São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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CENÁRIO EXTERNO
Camdessus diz que o "plano audaz" do governo evitará que a região seja vítima da crise russo-asiática
'Brasil segura dominó latino', diz FMI

das agências internacionais

O pacote de ajuda externa ao Brasil e políticas prudentes dos governos latino-americanos deverão ser suficientes para amparar a região em meio à crise financeira global, afirmou Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"O dominó latino-americano não vai cair", disse ontem Camdessus, em uma assembléia anual da Federação de Bancos Latino-Americanos realizada no Panamá. O FMI lidera um socorro de US$ 41,5 bilhões ao Brasil, anunciado na sexta-feira passada.
Durante o discurso, Camdessus direcionou um aviso àqueles que chamou de "frívolos do mercado internacional": a região não será vítima da crise russo-asiática graças "ao plano audaz" de reforma estrutural do Brasil.
Camdessus afirmou ainda que, diferentemente dos países asiáticos, os latino-americanos haviam adiantado as reformas econômicas necessárias para enfrentar a turbulência do sistema financeiro, embora nem todos com a mesma velocidade.
O diretor-gerente do FMI disse que a ajuda ao Brasil estará à disposição do país antes que ocorra uma nova fuga de capitais.
Michel Camdessus afirmou também que o governo brasileiro não vai precisar renegociar sua dívida de curto prazo.
O dirigente do Fundo declarou sua "confiança na política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso". Ele advertiu, no entanto, que bancos nacionais e internacionais devem apoiar o Brasil.
Para Camdessus, a instabilidade do mercado, a fragilidade das instituições bancárias e a falta de transparência e de controle nos movimentos de capitais provocaram um salto atrás na evolução do sistema financeiro.
"Poucos são hoje os países que se beneficiam do enorme potencial da globalização", disse o diretor-gerente do Fundo.
Se os fluxos de capitais fossem mais previsíveis, segundo ele, haveria maior possibilidade de empreender o desenvolvimento sustentável das nações.
Camdessus anunciou que um FMI "renovado, dotado de instrumentos adequados e de fortaleza econômica", prepara-se para cumprir a tarefa de diagnosticar mais rapidamente as crises financeiras e de controlar a liberação ordenada dos capitais.
O dirigente do Fundo afirmou que as futuras missões do organismo internacional serão "mais inquisitivas e curiosas" a fim de que não se repita o descalabro asiático e russo.
"Não se deve desenvolver relações incestuosas entre o Estado, os bancos e as empresas", afirmou o diretor do Fundo.
Ontem, o FMI divulgou em Washington (EUA) mais detalhes sobre o socorro financeiro ao Brasil. No começo de dezembro, o comitê executivo do Fundo vai se reunir para aprovar o programa de ajuda ao país que deve se estender por três anos.



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