São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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Reunião tenta salvar acordo com UE

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

O Mercosul e a União Européia fazem hoje reunião ministerial convocada de última hora, na derradeira tentativa de salvar a negociação entre os dois blocos para criar o que seria a maior zona de livre comércio do planeta.
É uma corrida contra o tempo porque, no dia 31, termina o mandato da atual Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 25 países, e, com ele, termina igualmente o prazo auto-estabelecido pelos dois lados para concluir a negociação.
Tão contra o relógio é a corrida que o Itamaraty diz que a reunião, no Palácio das Necessidades, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, começa às 16h30 (12h30 em Brasília), mas não tem hora para acabar.
Continuará até durante o jantar, que tanto pode ser de comemoração como de despedida para Pascal Lamy e Franz Fischler, os comissários europeus (espécie de ministros) para Comércio e Agricultura, respectivamente, que deixam seus postos no dia 31.
Na prática, a reunião ministerial parece um desafio para ver quem pisca primeiro. Cada lado chega, pelo menos nas declarações à mídia, cobrando que o outro faça concessões antes para só depois colocar suas melhores ofertas à mesa. O Mercosul cobra, pelo menos, que a União Européia retire os dez anos em que seriam distribuídas as cotas para produtos agrícolas oferecidas ao bloco do Sul. Quer também que a administração das cotas seja feita pelo exportador (no caso, o Mercosul), para evitar distorções.
Os europeus cobram o que chamam de "legítima liberalização". Dizem que o Mercosul não avançou o suficiente nem mesmo na oferta de bens industriais, quanto mais de serviços e de compras governamentais, os dois grandes focos de interesse europeu.
Não houve uma só palavra, até agora, para explicar por que o impasse que rondou a negociação ao longo de 2004 pode ser rompido agora. Na verdade, o encontro de Lisboa só tem uma diferença entre outras reuniões do gênero: está cercado de mais formalidade.
No mais, é a repetição de outras situações semelhantes, na seguinte seqüência: os ministros se encontram, fazem juras de boa vontade, consideram "estratégica" a negociação e passam a bola para os técnicos, que se reúnem e, rapidamente, batem no muro do impasse, com o que se vêem obrigados a novamente chamar os ministros para dar impulso político.
Só neste ano, esse cenário repete-se pela terceira vez com a reunião de Lisboa. A única diferença, ao menos do ponto de vista do Itamaraty, é a criação, na sexta-feira passada, da Coalizão Empresarial Brasil/Argentina, que reúne pesos-pesados dos dois lados e diz ter por objetivo o "aprofundamento crescente da integração econômica", além do "apoio aos respectivos governos no desenho de estratégias comuns de desenvolvimento e de negociação nos foros econômico-comerciais internacionais".
Se as intenções forem levadas à prática, talvez o Mercosul consiga superar suas dificuldades internas, responsáveis, por sua vez, por propostas conservadoras aos europeus, que reagem com ofertas igualmente pouco ambiciosas, fechando o círculo vicioso que está na origem da reunião de hoje.


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