São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Emprego cresce menos que a economia em 2007

Setores mais dinâmicos empregam menos; e avanço tecnológico reduz vagas

Cálculo do Ipea prevê que criação de vagas em 2007 deve ser maior do que a de 2006 e a de 2005, mas inferior à de 2004 e 2003

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mudanças estruturais na economia descolaram o crescimento do PIB do emprego. Por isso, se o país crescer 3,5% neste ano, como prevêem alguns economistas, o emprego deve subir entre 2,5% e 3%, o que significa a abertura de 520 mil a 623 mil postos de trabalho nas seis regiões metropolitanas do país que fazem parte da pesquisa mensal de emprego do IBGE.
Isso quer dizer que as empresas das regiões de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre podem abrir mais vagas neste ano do que em 2006 (520 mil) e em 2005 (474 mil), mas menos do que em 2004 (646 mil) e em 2003 (851 mil).
Os cálculos são do economista Marcelo de Ávila, pesquisador associado ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE (feita nas seis regiões), e na relação entre o crescimento do PIB e da população ocupada nos últimos anos.
Para Ávila, mesmo com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), anunciado no mês passado, não será possível a ocupação crescer acima de 3,5% neste ano. Em julho de 2004, a ocupação chegou a subir 4,5% em relação a igual mês de 2003, mas, na época, o PIB estava crescendo quase 6%.
"O crescimento da economia não é suficiente para alavancar o emprego. Agora, têm algumas indicações positivas para este ano, como a trajetória de queda da taxa de juros e a expansão do setor da construção civil, que devem ter algum efeito positivo sobre o mercado de trabalho."
Além da construção civil, os setores de serviços e comércio também devem puxar o emprego neste ano, segundo estima o pesquisador. E, ao contrário do que se viu em 2003, quando a ocupação subiu, mas os empregos disponíveis eram de baixa remuneração e sem registro em carteira, os novos postos de trabalho terão melhor qualidade.
Em 2004, 2005 e 2006 cresceu o emprego formal, tendência que deve se manter neste ano. Entre 2003 e 2006, o número de trabalhadores com carteira assinada subiu 13,3% nas seis regiões metropolitanas consideradas pela PME e, a população ocupada, 8,6%. Desde 2004, a maioria das vagas criadas nas seis regiões é formal.

PIB x emprego
O ritmo de crescimento do PIB em relação ao ritmo de expansão do emprego já esteve muito mais próximo do que está hoje, diz Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. "O país mudou sua base produtiva e aumentou a informatização. E a evolução da economia sempre se faz no sentido de poupar mão-de-obra, tanto na indústria como no comércio."
Se, nas décadas de 70 e 80, para elevar o PIB em um ponto percentual era preciso elevar a ocupação em um ponto percentual, "hoje, com certeza, para aumentar o PIB em um ponto percentual, a ocupação precisa crescer bem menos do que um ponto percentual, se é que precisa crescer. Isso é próprio do desenvolvimento econômico. A ampliação da capacidade produtiva é acompanhada por redução da demanda por mão-de-obra há séculos", afirma.
A indústria paulista, por exemplo, prevê crescimento de 3% para a produção física e de 0,5% a 1% para o emprego neste ano -o que significa abrir cerca de 20 mil vagas em 2007. Em 2006, a indústria paulista abriu cerca de 13 mil postos, aumento de 0,52% no número de emprego em relação a 2005.
"O fato é que os setores mais dinâmicos, como os de bens de consumo duráveis, são bem menos intensivos em mão-de-obra. A indústria de calçados, intensiva em mão-de-obra, está demitindo. E não é só isso, as fábricas utilizam cada vez mais insumos e componentes importados. Do jeito que o mercado caminha, a saída para os jovens que ingressam no mercado de trabalho vai ser cortar cana e apanhar laranja", afirma André Rebelo, gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Dinamismo
Os setores de açúcar e álcool, alimentos e bebidas e refino de petróleo têm mostrado forte dinamismo, segundo informa Carlos Cavalcanti, economista-chefe do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). "Mesmo com esse fôlego, o olhar dos empresários para este semestre não é tão otimista a ponto de sair contratando."
Em dezembro do ano passado, a utilização da capacidade instalada da indústria paulista foi de 77,7%. "Há espaço para crescer, num primeiro momento, sem elevar o emprego."
A criação de postos de trabalho pode crescer neste ano, na avaliação de Cavalcanti, devido ao aumento da formalização de empregos nas micro e pequenas empresas por conta da desoneração de impostos prevista na legislação para esse setor.
"Não será reflexo de PAC ou de crescimento econômico. A desoneração tributária prevista no PAC, aliás, é pontual, e atinge pouco o Estado de São Paulo. A indústria de TV digital, por exemplo, está instalada em Manaus. Podemos sentir mais no Estado o efeito do PAC na construção civil, que pode levar ao aumento nas vendas de cimento, por exemplo."


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Mercados siliconados
Próximo Texto: Telefonia: Conselho da Portugal Telecom rejeita proposta da Sonaecom
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.