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VINICIUS TORRES FREIRE
Mercados siliconados
Cinco anos de finança mundial em alta suscita ciclo de especulações sobre os primeiros sinais de bolha
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KELLY KEY estava gorda no
desfile da Vila Isabel? Qual o
tamanho aceitável de uma
bolha de silicone no Carnaval? Há
uma bolha financeira mundial em
fase de engorda? Questões fundamentais e sem resposta.
Do mesmo modo que têm havido
ciclos quase quinzenais de pessimismo e otimismo a respeito da economia americana, há erupções periódicas de dúvidas sobre a duração da
festa nos mercados financeiros.
"Há motivos de fato para considerar afastado o risco de recessão nos
EUA?", pergunta o especulador teórico. O cético prudente (ou mal colocado no mercado) pergunta: como é
possível que quase todos os mercados apontem para cima durante tanto tempo? Silicone? Bolha?
Como nos anos da "exuberância
irracional" (1996-2000), da fase final da bolha de ações tecnológicas,
começam a pipocar contas e numerologias a respeito da possível duração do presente ciclo de alta de quase tudo: ativos de países emergentes,
empresas ruins, "commodities",
Bolsa de país rico, Bolsa de país pobre, investimentos de "private
equity", volume de operações de
hedge funds, ações chinesas, "call
centers" indianos etc.
Analistas de banco, blogs e mídia
de finanças espirram estatísticas
aleatórias, como a dizer "eu não
acredito em recessão nem em bolhas, mas que elas existem, existem".
O principal analista de finanças do
"New York Times", Floyd Norris,
acabou de arrumar uma relação entre estatísticas de construção civil e
recessões nos EUA. Ajeitou uma série de dados sobre construção de casas novas e concluiu que, em todas
as ocasiões em que o número de novas construções caiu por 11 meses
seguidos, uma recessão começou
nos EUA, como em 73, 80 ou 91.
Faz 11 meses seguidos que tal indicador cai nos Estados Unidos. Mas
"nestes dias, quase ninguém acha
que uma recessão está à espreita",
comenta Norris.
Os badalados fundos de "private
equity" (de compra de participação
ou de controle de empresas) estão
investindo em companhias aéreas,
quase todas mal das pernas? Seria
prova de que não sobrou quase mais
nada de bom para comprar, que estão investindo em qualquer coisa,
que o negócio chegou ao limite.
Estão explodindo as compras de
títulos de dívida de empresas de países emergentes? Sinal de que o apetite por risco mal calculado não teria mais limite. Que o excesso de liquidez mundial teria chegado a um nível perigoso, capaz de baixar as guardas prudenciais. Tais excessos permitiram a governos emergentes recomprarem suas dívidas soberanas.
Isto é, sobraram menos títulos públicos rendosos no mercado, o que
faz a finança comprar dívida privada, menos segura -de resto, seria
mais difícil avaliar várias empresas
do que um governo (seria mesmo?).
As Bolsas ainda estão bem pelo
mundo emergente? Sim, mas o pessimista diz que já estariam subindo
mais devagar este início de ano, pois
a relação entre preço e lucro das
ações estaria alta demais, afastando
investidores mais prudentes.
Ainda há lugar para o silicone financeiro? Depois que Alan Greenspan falou na "exuberância irracional", que já vinha de longe, ainda se
passaram mais de três anos antes do
início do fim da bolha tecnológica.
vinit@uol.com.br
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