São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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Cesp vai a leilão pelo mínimo de R$ 6,6 bi

Ao menos 3 consórcios devem disputar geradora paulista no dia 26 de março na Bovespa, maior privatização desde 2000

Na última hora, governo paulista decide levar todas as ações do Estado a leilão; outros negócios no setor devem diminuir o ágio

TONI SCIARRETTA
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo paulista decidiu ontem levar a leilão no dia 26 de março o controle da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), terceira maior geradora de eletricidade do país, por R$ 6,6 bilhões. Será a maior privatização já feita no setor elétrico e a maior desde o leilão do Banespa, em 2000.
O negócio acontece em meio a dúvidas sobre a renovação das licenças das usinas hidrelétricas da Cesp pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a um cenário de pré-crise de abastecimento, fato que pressupõe aumento nos preços e torna ainda mais estratégica a compra da geradora, localizada no centro econômico do país.
Na avaliação do governo paulista, a crise nos mercados internacionais não deverá prejudicar o leilão. O governo estadual também desconsiderou pressões para reduzir o preço das ações. A expectativa é que a venda levante cerca de R$ 7 bilhões para os cofres do Estado.
A Cesp tem seis usinas hidrelétricas, sendo que apenas a de Porto Primavera -a segunda mais importante- teve a sua concessão renovada até 2028. Já em 2011 vence a concessão da usina Três Irmãos e, em 2015, a de Jupiá. Com todas as concessões asseguradas, o valor da empresa poderia ser ainda maior, segundo analistas.
Na última hora, o governo paulista decidiu vender também as ações em poder do Metrô, devendo assim sair completamente da Cesp.

Consolidação elétrica
A venda da geradora deve detonar uma consolidação sem precedentes no setor elétrico, como já aconteceu na telefonia brasileira. A privatização só não será o negócio do ano no setor por conta da venda do controle da Brasiliana, empresa que congrega a Eletropaulo Metropolitana, distribuidora na Grande São Paulo, além da geradora Tietê e a termelétrica Uruguaiana. A Brasiliana é avaliada em mais de R$ 10 bilhões, e a venda deve acontecer também no primeiro trimestre.
A privatização da Cesp será por meio de envelope fechado, com direito a lances em viva-voz dos interessados, no antigo pregão da Bovespa. Os detalhes serão conhecidos a partir do próximo dia 26, quando será publicado o edital do leilão.
Pelo menos três consórcios devem disputar a Cesp. No total, 12 empresas foram individualmente ao "data room", espécie de central de informações financeiras, da empresa.
Entre os favoritos, estão a franco-belga Suez/Tractebel, dona da Gerasul, a maior geradora privada no país, que deve entrar na disputa com a Neoenergia, que tem entre os sócios a espanhola Iberdrola.
A distribuidora paulista CPFL, que tem capital de Votorantim, Camargo Corrêa, Bradesco e Previ, também deve formar um consórcio próprio. O terceiro consórcio teria a participação da ítalo-espanhola Enel/Endesa, com uma possível adesão da portuguesa EDP, dona das distribuidoras Bandeirante (SP), Enersul (MS) e Escelsa (ES).
Também correm por fora as estatais Copel (PR) e Cemig (MG), que negociam sua adesão a um dos consórcios. A participação das duas estatais, no entanto, é vetada por lei paulista, que proíbe a venda de empresas em processo em privatização para outras estatais.
Na avaliação da corretora Ativa, o negócio deve sair no máximo 10% acima do preço mínimo. Já o Unibanco vê pouca disputa por conta de outras oportunidades no setor. "Não acreditamos em uma grande disputa pela empresa e entendemos que há melhores oportunidades no setor elétrico", afirma Fernando Abdalla, analista do Unibanco.

Investimentos no Estado
Com os recursos obtidos com a Cesp, o governador José Serra (PSDB) pretende concentrar investimentos em infra-estrutura, principalmente em transportes, habitação e saúde, que levam o grosso dos recursos previstos no PPA (Plano Plurianual) para o período 2008-2011 enviado à Assembléia.
Na área de transportes, o governo planeja recuperar 12.000 km de estradas vicinais, transformar em metrô de superfície 162 km de linhas da CPTM e implantar o trem expresso até o aeroporto de Guarulhos.
O plano para habitação inclui a construção de ao menos 51.170 casas e intervenções em áreas em que moram 70 mil famílias, como urbanização de favelas, além da possível retirada de 12,8 mil famílias da serra do Mar. O PPA ainda prevê a construção de 40 unidades de atendimento médico intermediárias entre postos de saúde e os hospitais e a construção de presídios com 10 mil vagas.
Na área de saneamento, há projeto de R$ 1 bilhão na Baixada Santista e para a continuação da despoluição do rio Tietê na região metropolitana.


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