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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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Objetivo da federação estadual da agricultura seria agilizar processo de liberação do cultivo desses produtos

RS quer regra por Estado para transgênicos

JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns agricultores do Rio Grande do Sul querem que a regulamentação do cultivo de organismos geneticamente modificados (OGM, os transgênicos) seja estadualizada. Para eles, essa seria uma forma de contornar a morosidade da Justiça na decisão sobre a liberação desses produtos.
Segundo Carlos Sperotto, presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), a demora da Justiça pode causar prejuízos aos produtores. Após a posse do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, Sperotto esteve com ele para discutir a questão. Foi nessa conversa que ele apresentou a idéia de regionalizar a regulamentação.
O Ministério da Agricultura, por meio de sua assessoria, disse que não tem posição definida sobre o caso e que continuará seguindo as decisões da Justiça.
Para Sperotto, a tramitação na Justiça e no Congresso (onde também está sendo discutida) ainda deve demorar muito para terminar. Os juízes e parlamentares, diz, são leigos e podem demorar para se inteirar das vantagens e desvantagens dos transgênicos para depois decidir. Enquanto isso, afirma, o Brasil perde produtividade e eficiência diante dos países que os utilizam.
Há indícios, diz, que a discussão sobre os transgênicos está sendo politizada em detrimento dos produtores. Segundo ele, muitos países já utilizam os transgênicos há anos sem problemas; ao contrário, com grandes avanços em produtividade e redução de custo.
"Os EUA e a Argentina, por exemplo, utilizam os transgênicos e estão produzindo cada vez mais a custos cada vez menores", diz. Ele lembra que, nos EUA, produzir um hectare de soja modificada custa cerca de US$ 100, enquanto a produção da mesma área de soja orgânica custa US$ 160.
"E, se não fossem seguros, será que os EUA, que têm uma política de segurança alimentar e de produção tão rígida, permitiriam o cultivo e o consumo de transgênicos em seu próprio território?"

Falta de consenso
A idéia de Sperotto, porém, não é consenso em outros Estados. Em São Paulo, o secretário estadual da Agricultura, Duarte Nogueira, acredita que há muito o que discutir antes de uma regionalização. Para ele, antes disso, é preciso criar um método de informação e rotulagem confiável para que, caso os transgênicos sejam liberados, o consumidor possa distinguir facilmente esses produtos dos orgânicos.
"Não sou contra os transgênicos, mas antes de tudo sou a favor da informação. Com a rotulagem correta, poderemos atender aos desejos do consumidor interno e do externo também", diz.
No Paraná, outro grande produtor de grãos, a Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) crê que o assunto deve continuar a ser tratado de forma cautelosa e em conjunto por todos os Estados da União.
Segundo Carlos Augusto Albuquerque, assessor da presidência da Faep, o RS quer essa regionalização pois sabe, mesmo que extra-oficialmente, que grande parte de suas lavouras utiliza transgênicos clandestinos. O custo mais baixo das sementes modificadas argentinas, diz, faz com que os produtores gaúchos as utilizem ilegalmente em suas plantações.
"O problema é exatamente esse: é impossível saber o que é e o que não é transgênico no Estado sem complicados testes", diz.
Outro entrave para a regionalização das normas sobre transgênicos é o caos que isso pode promover em termos comerciais dentro do próprio país, afirma o assessor da Faep. Segundo ele, não é difícil imaginar uma situação em que os transgênicos sejam permitidos no RS e proibidos no PR, por exemplo. Dessa forma, seria impossível o comércio desses produtos entre os dois Estados, já que um deles produziria algo que seria proibido no outro.


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