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Caixa transfere R$ 5 bi para o Tesouro
Para combater queda nas receitas e equilibrar contas, banco estatal transfere saldo de depósitos judiciais para a União
Medida, já adotada por FHC, deve atingir outros bancos, públicos e privados, após mapeamento dos depósitos feito pelo governo
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ameaçado pela queda nas receitas e com dificuldades para
cumprir as metas fiscais deste
ano, o governo federal vai engordar a sua arrecadação em R$
5,3 bilhões até dezembro por
meio da transferência de depósitos judiciais para a conta do
Tesouro Nacional.
Esse dinheiro não é uma receita definitiva. Se refere a valores depositados por contribuintes para discutir judicialmente a cobrança de impostos
e contribuições. Isso quer dizer
que, se o governo perder essas
ações, que ainda não têm decisão final, terá que devolver os
recursos. Nesse caso, a "arrecadação" some.
Portaria publicada ontem no
"Diário Oficial da União" estabelece que a Caixa Econômica
Federal repasse ao governo o
saldo de depósitos que foram
feitos no banco antes de 1998.
Em outubro, entrarão R$ 5 bilhões. Em novembro, mais R$
300 milhões, e, no mês seguinte, os valores que tenham sido
identificados pelos bancos.
É que o Tesouro terá mais
dessa receita à disposição à medida que esses depósitos forem
sendo identificados em outras
instituições financeiras além
da Caixa, públicas e privadas.
Não há estimativa do dinheiro que está acumulado em todo
o sistema financeiro. O levantamento ainda será feito, e o cronograma de transferência dos
recursos será definido pela Receita Federal e pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.
A medida não é novidade nas
contas públicas. Desde o governo FHC, a Caixa transfere ao
Tesouro o saldo dos depósitos
judiciais feitos depois de 1998.
O governo argumenta que não
se trata de uma receita artificial
porque só 10% do dinheiro que
entra volta aos contribuintes.
Os depósitos judiciais contam como receita da União e,
portanto, ajudam a cumprir as
metas fiscais. Foi o caso, por
exemplo, em agosto, quando o
Tesouro contabilizou R$ 1,8 bilhão de ganho com a transferência desses recursos.
A primeira reação do governo à crise foi reduzir as metas
fiscais. O esforço projetado para este ano era de 3,3% do PIB,
mas poderá cair para até 1,56%,
dependendo da capacidade de
investimento da União. A expectativa da Fazenda era que
essa queda no superavit seria
suficiente para acomodar a
queda na arrecadação. Mas não
foi o que aconteceu. Até agosto,
a receita caiu 6,5% comparada
ao mesmo período de 2008.
A falta de dinheiro em caixa
levou o governo a procurar alternativas para elevar as receitas. Foi nesse contexto que o
ministro Guido Mantega (Fazenda) quis reter R$ 3 bilhões
da restituição do Imposto de
Renda deste ano, mas foi obrigado a recuar após a Folha revelar a medida. O Tesouro também exigiu que as estatais federais pagassem mais dividendos.
Em agosto foram R$ 7,8 bilhões, recorde histórico.
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