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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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FRAUDES DO CAPITAL

Banco liberou R$ 25,9 mi para a companhia em outubro

Parmalat recebeu crédito do BNDES

Max Rossi/Reuters
Produtos da Parmalat, empresa italiana que vem perdendo participação de mercado no Brasil


SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas da eclosão da crise do grupo italiano Parmalat, o BNDES liberou, em outubro, R$ 25,9 milhões para a subsidiária brasileira. O financiamento ainda está dentro do prazo de carência de 12 meses e, segundo o banco, está garantido por carta de fiança de bancos de primeira linha.
Na semana passada, a Parmalat suspendeu o pagamento a fornecedores de leite, levantando no mercado preocupações quanto à saúde financeira das operações brasileiras e à sua capacidade de honrar os compromissos com outros credores.
Ontem, no final do dia, a empresa comunicou às 11 cooperativas do Estado do Rio de Janeiro, principais credores, que quitará no dia 29 os R$ 2,3 milhões já vencidos. O restante, de igual valor, será pago no dia 5 de janeiro.
A empresa, entretanto, continua envolvida na crise da matriz. Ontem, a S&P (Standard & Poor's) rebaixou o rating do grupo italiano de "CC" (um dos mais baixos), conferido no dia 10 deste mês, para "default". A decisão, segundo comunicado da agência de "rating", deve-se ao não-pagamento da opção de venda de 18,8% das ações da Parmalat brasileira, em poder do Bank of America, que venceu na quarta-feira.
O grupo italiano teria de desembolsar, na ocasião, US$ 400 milhões para recomprar os papéis, segundo o contrato firmado em 1999. Esse foi o valor conferido ao pacote de ações da subsidiária brasileira há quatro anos.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, o negócio surpreendeu o mercado na época, pois o valor atribuído a uma participação minoritária na Parmalat brasileira foi considerado superestimado. Os analistas costumam avaliar uma empresa em uma vez e meia o seu faturamento. Em 1999, a Parmalat brasileira faturou R$ 1,025 bilhão, o equivalente a US$ 570 milhões (de acordo com o dólar médio de 1999). Por esse raciocínio, a Parmalat brasileira valeria, então, US$ 860 milhões.
Esse foi um dos muitos episódios que marcaram a agressiva gestão da Parmalat no passado. "A empresa entrou no Brasil em 1972 e, no final dos anos 80, saiu comprando tudo o que via pela frente, sem estratégia definida", diz Rodrigo Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária Leiteira da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
A expansão da empresa no Brasil deu-se à custa de financiamento externo. Apesar de carregar dívidas em moeda estrangeira, a Parmalat brasileira era conhecida no mercado por não fazer hedge (proteção cambial), dizem analistas. Por isso, teve pesados prejuízos em 1999 e 2002, com a desvalorização cambial.
Os analistas também atribuem os 13 anos de prejuízos a um desbalanceamento de suas receitas. A Parmalat obtém metade do seu faturamento com o leite longa vida. O produto, que revolucionou o mercado nos anos 80, virou commodity, com a multiplicação de fabricantes. A margem operacional do setor é pequena, de 20% a 25%. Nos demais produtos, de maior valor agregado, a companhia vem perdendo participação.
Nos leites com sabor (achocolatado), ela caiu de 13,5% em outubro/novembro de 2002 para 11,4% em igual período deste ano, segundo pesquisa da Nielsen. No leite condensado, recuou de 25% para 16,4%, e, no creme de leite, de 33,9% para 29,8% no período.


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