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OPINIÃO ECONÔMICA
Crise política pode paralisar a economia
GESNER OLIVEIRA
A crise política deflagrada
pelo caso Waldomiro Diniz
pode acentuar aquilo que já era
um problema: a ausência de um
programa articulado de governo
que estimule a modernização
institucional e o investimento
necessários para o crescimento
sustentado da economia.
Acuado diante da crise, o governo pode apresentar uma precoce fadiga reformista. É bem
verdade que o problema já existia antes das revelações do caso
Waldomiro. Coexistiam (e coexistem) no governo visões diametralmente opostas acerca daquilo que deve ser feito para desenvolver o país.
Se, de um lado, cogitaram-se
projetos modernizantes de maior
autonomia das agências reguladoras e do próprio Banco Central
e vem se ensaiando um apoio sistemático ao comércio exterior;
ou mesmo se há esforços para a
modernização da Lei de Falências e a criação de um sistema de
parceria público-privada, a tradução na prática de tais proposições vem muitas vezes com o sinal trocado.
Assim, o projeto divulgado de
reforma das agências as subordina aos ministérios, a autonomia
do Banco Central foi relegada ao
debate acadêmico e o modelo do
setor elétrico continua a suscitar
dúvidas em demasia para atrair
investimentos produtivos.
Isso sem falar na ausência de
programa para as políticas sociais e para a educação, apenas
para citar exemplos mais evidentes e que têm impacto direto e
significativo sobre a capacidade
de crescimento de longo prazo do
país. Ou ainda nos riscos de retrocesso na pesquisa agrícola e
nos desacertos do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social).
Tais desincentivos ocorrem em
um ambiente macroeconômico
adverso com elevadas taxas de
juros reais e a manutenção (e
mesmo agravamento) de uma
estrutura tributária asfixiante
para o setor formal da economia.
Só mesmo um milagre para elevar a taxa de investimento nessa
conjuntura.
Não bastassem os problemas
do presente, não se entrevêem
perspectivas futuras. As ambigüidades da atual administração terminam por gerar uma resultante quase nula. Não há uma
agenda hegemônica. Há, sim,
uma paralisia do sistema de decisões, emitindo um sinal negativo para os investimentos e para a
expansão do emprego.
O caso Waldomiro apenas
agrava esse fenômeno ao diminuir a capacidade de comando e
coordenação do núcleo duro do
governo. É ilusório apostar naquilo que, à primeira vista, pareceria um fortalecimento da
agenda reformista representada
pelo ministro Palocci. Isso porque também a aumenta o poder
de barganha das alas mais radicais do PT que demandam a
aplicação do programa de ruptura que o partido tinha até às vésperas das eleições. A resultante
de tais forças opostas não é a explosão. É meramente a paralisia.
Em persistindo tal paralisia, o
Brasil deixará escapar uma fresta de oportunidade na normalmente conturbada economia
mundial. Em contraste com as
crises do governo FHC, as dificuldades atuais ocorrem em meio a
uma conjuntura internacional
por ora favorável.
A economia dos EUA está em
recuperação e tudo indica que a
provável subida da taxa de juros
nos EUA no segundo semestre virá de forma suave. A União Européia apresenta crescimento
moderado e o Japão parece ter
acordado depois de uma década
de estagnação. E, por fim, a Argentina cresceu até agora e reforçou a demanda por bens e serviços brasileiros.
O presidente Lula sabe bem que
um tropeço em 2004 lembra o zagueiro que sai jogando sozinho, se
atrapalha com a bola e acaba
dando de presente para o atacante adversário. Não tem desculpa.
Não é a crise internacional. Não é
a suposta herança maldita do governo anterior. Falta time e estratégia de governo.
Gesner Oliveira, 47, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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