São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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Crise nos EUA pode atingir mais a Bovespa

Bolsa de SP só começa a sentir agora efeitos da desaceleração, enquanto papéis de México e EUA tiveram queda maior, diz relatório

Para Citigroup, cenário mais provável é o de modesta desaceleração global e juros menores nos EUA, sem que a recessão se concretize

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil ainda é a melhor escolha entre as Bolsas de Valores da América Latina, caso não se confirme o cenário de recessão nos Estados Unidos, de acordo com analistas.
Se a crise, porém, bater feio nos americanos, o Brasil e a Argentina serão os piores mercados latino-americanos para investimentos. O Brasil teria desempenho inferior ao do México, cuja Bolsa segue colada às dos EUA.
Apesar da alta do risco de recessão nos Estados Unidos, a Bovespa (Bolsa de Valores do Estado de São Paulo) recuou menos que os outros países. Desde que rompeu o patamar histórico de 65 mil pontos pela 1ª vez, em 29 de outubro, o índice caiu 11,6%. No mesmo período, o S&P, dos Estados Unidos, recuou 14%, e a Bolsa mexicana, 16,8%.
No jargão do mercado, a possibilidade de brusca desaceleração da economia americana apenas começa a entrar no preço de ações do Brasil. Papéis dos EUA e do México já teriam descontado quase a metade do percentual histórico de queda em período de recessão, segundo relatório do Citigroup divulgado na semana passada.
Em épocas de recessão, o S&P cai, em média, 27,5%, e as Bolsas latinas, 40%.
Desta vez, porém, as condições econômicas dos principais países da região estão, em média, muito melhores.
O cenário mais provável para o banco é o de modesta desaceleração global e juros mais baixos nos Estados Unidos, sem que a recessão se concretize. Se ela ocorrer, no entanto, a Bovespa deve recuar para 50 mil pontos, e a Bolsa mexicana, para 25 mil pontos.
Caso o mercado brasileiro acompanhe a queda menor esperada para as Bolsas nos Estados Unidos, o recuo poderia se limitar ao patamar dos 54 mil pontos. Na sexta-feira, o Índice Bovespa fechou aos 57.506 pontos, a Bolsa mexicana, aos 26.713,83 pontos, e o S&P, aos 1.325,19 pontos.
Desde 2003, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu cerca de 25% em três períodos.
"Nessas ocasiões, a compra no fundo das baixas [das ações] levou a lucros extraordinariamente altos", diz o consultor Walter Mundell.
"Mas não havia o problema nos EUA e a possibilidade de faltar energia no Brasil."
Mundell considera que o volume de solicitações de seguro-desemprego não sinaliza recessão nos EUA.
Para Marcelo Ribeiro, economista da Pentágono Asset Management, a economia americana já está em recessão. "Projetamos a Bovespa no final deste ano com 40 mil pontos", diz.

Commodities
No ano passado, a Bovespa subiu bem mais que a Bolsa mexicana. Beneficiada pela alta expressiva de commodities, que impulsionou o investimento em Petrobras e Vale do Rio Doce, a Bolsa brasileira subiu 75,3% em dólar, contra 9,3% da mexicana.
O investidor estrangeiro foi às compras e aproveitou os IPOs (ofertas públicas iniciais, na sigla em inglês, em que empresas abrem seu capital na Bolsa).
Para investidores do exterior, a alta em dólar foi ainda mais expressiva graças à valorização do real em relação à moeda americana.
Nos Estados Unidos, grandes instituições financeiras, como Citigroup e Merrill Lynch, tiveram perdas bilionárias com operações de crédito imobiliário de alto risco ("subprime"). Com o agravamento da crise, aumenta o temor de recessão no país.


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