São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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COMÉRCIO EXTERIOR
Exportação de produtos brasileiros para o mercado venezuelano quase triplica em quatro anos
Venezuela torna-se fronteira de negócios

Sergio Lima/Folha Imagem
FHC cumprimenta o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez, durante visita ao Brasil nesta semana




RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

Quem anda pelas ruas de Caracas entende porque a Venezuela está sendo considerada pelos especialistas como a mais nova fronteira de negócios para o Brasil.
Até pouco tempo, o carregado trânsito de Caracas era dominado por pequenos ônibus, as velhas jardineiras, que agora estão sendo trocadas por modelos mais modernos fabricados pela Mercedes-Benz brasileira.
De 1993 a 1997, a empresa exportou, em média, 56 ônibus por ano para a Venezuela. Em 1998, foram vendidos 774 veículos. A Venezuela se tornou a segunda maior importadora da Mercedes brasileira.
A montadora não é uma exceção. Em 94, as exportações brasileiras para a Venezuela somaram US$ 280 milhões. As projeções indicam que as vendas devem chegar a US$ 800 milhões em 98. Mesmo com a crise econômica na Venezuela, o comércio está crescendo.
"Historicamente, a Venezuela sempre esteve atrelada aos EUA, mas está diminuindo sua dependência e têm aberto grandes oportunidades de negócios para o Brasil", diz o economista Edson Peterli, autor de um estudo sobre o comércio entre os dois países.
A importância dada ao Brasil pode ser medida pelas iniciativas do presidente venezuelano recém-eleito Hugo Chávez. Na semana passada, Chávez iniciou um tour diplomático internacional. Sua primeira parada foi no Brasil.
No encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, Chávez propôs a associação da Venezuela ao Mercosul, seguindo o exemplo do Chile e da Bolívia que já firmaram acordo com o bloco comercial.
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Confecções de Fortaleza Um possível acordo com o Mercosul é mais um passo na aproximação diplomática, que teve seu primeiro grande lance em 1994. Na época, o Brasil e a Venezuela abateram praticamente pela metade as tarifas de importação de produtos entre os dois países.
Houve uma explosão nos negócios, mas ainda havia uma barreira física no comércio de fronteira. Era uma aventura levar mercadorias de Manaus a Caracas, em 14 dias de viagem numa estrada mais apropriada para uma prova de rali.
No mês passado, foi inaugurada a BR-174, que reduziu o tempo de viagem para três dias e meio. A "carretera 174" já está alimentando novos negócios. Empresários venezuelanos foram ao Ceará fechar negócio com as confecções de Fortaleza e industriais da Zona Franca de Manaus têm viagem marcada para Caracas no início de janeiro.
"Manaus fica mais perto da Venezuela do que da região Sul do Brasil", diz Fernando Portela, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela. "A Venezuela pode vender produtos para o Norte e Nordeste, além de ser uma janela de exportação para os produtos brasileiros."
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Tradição consumista O mercado venezuelano é interessante para o Brasil do ponto de vista econômico e estratégico. Com 22 milhões de habitantes, a Venezuela tem um PIB de US$ 87 bilhões e forte tradição consumista. Uma herança dos tempos em que os venezuelanos viviam com a carteira recheada pelos lucros generosos do petróleo.
"Os venezuelanos são grandes consumidores de vários produtos, como cerveja, frios e cosméticos", diz Luiz Alexandre Francis, diretor da Brahma na Venezuela.
De olho no mercado venezuelano, que responde pelo segundo maior consumo per capita de cerveja das Américas, a Brahma comprou a indústria Nacional, em 1994. Em quatro anos, a empresa saiu de 3% para 13,5% de participação de mercado. Seu faturamento na Venezuela em 1997 foi de US$ 45 milhões.
A três horas de vôo dos Estados Unidos e vizinha de mercados com razoável potencial consumidor, como a Colômbia e o Caribe, a Venezuela também é uma boa base de exportação.
Junto com sócios da Argentina e do México, a Usiminas comprou parte da siderúrgica Sidor, privatizada em 97, por US$ 2,3 bilhões.
Além de contar com uma mina de minério de ferro a 100 quilômetros da usina, a Sidor é abastecida por energia mais barata do que a brasileira.
"Temos custos 30% menores do que em outros países e estamos às portas do mercado norte-americano", diz Marcus Tambasco, assessor da presidência da Usiminas.
Outras empresas estão apostando na Venezuela, como a Norberto Odebrecht, que quer fazer as obras do metrô de Caracas. A agência de publicidade Fischer América tem uma filial que fatura US$ 15 milhões por ano e está entre as de maior crescimento na Venezuela. "O know-how brasileiro é muito respeitado", diz Rodolfo Nolck, o sócio venezuelano da Fischer.
Os venezuelanos não querem ficar para trás. O grupo Cisneros, uma potência que tem 70 empresas, em 39 países, está chegando ao Brasil. Chegou a estudar negócios com o SBT e agora vai investir no país US$ 100 milhões junto com a AOL norte-americana, especializada em alta tecnologia.



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