São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Agência rebaixa 11 grandes bancos

S&P credita decisão à desaceleração global; custo de financiamento de instituições deve aumentar

Para analistas, redução de nota chega atrasada e bancos já enfrentam encarecimento na captação de recursos


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Três meses após o início da maior crise de crédito da história, a agência de classificação de risco Standard & Poor's decidiu rebaixar as avaliações de 11 dos maiores e mais tradicionais bancos do mundo: os americanos Bank of America, Citibank, Goldman Sachs, JPMorgan, Morgan Stanley e Wells Fargo, os britânicos Barclays e RBS, os suíços Crédit Suisse e UBS e o alemão Deutsche Bank.
Na prática, a decisão significa que aumentou o risco de inadimplência de todas essas instituições. Em tese, eleva os custos de financiamento e pode obrigá-los a diminuir a sua própria exposição a risco. Apesar do "rebaixamento", todos esses bancos seguem com rating (nota) ainda na família "A", considerada "grau de investimento" e baixo risco de crédito.
Segundo a S&P, a mudança decorre dos "riscos crescentes" do setor bancário, em meio à "desaceleração da economia" mundial. "[Os rebaixamentos] Refletem as significativas pressões sobre o desempenho futuro das grandes instituições financeiras", afirmou, em nota. Por outro lado, a S&P diz que os planos de socorro de bancos dos governos "talvez limitem em boa medida essas pressões".
"O sistema bancário vai enfrentar deterioração no crédito, necessidade de rebalencear a captação de recursos e fraqueza macroeconômica."
A agência também colocou em "perspectiva" negativa a nota do britânico HSBC, banco menos prejudicado pela crise e que também poderá ser rebaixado. Citibank e Goldman Sachs foram rebaixados em dois "degraus".
Segundo analistas, se esse rebaixamento ocorresse em outro momento, poderia ter reflexos em todo o mercado de crédito internacional. Isso porque a piora na avaliação desses bancos motiva uma elevação em cascata nas taxas de juros, além da redução de exposição de agentes como fundos de pensão, aumento de prêmios das apólices de seguro de crédito e, finalmente, a diminuição da exposição desses bancos em ativos de maior risco, como em países emergentes. Foi o que aconteceu nos anos 80 com a crise da dívida externa da América Latina. À época, os bancos mais expostos à região tiveram de fazer provisões pesadas para possíveis perdas e reduziram a capacidade de emprestar.
Porém, dada a piora generalizada nas atuais condições de mercado, a nota "chegou atrasada" e esses bancos já enfrentavam custos maiores mesmo antes do rebaixamento.
"Não houve surpresa. Desde que a crise pipocou, já era esperado o rebaixamento. Os bancos vão ter agora de buscar algum ajuste a fim de manter a rentabilidade. E é um ajuste de custo, que significa foco, risco menor, alienação de ativos, aprofundar planos de reestruturação. Mas isso é conseqüência, não é no curtíssimo prazo", disse João Augusto Salles, analista da Lopes Filho.
"Os custos já estão refletidos pelo que aconteceu com o setor, que não tem a mesma credibilidade que tinha três meses atrás. Esses bancos terão um custo um pouco maior e as fundações vão olhar mais [o risco]", disse Roberto Luis Troster, consultor da Integral Trust.
Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, o rebaixamento não terá conseqüências relevantes em países como o Brasil. Ele acredita que, diferentemente dos anos 80, a exposição em países como o Brasil pode se tornar um fator positivo de diversificação de risco. "Haverá diminuição nas distâncias dos "ratings" de bancos gigantes dos EUA e Europa e de bancos em emergentes. Isso se refletirá nas taxas."


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