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Objetivo da federação estadual da agricultura seria agilizar processo de liberação do cultivo desses produtos
RS quer regra por Estado para transgênicos
JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL
Alguns agricultores do Rio
Grande do Sul querem que a regulamentação do cultivo de organismos geneticamente modificados (OGM, os transgênicos) seja
estadualizada. Para eles, essa seria
uma forma de contornar a morosidade da Justiça na decisão sobre
a liberação desses produtos.
Segundo Carlos Sperotto, presidente da Farsul (Federação da
Agricultura do Rio Grande do
Sul), a demora da Justiça pode
causar prejuízos aos produtores.
Após a posse do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, Sperotto esteve com ele para discutir
a questão. Foi nessa conversa que
ele apresentou a idéia de regionalizar a regulamentação.
O Ministério da Agricultura,
por meio de sua assessoria, disse
que não tem posição definida sobre o caso e que continuará seguindo as decisões da Justiça.
Para Sperotto, a tramitação na
Justiça e no Congresso (onde
também está sendo discutida)
ainda deve demorar muito para
terminar. Os juízes e parlamentares, diz, são leigos e podem demorar para se inteirar das vantagens
e desvantagens dos transgênicos
para depois decidir. Enquanto isso, afirma, o Brasil perde produtividade e eficiência diante dos países que os utilizam.
Há indícios, diz, que a discussão
sobre os transgênicos está sendo
politizada em detrimento dos
produtores. Segundo ele, muitos
países já utilizam os transgênicos
há anos sem problemas; ao contrário, com grandes avanços em
produtividade e redução de custo.
"Os EUA e a Argentina, por
exemplo, utilizam os transgênicos
e estão produzindo cada vez mais
a custos cada vez menores", diz.
Ele lembra que, nos EUA, produzir um hectare de soja modificada
custa cerca de US$ 100, enquanto
a produção da mesma área de soja
orgânica custa US$ 160.
"E, se não fossem seguros, será
que os EUA, que têm uma política
de segurança alimentar e de produção tão rígida, permitiriam o
cultivo e o consumo de transgênicos em seu próprio território?"
Falta de consenso
A idéia de Sperotto, porém, não
é consenso em outros Estados.
Em São Paulo, o secretário estadual da Agricultura, Duarte Nogueira, acredita que há muito o
que discutir antes de uma regionalização. Para ele, antes disso, é
preciso criar um método de informação e rotulagem confiável para
que, caso os transgênicos sejam liberados, o consumidor possa distinguir facilmente esses produtos
dos orgânicos.
"Não sou contra os transgênicos, mas antes de tudo sou a favor
da informação. Com a rotulagem
correta, poderemos atender aos
desejos do consumidor interno e
do externo também", diz.
No Paraná, outro grande produtor de grãos, a Faep (Federação
da Agricultura do Estado do Paraná) crê que o assunto deve continuar a ser tratado de forma cautelosa e em conjunto por todos os
Estados da União.
Segundo Carlos Augusto Albuquerque, assessor da presidência
da Faep, o RS quer essa regionalização pois sabe, mesmo que extra-oficialmente, que grande parte de suas lavouras utiliza transgênicos clandestinos. O custo mais
baixo das sementes modificadas
argentinas, diz, faz com que os
produtores gaúchos as utilizem
ilegalmente em suas plantações.
"O problema é exatamente esse:
é impossível saber o que é e o que
não é transgênico no Estado sem
complicados testes", diz.
Outro entrave para a regionalização das normas sobre transgênicos é o caos que isso pode promover em termos comerciais
dentro do próprio país, afirma o
assessor da Faep. Segundo ele,
não é difícil imaginar uma situação em que os transgênicos sejam
permitidos no RS e proibidos no
PR, por exemplo. Dessa forma,
seria impossível o comércio desses produtos entre os dois Estados, já que um deles produziria algo que seria proibido no outro.
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