São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

Parou por quê?


No nível atual, de 11,25%, os juros são uma aberração no país; não há justificativa para que a Selic pare de cair

DIAS ATRÁS , o ex-presidente do Banco Central americano Alan Greenspan, durante evento nos EUA, fez um eloqüente elogio à economia brasileira. "O Brasil vai muito, muito bem, melhor do que se esperava", disse Greenspan.
Observe-se que o velho guru da economia mundial repetiu duas vezes o advérbio de intensidade "muito". Não poderia haver depoimento mais significativo sobre a maneira pela qual a comunidade internacional avalia o atual momento da economia brasileira. Quem viaja pelo mundo observa seguidas manifestações semelhantes, tanto nos Estados Unidos como na Europa.
Por que, afinal, a imagem brasileira mudou tanto no cenário externo?
É obvio que essa mudança se deve aos avanços conseguidos no país em matéria de estabilidade de preços, no equilíbrio fiscal e na notável melhoria das contas externas, que levaram o país a ter seguidos superávits comerciais, e no balanço de pagamentos, com a acumulação de reservas cambiais de US$ 170 bilhões.
Mas não é só isso. Há um fator importantíssimo, às vezes relegado: o crescimento da produção.
Quem tiver o cuidado de consultar as tabelas publicadas semanalmente pela revista "The Economist" poderá observar o seguinte: um ano atrás, o Brasil era o lanterna de uma lista de 32 países emergentes em matéria de crescimento econômico.
Os dados relativos ao segundo trimestre do ano passado mostravam que o Brasil crescia a uma taxa anual de apenas 1,2%. Todos os demais países ostentavam expansão pelo menos próxima de 4% ao ano. Muitos, como China, Índia e Rússia, cresciam 8% ou mais.
O Brasil era, portanto, um vexame internacional em matéria de crescimento. Durante o maior período de expansão da economia mundial, o país, mesmo tendo conseguido a estabilidade macroeconômica havia mais de dez anos, passava um atestado de incompetência por não conseguir acompanhar o ritmo dos demais países, fossem eles emergentes ou desenvolvidos.
Em apenas um ano, a situação mudou bastante. A mesma tabela da "The Economist" agora põe o país em uma situação intermediária. Ao terminar o segundo trimestre, o ritmo anual de crescimento do país estava em 5,4%. Com essa taxa, que não é nenhuma sensação, o Brasil subiu na tabela e deixou para traz uma dezena de emergentes. Está ainda longe da liderança (China, com 11,5%, e Índia, com 9,3%), mas saiu da "zona de rebaixamento".
Que milagre foi esse? Por que o país subiu nesse ranking? Uma das razões foi o ambiente positivo gerado pelos ainda incipientes investimentos públicos em infra-estrutura. A razão principal, porém, foi a mudança da política monetária.
Nos últimos dois anos, o Banco Central reduziu a taxa básica de juros 18 vezes -de 19,75% em setembro de 2005 para os atuais 11,25%. Mas o nível atual ainda é uma aberração em matéria de juros reais.
Ao prescrever suas "receitas" para o desenvolvimento, o professor Dani Rodrik, da Universidade Harvard, sugeriu que, em vez de aderir a modismos do exterior, os países devem experimentar soluções peculiares que lhes permitam driblar estruturas arraigadas que inibem o crescimento. E disse que o Brasil, atualmente, está limitado pela inadequada oferta de crédito.
E a oferta é inadequada não por escassez de crédito, mas porque os custos ainda são exorbitantes e amedrontam empreendedores pequenos e médios. Não há justificativa para que a Selic pare de cair. Vale, então, a pergunta irreverente do coro de multidões: Por que parou, parou por quê?


BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.
bvictoria@psi.com.br


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