|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Agência rebaixa 11 grandes bancos
S&P credita decisão à desaceleração global; custo de financiamento de instituições deve aumentar
Para analistas, redução de nota chega atrasada e bancos já enfrentam
encarecimento na
captação de recursos
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Três meses após o início da
maior crise de crédito da história, a agência de classificação de
risco Standard & Poor's decidiu
rebaixar as avaliações de 11 dos
maiores e mais tradicionais
bancos do mundo: os americanos Bank of America, Citibank,
Goldman Sachs, JPMorgan,
Morgan Stanley e Wells Fargo,
os britânicos Barclays e RBS, os
suíços Crédit Suisse e UBS e o
alemão Deutsche Bank.
Na prática, a decisão significa
que aumentou o risco de inadimplência de todas essas instituições. Em tese, eleva os custos de financiamento e pode
obrigá-los a diminuir a sua própria exposição a risco. Apesar
do "rebaixamento", todos esses
bancos seguem com rating (nota) ainda na família "A", considerada "grau de investimento"
e baixo risco de crédito.
Segundo a S&P, a mudança
decorre dos "riscos crescentes"
do setor bancário, em meio à
"desaceleração da economia"
mundial. "[Os rebaixamentos]
Refletem as significativas pressões sobre o desempenho futuro das grandes instituições financeiras", afirmou, em nota.
Por outro lado, a S&P diz que os
planos de socorro de bancos
dos governos "talvez limitem
em boa medida essas pressões".
"O sistema bancário vai enfrentar deterioração no crédito, necessidade de rebalencear
a captação de recursos e fraqueza macroeconômica."
A agência também colocou
em "perspectiva" negativa a nota do britânico HSBC, banco
menos prejudicado pela crise e
que também poderá ser rebaixado. Citibank e Goldman
Sachs foram rebaixados em
dois "degraus".
Segundo analistas, se esse rebaixamento ocorresse em outro momento, poderia ter reflexos em todo o mercado de crédito internacional. Isso porque
a piora na avaliação desses bancos motiva uma elevação em
cascata nas taxas de juros, além
da redução de exposição de
agentes como fundos de pensão, aumento de prêmios das
apólices de seguro de crédito e,
finalmente, a diminuição da exposição desses bancos em ativos de maior risco, como em
países emergentes. Foi o que
aconteceu nos anos 80 com a
crise da dívida externa da América Latina. À época, os bancos
mais expostos à região tiveram
de fazer provisões pesadas para
possíveis perdas e reduziram a
capacidade de emprestar.
Porém, dada a piora generalizada nas atuais condições de
mercado, a nota "chegou atrasada" e esses bancos já enfrentavam custos maiores mesmo
antes do rebaixamento.
"Não houve surpresa. Desde
que a crise pipocou, já era esperado o rebaixamento. Os bancos vão ter agora de buscar algum ajuste a fim de manter a
rentabilidade. E é um ajuste de
custo, que significa foco, risco
menor, alienação de ativos,
aprofundar planos de reestruturação. Mas isso é conseqüência, não é no curtíssimo prazo",
disse João Augusto Salles, analista da Lopes Filho.
"Os custos já estão refletidos
pelo que aconteceu com o setor, que não tem a mesma credibilidade que tinha três meses
atrás. Esses bancos terão um
custo um pouco maior e as fundações vão olhar mais [o risco]", disse Roberto Luis Troster, consultor da Integral Trust.
Para Luis Miguel Santacreu,
analista da Austin Ratings, o rebaixamento não terá conseqüências relevantes em países
como o Brasil. Ele acredita que,
diferentemente dos anos 80, a
exposição em países como o
Brasil pode se tornar um fator
positivo de diversificação de
risco. "Haverá diminuição nas
distâncias dos "ratings" de bancos gigantes dos EUA e Europa
e de bancos em emergentes. Isso se refletirá nas taxas."
Texto Anterior: Tecnologia: Polaroid volta a pedir concordata Próximo Texto: Artigo: A economia Madoff Índice
|