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LUíS NASSIF
A bomba da aposentadoria
Nos últimos anos, o governo
federal deu início a uma importante limpeza de passivos
públicos. Vários ossos foram
tirados do armário e as dívidas, equacionadas.
Mas o principal esqueleto
continua intocado, que é o
passivo previdenciário do setor público. Recentemente, o
Ministério da Previdência Social procedeu ao mais completo levantamento até agora feito sobre o tema. Sobressai daí
um quadro tenebroso -para
dizer o mínimo, de quase impossibilidade de equilibrar o
fluxo de caixa atual -quanto
mais, garantir o aumento de
fluxos futuros.
O levantamento foi efetuado
para permitir ao ministério
orientar e conduzir as unidades federativas a um trabalho
de equacionamento do problema, explica o ministro Waldeck Vieira Ornélas.
Mas não será tarefa fácil. E,
se o governo pretender reconhecer os passivos atuariais
(como seria correto), o nível
da dívida pública assumirá
níveis astronômicos.
Na maioria das unidades da
federação o pagamento das
aposentadorias e pensões mistura-se com a folha de salários. E, na maior parte dos casos, está comprometendo fatias cada vez maiores do Orçamento.
Alguns dos indicadores levantados:
1) No índice Aposentadoria+Pensão/Pessoal, o pior indicador é o da União, com
45,20%, enquanto nos Estados
a soma total é de 31,3%. O Estado em pior situação é o Rio
Grande do Sul, com o índice
de 35,8%. O de melhor situação é o Ceará, com 18%.
2) No índice Aposentadoria+Pensão/Receita Corrente
Líquida, a União está com
25,10%, contra 21,10% dos Estados. O Estado em pior situação é de novo o Rio Grande do
Sul (33,3%) e o em melhor situação é a Bahia (10%).
3) No índice Aposentadoria+Pensão+Pessoal/Receita
Corrente Líquida, a União está com 55,5% e os Estados,
com 67,5%. Os Estados em
pior situação são Rio Grande
do Sul (84,9%), Rondônia
(83%), Minas Gerais (80%),
Rio de Janeiro (79,7%) e Distrito Federal (77,3%). Em melhor situação, o Amazonas
(42,5%), Tocantins (43,8%),
Paraíba (45,7%), Bahia
(52,5%) e Mato Grosso
(60,7%). No Centro-Oeste a
relação chega a 67,5%, no Sul,
a 75,1%, no Sudeste, a 68,3%,
no Nordeste, a 61,7%, e no
Norte, a 57,4%.
Alíquotas
Uma das conclusões mais
dramáticas do trabalho é sobre a alíquota de equilíbrio
-a alíquota necessária para
equilibrar o fluxo corrente das
aposentadorias e pensões, sem
recorrer aos recursos orçamentários.
Na União, a alíquota média
(computando ativos e inativos) é de 6% sobre os salários.
A alíquota de equilíbrio deveria ser de 82,4% para os trabalhadores da ativa, e a alíquota
média total, de 45,2% -ou seja, um aumento de 39,4 pontos
percentuais.
Nos Estados, a alíquota média é de 7%. Precisaria saltar
para 46,1% dos trabalhadores
na ativa para se chegar à alíquota de equilíbrio média de
31,6%.
Os Estados que exigiriam
aumentos mais drásticos da
alíquota seriam Goiás
(34,4%), Rio Grande do Sul
(31,8%), Rio de Janeiro
(31,8%), São Paulo (30,8%),
Paraná (28,4%). Os Estados
em melhores condições são
Tocantins (-2,5%), Rondônia
(-1,1%), Roraima (1%), Acre
(1,4%) e Mato Grosso do Sul
(5,1%). Note-se que os Estados
em boas condições são os mais
novos, cuja folha de aposentadoria obviamente é menor, pelo pouco tempo de vida.
Pirâmide salarial
Os Estados em que há maior
concentração de renda (relação mais de 15 salários mínimos/total) são Distrito Federal (24,4%), Amapá (14,5%),
São Paulo (12,2%), Rio Grande do Sul (9,5%) e Rondônia
(9,5%). Entende-se em Estados mais industrializados, que
oferecem serviços mais sofisticados a seus contribuintes.
Mas chama a atenção a disparidade em novos Estados, como Amapá e Rondônia.
Salário de juízes
Durante semanas a proposta
de aumento de salários dos
juízes federais foi tratada como medida antinacional, levando a uma reação de linchamento contra toda uma
categoria profissional.
Da Folha de ontem:
"O ministro Pedro Malan
(Fazenda) reconheceu que o
abono autorizado pelo STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
a seus ministros e aos juízes federais não provocará aumento de despesas em relação ao
que está previsto na reforma
administrativa".
"(...) Sua implementação
significa a aplicação antecipada desse teto, que pode ser de
R$ 10.800 ou R$ 12.720. Pádua
Ribeiro levou em considerou a
proposta de teto mais baixa,
R$ 10.800. (...) Na avaliação
do Tesouro Nacional, o aumento para os ministros do
STJ "reproduziu o quanto contido no texto constitucional,
nada acrescentando aos efeitos pecuniários gerados pela
reforma administrativa'."
"Com relação ao aumento
variável para os juízes, o Tesouro considera que "a lei adotou a alternativa mais econômica'. Acrescenta que "acabou
por restringir uma potencial
fonte de dispêndios inserida
na reforma'."
Quando vamos aprender
que a unanimidade é a maneira mais simples de não se
chegar à verdade?
Telemar
A operação Telemar passa
pela Bahia, pela rua São Bento, pela rua Lopes Quinta, por
Roma e pelo Ceará. O pólo das
articulações é o restaurante
Mosteiro, no Rio, onde tudo
acontece.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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