São Paulo, terça, 20 de outubro de 1998

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CONJUNTURA
Pesquisa do Bicbanco mostra que empresários cortaram encomendas para o Natal e planejam demissões
Empresas reduzem expectativa para 99

RICARDO GRINBAUM
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A maior parte das indústrias e lojas está reduzindo suas encomendas para o Natal e programando demissões. Segundo 297 executivos ouvidos pelo Bicbanco, na primeira grande pesquisa de campo feita após a alta dos juros, os próximos meses devem ser muito duros.
"Esse é o pior cenário que levantamos desde que começamos a fazer a pesquisa, há dois anos. É a primeira vez que a sondagem traz uma previsão de recessão", diz Paulo Mallmann, diretor financeiro do banco.
O Bicbanco, especializado em empréstimos para empresas, faz a pesquisa quatro vezes por ano. É uma das maiores sondagens com executivos, junto com levantamento da revista Conjuntura Econômica e da CNI (Confederação Nacional das Indústrias).
Mais da metade dos entrevistados pelo banco são diretores financeiros de empresas médias e grandes, com faturamento acima de R$ 50 milhões.
O depoimento dos executivos mostra como a crise econômica já bateu no cotidiano das empresas. Cerca de 45% das indústrias e redes de comércio do atacado e varejo estão com estoques acima do previsto. Por isso, mais da metade dos entrevistados está revendo sua programação de encomendas para o fim do ano.
"É surpreendente. Nas outras pesquisas, os empresários esperavam pelo menos igualar as vendas do Natal do ano anterior", diz Mallmann. Cerca de 39% dos entrevistados prevê um Natal mais fraco do que o do ano passado.
As perspectivas não são melhores para o ano que vem. De cada dez executivos, quatro projetam uma redução nas vendas de suas empresas em 99. O resultado mais animador é que 31% das companhias prevê alta nas vendas acima de 5%.
Os economistas do Bicbanco somaram as projeções dos entrevistados e chegaram a um crescimento médio de 1,8% no faturamento em 99. Seria um resultado mais otimista do que a recessão prevista para o ano que vem por economistas de várias instituições.
O problema é que o aumento no faturamento é insuficiente para superar a alta da inflação prevista pelos próprios entrevistados entre 2,0% e 2,5%, em 99. "Descontando a inflação, a previsão é de queda nas vendas de cerca de 0,5%", diz Mallmann.

Quem deve demitir mais
As empresas já estão programando demissões para fazer frente à recessão. Apesar de 12,5% dos entrevistados planejarem mais contratações em 99, outros 38,5% disseram que sua empresa pretende cortar vagas.
Na média, as respostas apontam para uma redução de 1% no nível de emprego em 99. "Como a População Economicamente Ativa deve crescer 1,5%, a taxa de desemprego deve subir dos atuais 7,5% para cerca de 10%", diz o economista do Bicbanco, Luiz Rabi Jr.
As empresas que pretendem demitir mais são as ligadas à produção agropecuária e as indústrias de bens de capital, que fabricam máquinas e equipamentos. Como esses fabricantes de maquinário estão entre os mais pessimistas, Mallmann acredita que deverá ocorrer uma queda nos investimentos previstos para vários setores da economia em 99.
O engavetamento de planos de expansão se deve à frustração dos resultados em 98. Mais da metade dos entrevistados venderam menos do que o esperado no terceiro trimestre do ano. A maior decepção ocorreu no setor de bens de consumo duráveis, como carros e eletrodomésticos.
Para 64,9% das empresas, as vendas cresceram menos do que 2,5% em relação ao mesmo período do ano passado, sem descontar a inflação. Na média, as empresas apresentaram uma queda de 2,9% em seu faturamento em relação ao terceiro trimestre de 98.



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