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Aneel ignora pedido de CPI sobre tarifa
Sem resposta sobre erros que aumentaram conta de luz, CPI tenta obter da Câmara mais 30 dias para concluir relatório
Para órgãos de defesa do consumidor, blecaute é usado para abafar erro que transfere dos consumidores R$ 1 bi/ano às distribuidoras
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) ignorou os
prazos dados pela CPI das Tarifas de Energia Elétrica para
apresentação dos relatórios
com as informações sobre
quanto cada uma das 63 distribuidoras do país recebeu a mais
dos consumidores brasileiros
durante pelo menos sete anos.
A CPI pediu ontem mais 30
dias para fechar o relatório em
razão desse descumprimento.
Dos 17 requerimentos, a Aneel
entregou parcialmente três.
Um erro no contrato de concessão transfere todos os anos
pelo menos R$ 1 bilhão de forma indevida dos consumidores
para o bolso das concessionárias, segundo cálculos do TCU
(Tribunal de Contas da União).
O problema, revelado pela
Folha em 18 de outubro, obrigou a Aneel a chamar uma consulta pública para uma inédita
alteração da fórmula do reajuste tarifário prevista no contrato
de concessão.
Segundo o deputado e presidente da CPI, Eduardo da Fonte (PP-PE), a data para a entrega das informações expirou dia
11, dia seguinte ao blecaute que
deixou 18 Estados às escuras.
Uma semana depois, a Aneel
afirma que não tem mais qualquer previsão sobre quando entregará as informações à CPI.
De forma oficial, a Agência
alega dificuldades para compilar as informações num relatório para a CPI, sobretudo depois do colapso no abastecimento de energia do país, episódio que mobilizou autoridades do setor elétrico brasileiro.
A CPI considerou o episódio,
mas acha que o blecaute começa a ser usado como desculpa
pela agência para esfriar o problema na conta de luz.
No pedido protocolado na
Câmara dos Deputados, o presidente da CPI justificou o pedido: "A Aneel vem deliberadamente postergando o atendimento dos requerimentos de
informação aprovados, o que
está obstruindo os trabalhos da
comissão e prejudicando a elaboração do relatório final".
Consumidor
O Procon-SP (Procuradoria
de Defesa do Consumidor do
Estado de São Paulo) encaminhou ofício à CPI pedindo que,
a despeito do blecaute, a comissão mantenha a pressão sobre a
agência para uma solução para
o caso. A Pro Teste, órgão de defesa do consumidor mais
atuante em São Paulo, acha que
o blecaute da semana passada
pode estar sendo usado numa
tentativa de esquecimento do
problema da conta de luz.
Segundo Maria Inês Dolci,
coordenadora da Pro Teste, a
Aneel não respondeu até agora
aos pedidos feitos pela instituição num processo administrativo protocolado no dia 22 de
outubro na agência. A entidade
pede mudança no contrato
(providência já em andamento)
e resposta sobre como ocorrerá
a compensação aos consumidores dos valores pagos a mais.
Até esta semana, o processo
nem sequer havia sido encaminhado à procuradoria da agência. "O apagão abafou o problema. A Aneel alega que está correndo atrás da história do blecaute, dessa forma está tirando
o foco da discussão sobre a conta de luz", afirma Maria Inês.
Ela avalia que a demora em
oferecer uma resposta só agrava a situação da direção da
Aneel. Como reconhece a distorção e não deu uma solução, a
agência, diz, pode ser acusada
de omissão, o que abre possibilidade de ações por improbidade administrativa.
A decisão da CPI de apertar a
Aneel ganhou força depois que
a agência desmarcou pela segunda vez uma reunião na qual
apresentaria as providências
tomadas até agora para resolver o erro na conta de luz. Na
quarta-feira da semana passada, o encontro com membros
da comissão foi desmarcado
devido ao apagão. A reunião
ocorreria na quarta e, novamente, foi desmarcada pela direção da agência para hoje.
À reportagem da Folha, a
Aneel já disse que vai calcular
os valores cobrados a mais dos
consumidores, mas não vai editar qualquer norma para compensação compulsória dos recursos aos consumidores. No
máximo, fará a compensação
se uma distribuidora "voluntariamente" pedir.
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