São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mercados siliconados


Cinco anos de finança mundial em alta suscita ciclo de especulações sobre os primeiros sinais de bolha

KELLY KEY estava gorda no desfile da Vila Isabel? Qual o tamanho aceitável de uma bolha de silicone no Carnaval? Há uma bolha financeira mundial em fase de engorda? Questões fundamentais e sem resposta.
Do mesmo modo que têm havido ciclos quase quinzenais de pessimismo e otimismo a respeito da economia americana, há erupções periódicas de dúvidas sobre a duração da festa nos mercados financeiros.
"Há motivos de fato para considerar afastado o risco de recessão nos EUA?", pergunta o especulador teórico. O cético prudente (ou mal colocado no mercado) pergunta: como é possível que quase todos os mercados apontem para cima durante tanto tempo? Silicone? Bolha?
Como nos anos da "exuberância irracional" (1996-2000), da fase final da bolha de ações tecnológicas, começam a pipocar contas e numerologias a respeito da possível duração do presente ciclo de alta de quase tudo: ativos de países emergentes, empresas ruins, "commodities", Bolsa de país rico, Bolsa de país pobre, investimentos de "private equity", volume de operações de hedge funds, ações chinesas, "call centers" indianos etc.
Analistas de banco, blogs e mídia de finanças espirram estatísticas aleatórias, como a dizer "eu não acredito em recessão nem em bolhas, mas que elas existem, existem".
O principal analista de finanças do "New York Times", Floyd Norris, acabou de arrumar uma relação entre estatísticas de construção civil e recessões nos EUA. Ajeitou uma série de dados sobre construção de casas novas e concluiu que, em todas as ocasiões em que o número de novas construções caiu por 11 meses seguidos, uma recessão começou nos EUA, como em 73, 80 ou 91.
Faz 11 meses seguidos que tal indicador cai nos Estados Unidos. Mas "nestes dias, quase ninguém acha que uma recessão está à espreita", comenta Norris.
Os badalados fundos de "private equity" (de compra de participação ou de controle de empresas) estão investindo em companhias aéreas, quase todas mal das pernas? Seria prova de que não sobrou quase mais nada de bom para comprar, que estão investindo em qualquer coisa, que o negócio chegou ao limite.
Estão explodindo as compras de títulos de dívida de empresas de países emergentes? Sinal de que o apetite por risco mal calculado não teria mais limite. Que o excesso de liquidez mundial teria chegado a um nível perigoso, capaz de baixar as guardas prudenciais. Tais excessos permitiram a governos emergentes recomprarem suas dívidas soberanas.
Isto é, sobraram menos títulos públicos rendosos no mercado, o que faz a finança comprar dívida privada, menos segura -de resto, seria mais difícil avaliar várias empresas do que um governo (seria mesmo?).
As Bolsas ainda estão bem pelo mundo emergente? Sim, mas o pessimista diz que já estariam subindo mais devagar este início de ano, pois a relação entre preço e lucro das ações estaria alta demais, afastando investidores mais prudentes.
Ainda há lugar para o silicone financeiro? Depois que Alan Greenspan falou na "exuberância irracional", que já vinha de longe, ainda se passaram mais de três anos antes do início do fim da bolha tecnológica.

vinit@uol.com.br


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