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Reunião tenta salvar acordo com UE
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
O Mercosul e a União Européia
fazem hoje reunião ministerial
convocada de última hora, na
derradeira tentativa de salvar a
negociação entre os dois blocos
para criar o que seria a maior zona
de livre comércio do planeta.
É uma corrida contra o tempo
porque, no dia 31, termina o mandato da atual Comissão Européia,
o braço executivo do conglomerado de 25 países, e, com ele, termina igualmente o prazo auto-estabelecido pelos dois lados para
concluir a negociação.
Tão contra o relógio é a corrida
que o Itamaraty diz que a reunião,
no Palácio das Necessidades, sede
do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, começa às
16h30 (12h30 em Brasília), mas
não tem hora para acabar.
Continuará até durante o jantar,
que tanto pode ser de comemoração como de despedida para Pascal Lamy e Franz Fischler, os comissários europeus (espécie de
ministros) para Comércio e Agricultura, respectivamente, que deixam seus postos no dia 31.
Na prática, a reunião ministerial
parece um desafio para ver quem
pisca primeiro. Cada lado chega,
pelo menos nas declarações à mídia, cobrando que o outro faça
concessões antes para só depois
colocar suas melhores ofertas à
mesa. O Mercosul cobra, pelo menos, que a União Européia retire
os dez anos em que seriam distribuídas as cotas para produtos
agrícolas oferecidas ao bloco do
Sul. Quer também que a administração das cotas seja feita pelo exportador (no caso, o Mercosul),
para evitar distorções.
Os europeus cobram o que chamam de "legítima liberalização".
Dizem que o Mercosul não avançou o suficiente nem mesmo na
oferta de bens industriais, quanto
mais de serviços e de compras governamentais, os dois grandes focos de interesse europeu.
Não houve uma só palavra, até
agora, para explicar por que o impasse que rondou a negociação ao
longo de 2004 pode ser rompido
agora. Na verdade, o encontro de
Lisboa só tem uma diferença entre outras reuniões do gênero: está cercado de mais formalidade.
No mais, é a repetição de outras
situações semelhantes, na seguinte seqüência: os ministros se encontram, fazem juras de boa vontade, consideram "estratégica" a
negociação e passam a bola para
os técnicos, que se reúnem e, rapidamente, batem no muro do impasse, com o que se vêem obrigados a novamente chamar os ministros para dar impulso político.
Só neste ano, esse cenário repete-se pela terceira vez com a reunião de Lisboa. A única diferença,
ao menos do ponto de vista do
Itamaraty, é a criação, na sexta-feira passada, da Coalizão Empresarial Brasil/Argentina, que reúne
pesos-pesados dos dois lados e
diz ter por objetivo o "aprofundamento crescente da integração
econômica", além do "apoio aos
respectivos governos no desenho
de estratégias comuns de desenvolvimento e de negociação nos
foros econômico-comerciais internacionais".
Se as intenções forem levadas à
prática, talvez o Mercosul consiga
superar suas dificuldades internas, responsáveis, por sua vez,
por propostas conservadoras aos
europeus, que reagem com ofertas igualmente pouco ambiciosas,
fechando o círculo vicioso que está na origem da reunião de hoje.
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