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ARTIGO
Idéias para a reforma tributária
MARIO AMATO
A própria palavra imposto (do
latim "impositu", "realizar à força") indica tratar-se de uma imposição. Desde priscas eras, as pessoas praticam malabarismos para
se livrar dessa obrigação. Em todos
os países o imposto existe como
forma de dar ao governo os meios
necessários para que ele custeie a
administração de serviços não especificados.
No entanto estudos antigos e
modernos indicam que, quanto
maior o imposto, maior será a sonegação e, consequentemente,
menor a arrecadação.
Esse círculo vicioso funciona desordenadamente, como uma guerra perversa, na qual não há vencedores, pois, quanto maior a sonegação, maior a fiscalização, culminando com a possibilidade de a
despesa para arrecadar ser maior
do que o valor do tributo arrecadado.
A administração de serviços não
especificados nem sempre observa
o sentido da prioridade em relação
aos problemas de saúde, educação,
habitação, transporte, saneamento
básico, segurança pública, infra-estrutura em geral. Não raro, o que
devia ser prioritário passa a ser secundário, para atender às pressões
políticas resultantes de acordos a
que se obriga o governo, forçado a
acolher pedidos de recursos para
obras faraônicas, idealizadas por
demagogos, que com elas enganam o povo e se vão perpetuando
no poder.
Tudo isso é agravado pelos maus
administradores de Estados e municípios, que têm o Orçamento
próprio comprometido com o empreguismo desenfreado de funcionários mal pagos e insatisfeitos
(embora haja casos em que se contam cerca de 5% de funcionários
protegidos, que ganham mais do
que o total dos funcionários empregados).
Há municípios que não arrecadam sequer para pagar as suas Câmaras de Vereadores. Esses maus
administradores voltam-se, então,
com voracidade para os recursos
da União, valendo-se da atuação
de políticos que trabalham visando o próprio interesse eleitoreiro e
quase nunca o interesse do país.
Essa é a realidade política do nosso querido Brasil, privilegiado por
Deus com um clima saudável, terra, sol e água em abundância. Talvez seja por isso que o seu povo
não se conscientizou da necessidade de encontrar soluções para seus
mais sérios problemas. Enquanto
isso as mazelas do país são cantadas em prosa e verso por sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e sociais e economistas das
mais variadas tendências. Todos se
apegam aos efeitos e quase nunca
apresentam soluções para as causas.
As reformas que se fazem indispensáveis estão paradas no Congresso, talvez porque os representantes do povo que ali têm assento
não se tenham dado conta de que a
crise asiática é a crise de todo o
mundo e de que nós, brasileiros,
fazemos parte desse mundo.
No caso específico da reforma
tributária, o grande problema consiste em como arrecadar onde o
imposto seja suportável e fazer que
todos paguem de forma equânime.
Muitos são só interesses que permeiam a ação arrecadatória. O
emaranhado de impostos, taxas,
serviços dificulta de tal ordem a arrecadação que as pessoas honestas
e sempre dispostas a pagar encontram dificuldades para fazê-lo.
Existem muitos estudos visando
a uma reforma tributária. O imposto mais combatido é a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), porque,
embora indiscriminado, assume a
forma de cascata. Mas é o único
que tem funcionado, porque todos
pagam proporcionalmente ao que
ganham.
Faz-se oportuna uma pergunta: e
se fosse encontrada uma fórmula
para dar uma compensação, uma
espécie de desconto, para compensar desajustes, sempre e quando a
arrecadação atingisse produtos essenciais e também a exportação, a
educação, a habitação?
As universidades, a meu ver, deveriam ser chamadas a opinar, a
produzir estudos técnicos sobre o
assunto, mas sem demora, porque
a reforma tributária não pode esperar. O objetivo é desburocratizar, reduzir a carga tributária, tornar impossível a sonegação e dar
ao imposto o princípio da equidade por meio da compensação. Escoimar, o que não é fácil, produtos
competitivos, principalmente os
que compõem a cesta básica. A arrecadação por meio dos bancos
tem se mostrado mais eficiente,
menos onerosa e mais rentável; a
única em que a sonegação é controlável.
Mario Amato, 79, empresário, é presidente-emérito da Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de 1994 a
95.
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