São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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"Crise de confiança" derruba a Bovespa

Queda de 3,5% acompanha mau desempenho do mercado global; Bolsas caem 1,6% em Nova York e 2,7% em Londres

Aumenta o temor de que a crise nos mercados imobiliário e financeiro dos EUA tenha efeito mais forte sobre a economia do país

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise nos mercados imobiliário e financeiro dos EUA voltou a derrubar os mercados pelo mundo ontem, após novos sinais de que ela poderá abalar mais profundamente a maior economia do planeta e grandes corporações financeiras.
A Bovespa sofreu forte queda de 3,52%, na esteira do mau desempenho do mercado acionário global. As operações de câmbio também refletiram o humor mais hostil dos investidores, e o dólar subiu 1,20% diante do real, para ser vendido a R$ 1,768.
As Bolsas americanas iniciaram os pregões em terreno negativo repercutindo o rebaixamento da avaliação do Citigroup, maior grupo financeiro dos EUA, pelo Goldman Sachs. Houve também a divulgação de perdas vultosas na gigante européia do segmento de resseguros Swiss Re. A companhia reportou previsão de perdas de US$ 1,1 bilhão como reflexo de sua exposição a papéis atrelados ao setor de crédito imobiliário americano, epicentro da crise deflagrada em julho.
O índice Dow Jones, que reúne as ações mais negociadas na Bolsa de Nova York, caiu 1,66%. A Bolsa eletrônica Nasdaq, com papéis do setor de tecnologia, também perdeu 1,66%.
O pregão em Londres foi ainda pior, recuando 2,71%. Em Frankfurt, a Bolsa perdeu 1,32%, e em Tóquio, 0,74%.
O Citigroup teve sua recomendação rebaixada pelo Goldman Sachs devido ao pessimismo em relação aos resultados do banco nos próximos dois trimestres. Os papéis do Citigroup caíram 5,1% ontem.
Na Europa, as ações do Northern Rock -banco britânico especializado em crédito imobiliário- desabaram 21,4% após as propostas para compra da instituição serem consideradas fracas. O banco teve sérios problemas de caixa em meio à crise do setor habitacional, recebendo um crédito emergencial estimado em US$ 6 bilhões do governo em setembro.
"A queda da Bovespa foi influenciada pelo dia de perdas no exterior. Mas não vejo nenhuma mudança de tendência para o mercado local", afirmou Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra. "Mais do que a crise do "subprime", vivemos agora uma crise de confiança. Há muita insegurança em relação aos resultados corporativos, não se sabe se toda a contaminação da crise do "subprime" já apareceu nos balanços", completa.
A crise que abalou o setor de crédito habitacional de alto risco americano (o "subprime") e começou a contaminar o humor do mercado financeiro global no fim de julho tem mostrado seu poder de estrago nos balanços trimestrais que grandes instituições financeiras internacionais vêm divulgando nas últimas semanas.
Na semana passada, a Bovespa caiu 4,34% logo na segunda-feira. Mas se recuperou nos dias seguintes e acumulou alta de 0,45% na semana.
A Bovespa ainda é o principal destaque do mercado brasileiro no balanço anual, com valorização acumulada de 40,16%. Os fundos de renda fixa, que rendem juros, têm retorno médio de 10% em 2007. Mas os analistas sempre alertam que ganhos passados não são garantia de ganhos futuros.
No pregão de ontem só uma das 63 ações do índice Ibovespa (a da Telemig) escapou das perdas. Dentre os papéis mais negociados e com maior peso no resultado final da Bolsa, destacam-se as desvalorizações de Bradesco PN, que caiu 5,01%, Vale do Rio Doce PNA (-3,55%) e Petrobras PN (-1,90%).
O banco PanAmericano fez sua estréia na Bovespa ontem. Após chegar a subir quase 8%, as ações fecharam estáveis.
Hoje, enquanto as Bolsas brasileiras estiverem fechadas devido a feriado em São Paulo, será divulgada a ata do último encontro do Fed (o BC dos EUA), que poderá mexer ainda mais no mercado global.


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