São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Empresários, Dilma e Meirelles


Com ou sem Meirelles, alguns grandes empresários acham que eleição, muito indefinida, deve mudar pouco o país


OS ENTENDIDOS da política dizem que Lula ainda está muito interessado em fazer de Henrique Meirelles o vice-presidente de Dilma Rousseff. Henrique Meirelles foi executivo-mor de um grande banco global. Era deputado federal eleito pelo PSDB quando foi chamado por Lula para a presidência do Banco Central. Vice de Dilma, seria uma versão turbinada do industrial José Alencar, o vice de Lula.
Meirelles pode ser a evolução dessa espécie, o vice-presidente "market friendly" do lulismo-petismo, o vice que, diz-se, "agrada ao mercado" (à finança). Um empresário industrial ainda pode ter laivos desenvolvimentistas e criticar o BC, mesmo que de modo folclórico. Meirelles fez carreira na finança globalizada.
Ele e Antonio Palocci ainda são considerados, por grandes empresários e financistas, os esteios dos anos Lula. Mesmo que Palocci tenha sido abatido já faz quatro anos, embora sempre atuante nos corredores.
O tropeço político-escandaloso de Palocci, o caso do caseiro Nildo, pouco interessa a banqueiros, grandes executivos de bancos e líderes empresariais maiores do país. Trata-se daqueles que não fazem pleitos via associações de classe e federações, mas vão direto ao ouvido do presidente, qualquer presidente. A portas fechadas, eles se derramam, o quanto isso lhes é possível, quando falam de Palocci e de Meirelles.
Meirelles faria grande diferença na chapa de Dilma, no ponto de vista de alguns grandes empresários e financistas? Melhor Meirelles do que outros nomes que estão no noticiário. Mas não é possível saber se faria diferença, diz a maioria. Esperam ainda examinar o pacote completo.
Querem saber qual o grupo que de fato acompanharia Dilma no poder. Como será escolhida a diretoria do BC? Qual o teor de populismo de sua campanha (o que pode enervar a praça financeira e causar tumulto)?
Quase todos eles, porém, parecem não acreditar em mudanças essenciais, venha Dilma ou o ainda inefável José Serra. Estão mais preocupados com problemas de fundo do país (na visão deles) ou com interesses bem setoriais. Acham que tanto de um lado como de outros podem surgir boas e más ideias.
Podem não gostar de intervenção estatal, como o governo colocar muito dinheiro bancos públicos. Mas tais pessoas parecem bem mais tolerantes que seus porta-vozes ideológicos, muita vez economistas de departamentos de pesquisa.
Chega a ser engraçado ouvir um grande banqueiro nacional dizer que o real forte é mesmo um problema, que o país não pode descuidar da indústria, coisa para a qual seus economistas, "radicais", não ligam muito, embora ele mesmo considere difícil arranjar uma solução. Ou ouvir a tentativa de um executivo-mor de um banco de convencer seus economistas de que o ativismo dos bancos públicos na crise teve lá seu lado bom. Note-se que a tolerância a "heterodoxias" aumentou depois do vexame catastrófico da finança mundial e seus ideólogos, em 2008.
De uma dúzia desses empresários ouvidos recentemente fica a impressão de que a eleição ainda é uma névoa. Dinheiro de campanha haverá para os dois lados. Essas pessoas querem saber mais, querem detalhes e nomes e acham que ainda não há nenhuma carta séria na mesa.

vinit@uol.com.br


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