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Emprego cresce menos que a economia em 2007
Setores mais dinâmicos empregam menos; e avanço tecnológico reduz vagas
Cálculo do Ipea prevê que criação de vagas em 2007 deve ser maior do que a de 2006 e a de 2005, mas inferior à de 2004 e 2003
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Mudanças estruturais na
economia descolaram o crescimento do PIB do emprego. Por
isso, se o país crescer 3,5% neste ano, como prevêem alguns
economistas, o emprego deve
subir entre 2,5% e 3%, o que
significa a abertura de 520 mil a
623 mil postos de trabalho nas
seis regiões metropolitanas do
país que fazem parte da pesquisa mensal de emprego do IBGE.
Isso quer dizer que as empresas das regiões de São Paulo,
Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto
Alegre podem abrir mais vagas
neste ano do que em 2006 (520
mil) e em 2005 (474 mil), mas
menos do que em 2004 (646
mil) e em 2003 (851 mil).
Os cálculos são do economista Marcelo de Ávila, pesquisador associado ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base na Pesquisa
Mensal de Emprego (PME) do
IBGE (feita nas seis regiões), e
na relação entre o crescimento
do PIB e da população ocupada
nos últimos anos.
Para Ávila, mesmo com o
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento), anunciado no
mês passado, não será possível
a ocupação crescer acima de
3,5% neste ano. Em julho de
2004, a ocupação chegou a subir 4,5% em relação a igual mês
de 2003, mas, na época, o PIB
estava crescendo quase 6%.
"O crescimento da economia
não é suficiente para alavancar
o emprego. Agora, têm algumas
indicações positivas para este
ano, como a trajetória de queda
da taxa de juros e a expansão do
setor da construção civil, que
devem ter algum efeito positivo
sobre o mercado de trabalho."
Além da construção civil, os
setores de serviços e comércio
também devem puxar o emprego neste ano, segundo estima o
pesquisador. E, ao contrário do
que se viu em 2003, quando a
ocupação subiu, mas os empregos disponíveis eram de baixa
remuneração e sem registro em
carteira, os novos postos de trabalho terão melhor qualidade.
Em 2004, 2005 e 2006 cresceu o emprego formal, tendência que deve se manter neste
ano. Entre 2003 e 2006, o número de trabalhadores com
carteira assinada subiu 13,3%
nas seis regiões metropolitanas
consideradas pela PME e, a população ocupada, 8,6%. Desde
2004, a maioria das vagas criadas nas seis regiões é formal.
PIB x emprego
O ritmo de crescimento do
PIB em relação ao ritmo de expansão do emprego já esteve
muito mais próximo do que está hoje, diz Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
"O país mudou sua base produtiva e aumentou a informatização. E a evolução da economia
sempre se faz no sentido de
poupar mão-de-obra, tanto na
indústria como no comércio."
Se, nas décadas de 70 e 80,
para elevar o PIB em um ponto
percentual era preciso elevar a
ocupação em um ponto percentual, "hoje, com certeza, para
aumentar o PIB em um ponto
percentual, a ocupação precisa
crescer bem menos do que um
ponto percentual, se é que precisa crescer. Isso é próprio do
desenvolvimento econômico. A
ampliação da capacidade produtiva é acompanhada por redução da demanda por mão-de-obra há séculos", afirma.
A indústria paulista, por
exemplo, prevê crescimento de
3% para a produção física e de
0,5% a 1% para o emprego neste
ano -o que significa abrir cerca
de 20 mil vagas em 2007. Em
2006, a indústria paulista abriu
cerca de 13 mil postos, aumento
de 0,52% no número de emprego em relação a 2005.
"O fato é que os setores mais
dinâmicos, como os de bens de
consumo duráveis, são bem
menos intensivos em mão-de-obra. A indústria de calçados,
intensiva em mão-de-obra, está
demitindo. E não é só isso, as
fábricas utilizam cada vez mais
insumos e componentes importados. Do jeito que o mercado caminha, a saída para os jovens que ingressam no mercado de trabalho vai ser cortar cana e apanhar laranja", afirma
André Rebelo, gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp).
Dinamismo
Os setores de açúcar e álcool,
alimentos e bebidas e refino de
petróleo têm mostrado forte
dinamismo, segundo informa
Carlos Cavalcanti, economista-chefe do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). "Mesmo com esse fôlego, o
olhar dos empresários para este semestre não é tão otimista a
ponto de sair contratando."
Em dezembro do ano passado, a utilização da capacidade
instalada da indústria paulista
foi de 77,7%. "Há espaço para
crescer, num primeiro momento, sem elevar o emprego."
A criação de postos de trabalho pode crescer neste ano, na
avaliação de Cavalcanti, devido
ao aumento da formalização de
empregos nas micro e pequenas empresas por conta da desoneração de impostos prevista
na legislação para esse setor.
"Não será reflexo de PAC ou
de crescimento econômico. A
desoneração tributária prevista no PAC, aliás, é pontual, e
atinge pouco o Estado de São
Paulo. A indústria de TV digital,
por exemplo, está instalada em
Manaus. Podemos sentir mais
no Estado o efeito do PAC na
construção civil, que pode levar
ao aumento nas vendas de cimento, por exemplo."
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