São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010 |
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ALBERT FISHLOW Meio-termo
Durante os períodos de controle dividido, soluções de compromisso eram necessárias desde o início. Objetivos ambiciosos, alguns dos quais bastante dignos de elogios, tiveram de ser reformulados a fim de angariar apoio suficiente de ambos os partidos. Certas coisas deixaram de ser feitas. Alguns erros foram cometidos. Mas ainda assim novas leis eram aprovadas. O fato de que os EUA tenham enfrentado recessões apenas modestas e gerado altas no emprego, ao longo do período, obviamente ajudou. Agora é quase impossível avançar. Os homens apontados pelo presidente para postos importantes se tornam reféns do processo legislativo de aprovação, o que reduz a eficiência do Executivo. Poucas das propostas de política interna se provam capazes de obter consenso. O motivo mais importante da mudança é a rápida deterioração da posição fiscal do país. Estimativas computadas em 2001 previam superavit fiscal da ordem de US$ 800 bilhões em 2010; em lugar disso, existe uma expectativa de deficit de US$ 1,4 trilhão. Essa diferença equivale a mais de 15% do PIB. O crescimento econômico mais baixo, a redução da carga fiscal e o aumento dos gastos nos anos de Bush filho respondem por mais de metade dessa diferença. Ela não é resultado primário da Grande Recessão e dos programas de emergência implementados pelos democratas, ainda que os republicanos conservadores do movimento Tea Party prefiram que todo mundo acredite que seja esse o caso. Obama acaba de estabelecer uma comissão bipartidária presidida por Erskine Bowles, chefe da Casa Civil no governo Clinton, e por Alan Simpson, ex-senador republicano por Wyoming. A Comissão Nacional de Responsabilidade e Reforma Fiscal não existe apenas para satisfazer à audiência nacional. Os investidores estrangeiros se tornaram igualmente importantes -detêm mais de metade da dívida pública federal norte-americana. A China, tendo acumulado boa parte desses ativos ao longo dos últimos anos, deixou claras as suas preocupações quanto à política econômica dos EUA. O que pode ser feito? A resposta óbvia seria elevar tributos e reduzir gastos, propostas nada populares. Todo mundo prefere adiá-las. Mas às vezes postergar não é possível. Boa parte do aumento dos gastos se deve aos programas federais de saúde Medicare e Medicaid e ao Seguro Social. Eles não podem ser excluídos dos ajustes. A proporção de idosos na população está crescendo. Isso não significa deixar de agir para expandir a cobertura de saúde agora. Em lugar disso, torna-se importante descobrir maneiras de reduzir os gastos. O Imposto de Renda terá de subir, e um tributo federal sobre valor adicionado está sendo considerado. Nem todo mundo está feliz com essas ideias. O Senado, por exemplo, não aprovou o projeto de lei que estabelecia a comissão. Com alguma sorte, já que o crescimento e o investimento parecem estar ressurgindo, o velho apego ao meio-termo reaparecerá. No relatório final da comissão, em dezembro, vamos ver. Tradução de PAULO MIGLIACCI ALBERT FISHLOW, 74, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna. afishlow@uol.com.br
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