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MERCADO TENSO
Governo pode apresentar hoje apenas contornos genéricos do ajuste fiscal; detalhes ficam para próxima semana
Pacote deverá sair só após segundo turno
da Sucursal de Brasília
A divulgação oficial das medidas
do programa de ajuste fiscal deve
ser feita apenas depois do segundo
turno das eleições, que acontece
domingo. Segundo a Folha apurou, os "detalhes" do programa ficariam para a semana que vem.
Hoje, o presidente Fernando Henrique Cardoso pode autorizar o
anúncio do pacote fiscal "de forma
genérica". Segundo assessores do
presidente, o que pode ser anunciado antes das eleições são as metas "mais gerais" do pacote como
as promessas de superávit nas contas públicas de 1999 a 2001, o tamanho dos cortes de gastos e a possibilidade, já admitida anteriormente, de aumento de impostos.
O anúncio genérico das medidas,
que seria feito pelo ministro Pedro
Malan (Fazenda), também pode
ser adiado por conveniências políticas. O governo teme um efeito
negativo para os candidatos aliados do Planalto que disputam o segundo turno no domingo.
Ontem à noite, Malan tinha um
encontro marcado com o presidente. A reunião serviria para FHC
decidir o momento mais apropriado e a estratégia de divulgação oficial do pacote.
O pacote, segundo a Folha apurou, já está fechado. Será, como
previsto anteriormente, entregue
hoje pelo ministro Malan ao presidente FHC, que já conhece o conteúdo das medidas.
No dia 8 deste mês, em seu primeiro discurso como presidente
reeleito, FHC anunciou que sua
equipe econômica entregaria o pacote fiscal hoje, dia 20 de outubro.
Na ocasião, FHC disse o seguinte: "Pedi à área econômica que até
o dia 20 de outubro nos apresente
um programa de ajuste fiscal para
os próximos anos". Mais adiante
em seu discurso, ao dizer que não
provocaria "sustos", o presidente
completou: "Isso significa que,
com esse programa que vai ser
apresentado até o dia 20, o Brasil
todo vai discuti-lo".
Até ontem à noite, não havia nenhuma decisão sobre uma possível
entrevista de Malan hoje porque
FHC pode optar por divulgar as linhas gerais somente depois que se
reunir, amanhã, com os líderes dos
partidos que o apóiam.
O anúncio genérico representaria uma sinalização do Brasil para
o mercado internacional de que o
país vai adotar medidas rígidas para reduzir seus gastos.
A estratégia é tornar públicas as
metas fiscais em relação ao PIB
(Produto Interno Bruto), indicando aos investidores que o principal
impacto das medidas será em 1999.
O governo já divulgou, por
exemplo, que um dos compromissos acertados com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) é obter
um superávit primário (receitas
menos despesas, excluindo gastos
com juros da dívida) do setor público entre 2,5% e 3% do PIB no
próximo ano.
Uma postergação do anúncio do
pacote para a semana que vem
preocupa FHC e sua equipe. As
ponderações que são feitas dentro
do governo são as seguintes:
1) reação do mercado - embora o
ambiente internacional esteja agora um pouco mais favorável ao
país, nada nem ninguém garante
que é possível esperar mais uma
semana para anunciar as medidas.
Além disso, o mercado poderia interpretar nesse atraso uma suposta
fraqueza do governo em relação a
seus interesses políticos;
2) risco para aliados - como vários candidatos aliados do governo
ainda estão disputando voto a voto
o segundo turno nos Estados,
qualquer notícia sobre aumento de
impostos poderia atrapalhar;
3) anúncio casado - é consenso
no governo que o conteúdo do pacote deve ser divulgado de forma
simultânea para o Congresso e para a sociedade. Se apenas os líderes
governistas forem informados, é
quase certo que as medidas acabariam aparecendo na imprensa.
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