em entrevista à Folha, às críticas da diplomacia brasileira. O Brasil apresentou a candidatura do embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa e argumenta que não houve,
quando os uruguaios apresentaram a candidatura de Castillo, discussão ou aprovação do nome do
uruguaio. Diplomatas brasileiros
associam o desempenho de Castillo na OMC ao fracasso da Conferência Ministerial de Cancún, em
setembro de 2003.
Castillo diz que sua candidatura
foi apresentada aos países do
Mercosul em junho, na 11ª Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), que ocorreu em São Paulo. "Consultamos todos os países,
inclusive o Brasil. O presidente
Jorge Batlle falou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva."
Segundo Castillo, os demais
países do Mercosul apoiaram de
imediato sua candidatura. "Os
brasileiros pediram mais tempo",
relata. O uruguaio diz que "é lamentável que, em vez de discutir
as virtudes de cada candidato, [o
Brasil] esteja desqualificando
imerecidamente minha candidatura. O Brasil tem o direito de
apresentar uma candidatura, mas
não o de desqualificar a minha".
O uruguaio é incisivo quando
diz que diplomatas de ambos os
países não deveriam "perder tempo com uma discussão estéril, entrando no território das desqualificações pessoais".
"Já expliquei que o meu papel
foi levar o documento [base para
as negociações] a Cancún. A presidência da Conferência foi do
México, que nomeou os facilitadores. Não tive a responsabilidade por Cancún". Castillo era presidente do Conselho Geral da
OMC à época.
"Fizemos um esforço muito
grande após Cancún. Documento
elaborado por mim, o JOB (23)/
226, foi a base sobre a qual continuaram as negociações. Em matéria agrícola, as recomendações
que eu fiz são mais profundas do
que as que foram atingidas."
Incômodo
O uruguaio também critica o fato de os brasileiros falarem em
nome dos países em desenvolvimento sem terem o mandato para
fazê-lo. "Incomodam-me declarações feitas no Brasil em nome
dos países em desenvolvimento.
Hoje [esses países] são o mais sólido apoio que temos para nossa
candidatura. Há pelo menos seis
países do G20 que a apóiam. Não
creio que os demais estejam dispostos a barrá-la", diz.
Ele diz que, na falta de um consenso entre os países do Mercosul
para indicar uma candidatura
única, "a concorrência é bem-vinda, mas [deve ser feita] com serenidade". O embaixador uruguaio
afirma acreditar que ainda há
possibilidade de um acordo.
"Oxalá seja assim, espero que o
governo brasileiro reveja sua posição. O Brasil tem sido um irmão
e sempre teve um papel de liderança na região. É importante termos uma candidatura regional. Se
não for assim, cabe aos países
membros da OMC decidirem."
A disputa tem data marcada para terminar. O novo presidente da
OMC será escolhido em maio. As
inscrições para a disputa terminam em dezembro deste ano.
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