São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Ajuda ainda não garante a salvação de montadoras

Para analistas, serão necessários sacrifícios de empresas, funcionários e credores

GM e Chrysler dizem que farão sua parte no acordo com Casa Branca; sindicato afirma que tentará reaver direitos com Obama


DE NOVA YORK

O "band-aid" de US$ 17,4 bilhões a GM e Chrysler, apesar de dar uma oportunidade às montadoras, não alivia as sérias dúvidas quanto à viabilidade da indústria automotiva dos EUA.
E, ainda que consigam se reinventar, isso não será feito sem considerável sacrifício por parte das empresas, de seus funcionários e credores.
Analistas vêem com pessimismo as chances de o pacote, isoladamente, evitar que as gigantes afundem depois de março. Inicialmente, as montadoras haviam pedido o dobro (US$ 34 bilhões) ao Congresso. "Sem dúvida, vão precisar de mais dinheiro no ano que vem", disse à Folha Gary Burtless, economista do Instituto Brookings e ex-membro do Departamento do Trabalho dos EUA. "Não há nenhuma chance de as empresas voltarem a ser lucrativas até março."
Segundo Burtless, "a melhor perspectiva é as empresas elaborarem um plano que obedeça aos pontos do acordo com a Casa Branca, o que envolverá a imposição de sérias dores a funcionários e credores".
Ele crê que a sobrevivência das empresas a longo prazo está ligada à rapidez com que a economia se recupere da crise econômica. Mas, independentemente do cenário econômico, as montadoras terão de se voltar para a eficiência de combustível e encolher significativamente suas operações nos EUA para sobreviverem. Fornecedores e concessionárias também terão de fazer sacrifícios, com fusões e cortes.
Apesar das dificuldades, o dia de ontem foi de celebração para a indústria. O presidente eleito Barack Obama deu seu apoio à iniciativa do governo, defendendo que o empréstimo seja utilizado por todo o setor, incluindo trabalhadores, concessionárias, credores e fornecedores. "As ações de hoje representam um passo necessário para evitar o colapso na nossa indústria automotiva, o que teria conseqüências devastadoras para a economia e nossos trabalhadores", disse.
Chrysler, Ford e GM rapidamente agradeceram ao governo e elogiaram a iniciativa. Mesmo o sindicato dos trabalhadores das montadoras (UAW), apesar de criticar algumas demandas quanto a salários e benefícios e prometer lutar para removê-las no governo Obama, disse estar satisfeito por enquanto.
A reação inicial do mercado foi positiva. As ações da GM subiram 22%, e as da Ford, 3,9%.
GM e Chrysler prometeram cumprir sua parte no acordo. "Temos muito trabalho a fazer nos próximos 90 dias e além", disse Rick Wagoner, presidente da GM, defendendo que sua linha de veículos é "muito competitiva", apesar das críticas.
Para David Cole, do grupo Centro para Pesquisas Automotivas, "o futuro agora depende de o caminho ser limpo com os mercados de crédito, se eles começarem a se recuperar, o empréstimo será suficiente".
Ainda ontem, o fundo americano Cerberus Capital Management anunciou que irá investir US$ 2 bilhões na Chrysler, da qual já é acionista majoritário.Os recursos dependem da redução dos custos trabalhistas da empresa até o nível das concorrentes e da restruturação de sua dívida.


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